29 maio 2019

LISBOA CIDADE - PALCO DE BELEZA / TAMBÉM ASSIM SE FAZ CIDADE, NO RIO… A CAMINHO DO MAR

LISBOA CIDADE - PALCO DE BELEZA
Maria Celeste d'Oliveira Ramos - arqtª-paisagista

Como é bela a velha cidade que parece mais feliz quando algo de novo e grandioso nela se manifesta e faz com que todos os seus habitantes desçam colina a colina quais regatos que desaguam no grande rio a ver o que nele acontece de fantástico e do rio, mais uma vez, se enamorem.

Feliz é a cidade que se situa à beira de estuário de Rio, matéria-primordial de Civilização, como foi a do Nilo que deu origem a uma das mais inteligentes e perturbadoras das civilizações antigas, dela perdurando até nós fábulas, não apenas de Cleópatra, mas essencialmente das suas pedras transtornadas-arte-religião-cultura-história-saberes-mistério, hoje continuando a ser, não apenas local mítico, mas permitindo, ainda agora, desenterrar do mar esfinges após esfinges, quais "MonaLisa" do passado, pedras sagradas da sabedoria da beira-do-deserto e tal que a sua grandeza nunca se apagou, sendo hoje local de peregrinação-turística na demanda de saberes antigos e de mistério nunca desvendado.
Fig. 01

Fig. 02

Feliz Lisboa do lendário rei de Ítaca que a baptizou e onde, para além do número sagrado - o sete - o número das suas colinas, mora gente que ama a sua cidade e o seu rio e o veneram tão só para, inocentemente e alheados da história, pescarem o mais humilde peixinho ou assistirem ao grandioso espectáculo dado pelos mais belos e gigantescos veleiros – nas Tall Ships’ Races 2006 - engalanando o Rio e a Cidade que forneceu, para agradecer a sua visita, o clima mais esplendoroso e até o vento necessário e a Luz, sempre a luz desta "Lusitânia" para que pudessem brilhar mais neste estuário maior da Europa, de água sempre corrente e sem gêlo e de imensa biodiversidade, parte da Rede Natura do continente e património do mundo, porque este mundo moderno que somos "partiu daqui."
Fig. 3 e 4


Bela a cidade com o rio como paisagem, com escala para ser detectado pelas lentes inquisidoras dos satélites mundiais, paisagem única e mítica de onde partem e onde aportam constantemente todos os navios do mundo.
Feliz o habitante que pode olhar o rio da janela de sua casa ou da rua do seu bairro ou que, em dia de descanso, desce até à beira rio e, sem saber, procura "as Tágides minhas" que o poeta desencantou dando ao país memória eterna e eternizada porque, também ele, um dia daí partiu para longe e regressou com palavras-escritas da sua epopeia que se confunde com a epopeia do país de marinheiros e é raíz, na sua forma-renascentista-original, que continua a ser essência lusitana.
Feliz a Cidade-palco de beleza e de história de toda a humanidade, para sempre a capital do primeiro gesto que tornou o mundo global e redondo ao desbravá-lo, correndo mares fora e dando identidade a continentes até aí desconhecidos.

Como que reavivando essas memórias, mais uma vez, pelas águas foi agora materializado esse passado comum com o esplendor exibido pelos Veleiros mais belos do mundo lembrando aos homens que é a PAZ entre eles que é preciso anunciar a todas as gerações para serem mais humanos e felizes, porque já todos os mares foram desbravados e conquistados como que anunciando que falta apenas conquistar o Homem-Global.


Feliz o Rio que tal "mensagem" transporta hoje, como transportou nas brancas velas pandas com a Cruz de Cristo, Ele, que veio à Terra anunciar o Amor e a Paz.
Fig. 5

Fig. 6

E assim se fez e continua a fazer cidade-cidadania-global, nas águas do rio que corre doce e tranquilo para o mar.
Mítica Cidade de mítico Rio e de gente que um dia sonhou abrir as estradas do mar para homens e continentes e semear aquilo em que acreditava.

PS – Um lisboeta entrevistado hoje, à beira rio, para o noticiário televisivo das 20:00, disse que estava, por um lado, maravilhado com o que via mas que, por outro, lamentava olhar os Veleiros e nada saber deles e muito menos da história do país do tempo dos descobridores.
Fica aqui esta "nota triste" de uma cidade que esteve "feliz" por alguns dias de emaravilhamento pela beleza dos "visitantes" do seu Rio.
Maria Celeste d'Oliveira Ramos
Lisboa, bairro de Santo Amaro, 23 julho 2006


Fotos 1 a 6 - M.J.Eloy – Tall Ships’ Races 2006, Tejo – Lisboa
1. Doca de Alcântara e Navio Escola ‘Sagres’, 2006.07.21
2. ‘Sagres’ , Tejo, Lisboa
3. ‘Europa’ - detalhe
4. ‘Amerigo Vespucci’ - detalhe e Ponte 25 de Abril
5. ‘J. S. De Elcano’, Tejo, Lisboa
6. ‘Stravos S Niarchos’, Tejo, Lisboa


TAMBÉM ASSIM SE FAZ CIDADE, NO RIO… A CAMINHO DO MAR
Maria João Eloy - arquitecta
Fig. 7

Fig. 8

 Fig. 9

Fig. 10

Fig. 11

Fig. 12

Uma doca de acessos controlados,
de seguranças discretamente armados,
pede cartões na suspeita de identidades.
O festival transborda o rio para o cais,
num deslumbre de objectos pesados,
etereamente flutuantes.
A água plena de utilidade.
O Sol explicando-se melhor.
A escala ignorada todo o ano.
Nós sufucando de crise e inanição.
Eles inchados de soberba e precisão.
Governados humilde e habilmente.
Emprestados ao bulício citadino.
Ignorantes da sua administração.
Tradições de antanho, perícias tamanhas.
Azuis, brancos, pretos e amarelos.
Solidariedade intergeracional.
Proposta para prémio da paz.
108 metros, 100, 50, 10 e tais.
Velas, mastros, cordames.
Um arrepio ao desfilar da Sagres.
Um não sei quê de brio.
Que bem vão em formatura.
Da proa à popa que longe fomos.
Hoje deslumbrados restamos.
A guerra já aqui tão perto.
Eles afinados, emproados.
Nós preocupados com o chaço velho.
A cidade engalanada, mascarada.
Bem usada e abusada.
Vida, cultura, desporto.
Foguetório, homenagens.
Faça turismo por cá.
Dividendos vários.
Dentro de dois anos, mais haverá.

Também assim se faz cidade,
no rio… a caminho do mar.
Trata-se do 50º aniversário
da Regata dos Grandes Veleiros.
Prontos a zarpar, que se faz tarde.


Maria João Eloy
Lisboa, 23 Julho 2006

Fotos 7 a 12 - M.J.Eloy – Tall Ships’ Races 2006, Tejo – Lisboa
7. Largada no Tejo da Regata dos Grandes Veleiros, 2006.07.23
8. ‘Amerigo Vespucci’, Lisboa e Ponte 25 de Abril
9. ‘Christian Radich’, Tejo, Lisboa
10. ‘Europa’ – detalhe
11. ‘Dar Mlodziezy’, Tejo, Lisboa
12. Acesso ao cais da Tall Ships’ Races na Doca de Alcântara e ‘Sagres’

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