I CONGRESSO NACIONAL DE
ECONOMISTAS AGRÍCOLAS
(Lisboa, 27-28-29 Maio -
1993)
SECÇÄO I
- Economia do Sector Agrícola -
Condicionantes ambientais
TEMA - AMBIENTE - HABITATS - HABITANTES
A G R I C U L T U R A - AMBIENTE
ECOLOGIA - DESENVOLVIMENTO
Maria
Celeste d'Oliveira Ramos
engª.silvicultora
- Arqtª-paisagista Fev. 1993 I I CONGRESSO NACIONAL DE ECONOMISTAS AGRïCOLAS
SECÇÄO I
- Economia do Sector Agrícola
- Condicionantes ambientais
TEMA -
AMBIENTE - HABITATS - HABITANTES
A G R I C U L T U R A - AMBIENTE
ECOLOGIA -
DESENVOLVIMENTO
Mª.Celeste d'Oliveira Ramos - DGHEA
I
N D I
C E
000 -
Dados curriculares
00 -
Resumo da comunicaçäo
0
- Introduçäo
1
- Ambiente - Paisagens -
Qualidade de Vida
- O que foi e o que é
O espaço - o tempo - o modo
2 -
Habitats - Habitantes
- Povoamento
3 -
Agricultura - Ambiente - Desenvolvimento
4 -
Coisas para pensar antes que o tempo ultrapasse o tempo ...
ou, ...
uma AGENDA 21 e uma Carta da Terra com
Eco ... em
Portugal
5 - Como
se se pudesse concluir
000 -
DADOS CURRICULARES
Licenciaturas em engenharia silvícola e em arquitectura paisagista pela Universidade Técnica de
Lisboa
Assessora
Principal da DGHEA, do Ministério da Agricultura
- Mais
de 20 anos de prática profissional em planeamento e projecto de ordenamento
geral das paisagens urbanas, rurais e de protecçäo, bem como de sistema viário
-
Representante dos organismos onde trabalhou (Min.do
Ultramar-C.M.L. - Gabinete da Área de Sines - D.G. Turismo e
Min. da Agricultura) em grupos de trabalho interministeriais, em
conferências e congressos nacionais e internacionais, com apresentação
de comunicações, nomeadamente
em confªs internacionais sobre o ambiente
-
Missäo Especial de trabalho em Cabo Verde durante 180 dias
em 1965/66 e em 1983
-
Formaçäo técnica específica em planeamento urbano e em Turismo em Espaço Rural
(T.E.R.)
-
Representante da DG Turismo a confª. internacional sobre AMBIENTE E TURISMO sob
patrocínio da CEE – em Itália – Bressanonne (Brixen-Tirol do Sul anexado por
Italia)
-
Representante da DGHEA à 1ª. Confª. do Grupo de Trabalho de Agricultura e
Ambiente CEE/ONU - Genève 1991 e 1993
-
Representante da DGHEA na Delegaçäo
Portuguesa do Grupo de Trabalho FAO/CEE - sobre as relaçöes entre Agricultura
e Ambiente (2ª Sessäo 24-28 Maio 1993)
-
Membro do Grupo de Trabalho do Ministério da Agricultura
para preparação do Dossier CNUAD - Temas de agricultura, desertificaçäo
e perda de solo da Agenda XXI
- Membro
da Delegaçäo Técnica Portuguesa à 4ª. Confª.
Preparatória da CNUAD - Nova York- fev 1992
-
Representante da DGHEA no Grupo de Trabalho do
Ministério da Agricultura para
Implementaçäo das conclusöes da CNUAD-RIO/92
- Membro
de Grupos permanentes de Acompanhamento a PDMs (181)
-
Participante de uma das equipes seleccionadas para o Projecto de Urbanizaçäo do Martim Moniz – Lisboa (júri formado pelo arqtº Távora e eng Lamas e prof
C-Cabral)
- Membro
do Comité Permanente "Historical Landscapes", da Federaçäo
Internacional dos Arquitectos Paisagistas - IFLA - Grupo e Trabalho criado por Hans Dorn e eu
Posterior
convite para vice-presidente da I.F.L.A.
- Membro
da Direcção do Instituto D.Dinis (IDD - Ecologia e Desenvolvimento) formado
pelo prof Gonçalo Ribeiro Telles – e publicação de boletim
-
Presidente do Conselho Fiscal da Associaçäo Portuguesa dos Arquitectos
Paisagistas – APAP e Fundadora com o prof Caldeira Cabral e colega Maria José
Festas
-
Foi representante da APAP (Lisboa) e da
Associaçäo de Protecçäo do Património Natural e Construído (Porto), quando
da Presidência Aberta do presidente
Mário Soares à Região Metropolitana de
Lisboa – com atravessamento do Rio Tejo pelo percurso por onde seria construída
a 2ª Ponte sobre o Tejo - A Ponte Vasco da Gama
00 -
RESUMO DA COMUNICAÇÄO
É muito
longa a história da humanizaçäo do espaço físico denominado Portugal e tal que,
ainda hoje, nem a arqueologia conseguiu descobrir todos os segredos que constantemente säo
revelados até pelo simples gesto de abrir um buraco para
implantar uma estrada ou mesmo postos a
descoberto por acidentes naturais
Como se
este solo fosse constituído por horizontes
de História que se foram acumulando e
soterrando com os tempos e que parecem, sem que
se procure, querer revelar os milénios de vida que por aqui
passou como que a fechar um ciclo apesar
de, para a maioria dos actuais habitantes, o país ser
apenas o que é visível
acima da linha de terra
E
exactamente porque é longínqua a sua humanizaçäo, nela assenta e se explica o que hoje é, e, porque mais uma
vez atravessa uma fase extremamente importante
de viragem na sua
história incluindo da economia
e, nesta, a componente agrícola
de origem milenar, decidiu-se neste longo escrito ir
procurar as ORIGENS
Desta
forma, e porque o tempo histórico que está em causa, já não é apenas o de uma
Civilização, mas um tempo planetário,
faz-se um percurso - no espaço - no
tempo - no modo - relatando
fases dessa humanizaçäo, relembrando situações determinantes no seu processo evolutivo
recorrendo, em paralelo, a certas
situaçöes mundiais com que estará relacionado
e baseadas, também, na informaçäo de documentos da CNUAD 1992, já
que se trata também do I
Congresso Nacional de
Economias Agrárias
integrando condicionantes do Ambiente
Especificamente quanto
ao território nacional,
faz-se uma viagem
pelas paisagens que entendemos
responsáveis pela identidade nacional, reforçando certos indicadores que
permitiram ao país ser possuidor
de um digno B.I.,
que lhe autentica uma personalidade com
direito a reivindicar a sua
continuidade como unidade não apenas
geográfica, mas também bio-física,
socio-económica, cultural, religiosa
e paisagística, distinta e própria, assente no território físico - a terra mãe - a sua estrutura óssea
Focam-se
aspectos relevantes da Paisagem e do Ambiente
- das Cidades e
lugares Históricos - e das
paisagens agrícolas - sua importância no equilíbrio do binómio
continuum naturale -
continuum construído
e como
as mais recentes formas de intervença nas paisagens conduzem a um processo de deficiência de acumulaçäo de água no solo que
é obrigada a correr directamente para o rio ou para o Mar, de destruiçao dos
ecossistemas, da biodiversidade e da Qualidade do Ambiente, abrindo
inexoravelmente a porta à desertificaçäo biofísica que já alastra
pelo menos por 28 concelhos, em
ritmo avassalador comprometendo muito mais do que a própria agricultura, indo mais fundo comprometendo as
áreas responsáveis pela fixação da água
nos solos em todo o território -
água que é vida e um bem escasso - ao mesmo tempo que é índice de
evolução civilizacional e motor de
desenvolvimento
Termina-se personalisando as funçöes
socio-económicas, culturais e ambientais das áreas agrícolas incluindo as de montanha, independentemente do seu peso
económico
0 -
INTRODUÇÄO
Tomando
como valor fundamental da Identidade
Nacional o território na sua
estrutura ÓSSEA, e em perigo de ser
esmagada, säo focadas situaçöes
de ordem ecológica, paisagística
e histórico-culturais, com
base em princípios filosóficos
e de
técnica de ordenamento sem os
quais a real manutenção da identidade do
património natural (e construído), não pode subsistir por muito
mais tempo, como o prova o deserto que está à porta trazido
por mão humana, também para
Portugal e de forma já preocupante
(cartografia da FAO assim o
demonstra)
Considerando que a
economia do país näo pode assentar na
explorabilidade do património
delapidado ou exausto, foca-se concretamente de que património se
trata, onde e
como estão as PAISAGENS a
ser descaracterizadas e
tornadas FEIAS anti-económicas,
anti-cultura e
anti-identidade
Considerando
que a Conservaçäo do Património Natural e Arquitectónico é já muito mais
importante do que da própria língua como Identidade Nacional (já que tanta
língua "universal" está à
disposição dos homens para poderem comunicar com todo o mundo),
insiste-se que é na procura da real
qualidade das paisagens e do ambiente,
que näo conhece fronteiras, onde reside hoje o grande desafio
ao
Homem Universal
Deste
modo, nesta comunicação referem-se algumas das mais drásticas situações que
conduziram à destruiçäo de áreas
agrícolas e naturais,
que em tão
curto espaço de tempo aceleraram a
desertificação deste país situando-as, sobretudo, nas décadas de 70 e 80
(entrada na CEE e EU)
Em face do exposto, considera-se que a única fronteira do Homem
está na diferença de ser capaz
de parar a destruição do
Planeta, mesmo à porta de sua
CASA, porque só há um Planeta Terra, sem fronteiras ambientais,
Só há
uma casa e um Templo (Comuns) - A TERRA
onde vivemos, a qual, mesmo
destruída, continuará a girar
eternamente à volta do Sol, indiferente ao Homem e à forma como resolve os seus
problemas economicistas e produtivistas, assemelhando-se cada
vez mais a uma paisagem lunar
O
Planeta Terra, incluindo o espaço nacional, parece estar sujeito a uma espécie de
Terrorismo generalizado
manifestado,
obviamente, numa espécie de confronto e atracçäo pela morte
Da
guerra tradicional, o homem passou à forma de terrorismo que bem depressa se
infiltrou näo só no espaço
físico urbano, como
no espaço político e social, internacionalizando-se
Näo contente ainda com isso o homem levou o
terrorismo à própria estrutura dos aglomerados
do solo, pulverizando-o,
como que a testar
o conhecimento das partículas
mais ínfimas ou
atómicas, desafiando a sobrevivência das terras na sua estrutura física
específica (cartografia dos solos física e química e microbiológica)
As áreas
físicas desertificadas, ou de outra
forma destruídas, aumentaram nos
continentes ricos e pobres, aumentando paralelamente o número de vítimas
humanas e também dos reinos animal (terrestre e aérea) e vegetal
Como se
não bastasse, o homem inventou o dopping para si mesmo e, a sida, chegou a todo
o lado e gente, como se a célula mais íntima do ser humano sofresse o maior de
todos os desafios de sobrevivência – sobressaltos na saúde da Terra e do Homem
Que um
desportista queira atingir melhores marcas dopando-se, ou se alguém consiga o
sonho, a ilusão e a fuga ao real através da droga, ainda são
atitudes de foro individual, que
embora com reflexos sociais, diz respeito essencialmente a cada um, por
mais que sejam fruto da sociedade em que
se vive
Porém, o
dopping chegou às plantas e animais selvagens e domésticos e dos quais nos
alimentamos ainda, pelo que esta espécie de
terrorismo alimentar, vai desde
a introduçäo directa de cianeto nos tanques transportadores de leite (França), ou nos
chocolates, à intoxicação dos solos
e da água (poluiçäo difusa), pelos agrocidas, terminando na
intoxicaçäo dos animais que nos servem
de alimento, com substâncias dopantes
Tudo isto
faz pensar que já näã somos livres
de nos
doparmos e drogarmos
individualmente, já que a INDÚSTRIA
UNIVERSAL se encarrega de nos poluir o
ar que respiramos, a água dos rios que bebemos e do Mar onde nos banhamos, como
polui o solo que é produtivo ou o
destinado a áreas protegidas ou mesmo o que está construído
com cidades, e todo
ele sujeito a chuvas ácidas como
se agora OU TUDO OU NADA -
OU TODOS OU NENHUNS , tivéssemos de estar sujeitos a esta forma
"civilizacional" de ter
Qualidade de Vida e de Ambiente,
em forma de morte "anunciada" ou "em directo"
Se a
esta forma de terrorismo das
paisagens naturais e da sua
produtividade, adicionarmos a do terrorismo
da construçäo urbana bem como o da
destruiçäo do património arquitectónico nas vilas , aldeias
e cidades, ou o património monumental,
seja ele de estaçöes arqueológicas, seja
de monumentos civis
ou religiosos , resta
perguntar o que fica das
paisagens que identificam Portugal
como Portugal, já que há
províncias, ou grandes regiões, que
não são identificáveis senäo por documentos "históricos" bastando
para ilustrar o que se
afirma, citar o litoral
algarvio e/ou a região metropolitana de Lisboa (de onde colheu inspiraçäo), como se a "BRANDOA"
fosse um estilo que se desenvolve como
as hifas de um fungo para o qual
não há pesticida (fungicida) eficaz e, como
se näo bastasse, este
"estilo brandoa" está no litoral
de norte a sul e já conquistou o interior (por mais que eu lamente mas compreenda e aceite o
“estilo maison” – pois me merece pelo menos o carinho de perceber qie não tendo
sido ajudados por quem devia, fizeram com orgulho a sua gabitaçao, sinal de ter
progredido e mostrando “o direito á habitação” como é, aliás, contemplado Na
constituição portuguesa
O caos
do desenvolvimento celular manifestado pela
terrível doença que é
o cancro e que a arqueologia
encontrou em ossaturas humanas de milhares de anos
de idade, como eventual "indicador" do caos original da Origem
do Universo Cósmico, manifestado no corpo humano - que também é
Terra - parece querer
revelar e desocultar as mais diversas
e modernas formas desse caos, atingindo desde a ossatura das
paisagens, dos seus habitats e habitantes (e/ou das suas "unidades orgânicas"), até à mais ínfima célula viva, animal, vegetal ou humana, que a engenharia genética violou a ponto de já levar os
cientistas a por problemas de Ética relativamente à VIDA
Há que
encontrar uma Ética Planetária
Resta saber
- e explicar - que contribuição
consciente cabe ao Homem
na construção deste caos
e deste vazio e como redefenir
ECONOMIA - AMBIENTE - QUALIDADE DE VIDA -
FRATERNIDADE - IGUALDADE e, até,
DEMOCRACIA e LIBERDADE para, finalmente,
ser credível como encontrar uma II Renascença (chama-se-lhe NOVA ORDEM), onde caibam
finalmente OS Homens, mas que seja difícil haver espaço para mais
teomaníacos
São
necessárias novas utopias para que o homem renove o seu pensamento
humanista e h o l í s t i c o
a ponto
de poder mudar o gesto
porque a
Terra, essa mudará com certeza indiferente ao homem, no seu jogo
eternamente cósmico
Apetece
dizer que temos de voltar a ser Panteístas
1 -
AMBIENTE E PAISAGENS
O que
foi ... e
o que é
O
espaço - o tempo - o modo
Uma vez ouvi uma pessoa muito querida dizer com
uma voz cheia de ternura: "tudo o que acaba de nascer
é tão pequenino e tão indefeso" –
Disse-o minha sábia mãe
Como ela, eu diria que Portugal é täo pequenino e
está, hoje, tão indefeso e à mercê Deus sabe de quê, muito embora
possamos recuar até ao ano de 1095 para
determinar a sua idade como unidade política independente, logo que o Conde D.
Henrique de Borgonha recebeu, como presente
de Afonso VI de Leäo e Castela,
a Portucalensis Terra, que se
alargaria e estabeleceria como definitiva (e como é hoje),
nos 250 anos que se seguiriam, nascendo assim uma
unidade territorial e política das mais estáveis da Europa e que é o meu
pais de gente grande e inteligente e gentil que arregaçou as mangas e o
construíu, que se matou para o defender dos invasores – para deixar inteiro o
ser legado
Será que
também se tornou indefesa por ser tão velha?
Citando o Épico
do meu país – Luiz Vaz de Camöes
La na
leal cidade, donde teve
Origem
(como he fama) o nome eterno
de
Portugal
Esta
identidade política sugere ao mesmo tempo uma unidade política e geográfica,
apesar da natureza das
fronteiras terrestres não serem
tão nítidas, e naturais, como o são a sul e a oeste já que, considerando o
aspecto da sua geo-morfologia,
o país
näo pode ser considerado como uma unidade geográfica fechada (In:
Orlando Ribeiro)
Agarrado assim à outra unidade peninsular e dela
interdependente nos mais variados
fluxos tem, no entanto, um litoral
sem equivalente na Península Ibérica, apesar de só lhe
caber uma pequenina parte dos 7/8 de periferia de Mar que a abraça,
correspondentes a 943 Km, dos quais 560 Km são de costa plana e arenosa
Esta macro-unidade
geográfica peninsular, situada
na zona sub-tropical, personaliza uma passagem entre
dois Continentes - o da Europa Húmida, existente no norte da
Península, e o das Paisagens
norte-africanas, representadas no Sul
Portugal
fica inteiramente situado na Zona da Ibéria de Veräo Seco
Como outras
regiöes do Mediterrâneo, a Península
articula-se em áreas alongadas no
sentido E-W e estreitas no sentido N-S,
articulação que vai reflectir-se no clima e na paisagem natural e
humana, que dele dependem
Também a
Reconquista da Península, pelos Cristãos, se fez de norte para sul, tendo sido breve a ocupação
árabe no norte, enquanto que no sul
se prolongaria por 5 séculos pelo
que, às condiçõs
naturais, há que sobrepor as históricas para compreender as paisagens e a evolução da sua humanização –
tendo sido Silves, sede de Califado
Considerando a
complexidade da geologia e do
relêvo, o pequeno continente peninsular é formado por regiöes contrastando
nos mais variados aspectos que se vão modificando da periferia
para o centro, apresentando ainda o grande contraste
derivado da influência provocada pelo Atlântico e o Mediterrâneo, (e ainda do
vento polar ártico e continentalidade e mesmo a Meseta) dando à Península
uma realidade multiforme e uma personalidade geográfica
às regiöes ibéricas,
de que Portugal
se destaca fortemente ao
analisarmos o seu relêvo
geral cujos declives se orientam aos 4 quadrantes mas
com grande predominância para
oeste e sudoeste,
em estilo de miradouro
todo virado para o Mar ... e para
sul
É
portanto a partir daqui que paisagísticamente
Portugal se começa a personalizar e a
destacar do resto da Península, se
considerarmos toda a multitude de
contrastes climáticos e microclimáticos, derivados directamente do
seu relêvo e da respectiva orientaçäo
com a eleiçäo que fez ao Mar
E porque
situado na ponta mais ocidental da Europa (aqui onde a terra acaba e o
Mar começa) e de toda a
terra habitada, é
o primeiro país
a fazer frente
aos ventos marítimos, que embora impedindo a instalaçäo
de vegetaçäo que noutros países do continente habita maiores
altitudes, é por
outro lado responsável por
lugares de rudeza
selvagem como o Barbaricum promontorium (Cabo Espichel) e
o Promontorium sacrum (Ponta de Sagres), de beleza sem
igual sem deixar de ter a 2 mil metros e
que o vento ainda permite – o “cervum” – ecossistema de montanha
A Beleza
da Natureza Rude e Selvagem é tão apreciada pelo
homem como um "monumento", pelo que há que não
"poluir", como o fez o Turismo na Ponta de Sagres, parecendo uma
"feira popular" sem povo ou a zona norte do cabo de Sines (sinus dos
romanos-sines dos árabes)
Este bocado
de Terra no fim do Continente e mais
perto do Mar, situado
do lado de onde sopra o vento, se por outro lado tem
as "costas" abrigadas do que pode soprar de nordeste pela
barreira das montanhas, por outro, foram
os Cantábricos a porta de entrada da vegetação do interior europeu
Pela sua
situaçãoo num centro geométrico do Mundo, pela influência dos
polos climáticos atlântico e
mediterrânico, continental e alpino e pela exposiçäo da sua tão multi-mini-facetada fisiografia, e
embora de pequema dimensäo, este país é
um
grande
mosaico paisagístico
Apenas numa área de 89 060 km2 abriga as
mais belas e variadas paisagens, como se de um grande e verdadeiro
Continente se tratasse
Este
grande mosaico geográfico e
climático foi abençoado pelo sopro
do vento carregado de sal mas também de humidade do Mar que ao
embater nas montanhas lhe provoca as
chuvas, em certos locais de valores
muito superiores aos europeus e lhe
permitiu também que fossem
fertilizadas com as mais variadas Associações de plantas de grande
riqueza florística, com representação
de espécies europeias-centrais,
europeias-ocidentais, mediterrânicas, ibéricas, ibero-marroquinas e macarronésias, podendo-se dizer que 2/3 da
flora portuguesa deriva da europeia e
que 1/3 é comum à flora da Península, África e
ilhas atlântidas (Açores, Madeira, Canárias), passando por espécies como as
piteiras e figueiras da India, originárias dos planaltos secos do
México, para aqui trazidas no séc.XVI, que ficaram por tão bem se terem adaptado, atestando mais um índice climático indicador da secura do Verâo mediterrânico, clima que
lá para o norte, e nas “maceiras” há produção agrícola que os homens
descobriram que nada há na terra que não seja riqueza desde que se olhe e veja
Assim,
embora a composiçäo florística se diferencie também à medida que varia a
qualidade e o tipo de solo, aliada à alteraçäo provocada pelo próprio homem, aqui ocupando a terra de
há milénios e com alterações mais
profundas do que as operadas na Europa Central,
(In: Orlando Ribeiro), se por um
lado é difícil reconstituir a paisagem
primitiva, apesar de estudos de polén
fóssil que demonstram ter aqui
havido coberto vegetal mas já sem vestígios, por outro, a paisagem
portuguesa está ainda cheia de
riqueza com o que ainda lhe
resta de indicadores demonstrativos da variabilidade dos seus microclimas e dos seu genuínos habitantes
vegetais, ou seja, da sua imensa
biodiversidade de que nenhum país do mundo, de täo pequena dimensão, se pode orgulhar
passando pelo Vale Glaciar da Serra da
Estrela que exibe uma espécie arbórea que da última glaciação resolveu descer e
ali habitar – o Vidoeiro
E porque
o extraordinário e variado clima o permitiu, a
par da vegetaçäo mais primitiva, portugueses de todas as
classes sociais que viajaram pelo
mundo, para aqui trouxeram a maior variedade de plantas que enchem
Parques e Jardins, públicos
ou privados, verdadeiros Jardins
Botânicos e Arboretos,
como que a demonstrar que
também aqui cabem climas
e plantas de todas as latitudes
do Globo Terrestre
Situado
no local da cruz formada pelo eixo do Atlântico e do Mediterrâneo, Portugal é
depositário dos mais ricos valores naturais, a par dos mais antigos vestígios arqueológicos
da Terra, ao mesmo tempo que
é ponto de encontro das mais antigas
Civilizaçöes do Norte e do Leste, sejam Celtas ou as do Mediterrâneo, defensoras do pensamento e de
técnicas que são hoje património europeu
Também a longa relaçäo com o Mundo årabe
permitiu aos habitantes deste país
aprender a lidar melhor com o clima mais adverso e a
água (e
a rega por gravidade e a Nora), e
a abrir caminhos para que, através dos
seus imensos Oásis, se penetrasse na África Negra
País humanista
universalista, à unidade política e geográfica, acrescentou a unidade religiosa, esta também de cunho
mediterrânico e simbolizada quer na
paisagem agrícola pelos cereais e
vinha (o päo e
o vinho), pela oliveira (os santos óleos para
ministrar sacramentos) quer por formas de ocupar a terra com
o pastoreio (Jesus e os
pastores), apoiada na paisagem construída com
a sua infinidade de Igrejas e Sés, Capelas, Igrejinhas e Conventos,
no ponto mais alto dos montes, assinalando-os, ou nos mais recônditos
espaços das paisagens, já que igualmente foi "invadido"
pelas mais variadas Ordens Religiosas
Dos povos pastores podemos considerar Viriato o nosso mais ilustre e
directo Ascendente (a Cova de Viriato)
A
PAISAGEM É UM TEXTO
LEGíVEL
Não é só
nos livros de História pintados com palavras e iluminuras que se pode ler a história de um país, mas sim também
em cada "pedra"
erguida
entendendo pedra como cada gesto de
humanizaçäo-transformaçäo das paisagens
que as souberam interpretar acrescentando-lhe fertilidade e Beleza, essa
infinita fome do espírito
Olhar Portugal, e visitá-lo,
é aprender Geografia
e História integradamente. É aprender
a Cultura das Civilizaçöes que
por aqui passaram, misturadas
neste pequeno cadinho e que deu a
paisagem e o povo que temos sido
Terra de
contrastes onde todos os povos aportaram e se
fundiram deixando conhecimento e onde todas as religiöes puderam
exprimir-se como se o natural e o humano
encontrassem espaço para desenvolver vigor
híbrido, é toda ela sagrada, ou terá lugares tão especiais
como Sintra, por exemplo,
que já possuíu dos Arboretos mais importantes da
Europa pela variedade e riqueza das espécies, e agora em total degradação,
local de que Richard Strauss escreveu um dia:
"Hoje é o dia mais feliz da minha vida
Conheço a Itália, a Sicília, a Grécia e o Egipto
e nunca vi nada que valha a PENA
É a cousa mais bela que tenho visto
Este é o verdadeiro Jardim de Klingsor e,
lá no alto,
está o Castelo do Santo Graal
Foi deste
país, e neste Ambiente onde nasceu Camöes, que
tratou este povo como heróico e
criador e por onde todas as grandes civilizações antigas passaram
deixando
rasto de dinossauros,
que um
dia outros partiram para os locais mais distantes do Planeta, para neles
espalharem e integrarem o que sabiam (e até miscigenando-se como outrora o
tinham feito na pátria), para novo conhecimento trazerem e aqui ser concentrado
e renovado mas, desta vez, não como um local centro de uma
cruz, mas como centro de irradiaçäo de Estrela (Serra
da Estrela) que dá luz (Queluz = aquele que Luz), ao Velho
Continente, tão escurecido por essa Idade Média
Talvez que
devido a toda esta riqueza acumulada
em milénios de realidades
vividas e argamassadas em cultura e saber, pelo
clima generoso e o céu azul transparente para deixar ver as estrelas sem fim,
pelo povo generoso, tranquilo e
sábio, a Europa que sempre foi
e ainda é fria e cinzenta, logo
que livre das Guerras e das suas misérias e de novo enriquecida
(materialmente), aqui mais uma vez veio
beber algo, descobrindo este espaço, dom amável do céu, e dele fazendo local de
Turismo privilegiado na década
de 60, como aliás já o fizera com a grande civilização
agrária Celta ou, mais tarde, durante a Guerra Santa
Portugal sempre foi um país de vai-vém, espécie
de Portus-(cale),
mas que
agora não é mais do que um disforme e
pobre porto de mercadorias cuja
Qualidade e substância
socio-económica e cultural merecem ser reavaliadas, para recuperar
a sua antiga grandeza de eterno local
de encontro
- ou grande Forum do
Mundo
3 -
HABITATS-HABITANTES POVOAMENTO
Apesar
de já ir longo o escrito, como paisagista - e porque a beleza das
paisagens é
"comestível" e também
rentável económicamente, näo resisto a continuar esta viagem lendo e
recordando algumas das mais belas, e férteis (ou eis-férteis), paisagens do
país, abandonadas à sua sorte e a muito improviso
A
paisagem humanizada que se oferece aos nossos olhos teria começado há 6 000
anos quando, no Neolítico,
aqui convergiram povos pastores vindos das bandas do Danúbio e do norte do
continente africano, e outros
Vivia-se
da caça e da pesca e do gratuito que a natureza
oferecia, não sendo graves as
alterações provocadas já que grande é a
força de regeneração natural (ou era)
Poder-se-á assim
dizer que todo o território estaria
coberto de carvalhos caducifólios
no norte e marcescentes no sul
do Tejo,
entrecalados de matas ripícolas
de freixo negrilho, choupo e
amieiro
Nas margens
aluvionares dos cursos de água
haveria certamente paisagens de
grande riqueza e fáceis de explorar,
vivendo-se da recolecçäo mas,
algo obrigou o homem deste espaço geográfico
a subir para as montanhas e aí
fazer-se pastor, lá para o ano 4 000
antes de Cristo
Se por
um lado a História e a Arqueologia falam da riqueza agrícola obtida da terra
por grandes civilizações pré-industriais, tal
como a da Mesopotâmia de entre o Tigre e o Eufrates, região de tal modo rica e mítica que se diz ter por aí sido o Paraíso de Adäo e Eva, por outro lado, a mesma história e
arqueologia informam-nos de que há 30-40
mil anos, antes do homem devastar a terra para a agricultar, já tinha extinto 70 a 100% dos
grandes mamíferos de cuja acção resultaria
um excesso de herbívoros e consequente
desequilíbrio ecológico para a vegetação (In: Jorge Paiva)
A este
acto primitivo, mas ainda com o Planete Terra com toda a sua punjança e com
número de habitantes extremamente reduzido comparado com o de hoje (5
biliöes), seguir-se-ia a
revoluçäo-agrícola iniciando no Neolítico,
e para sempre, a destruição
dos mais complexos ecossistemas
florestais
Em
Portugal, e no mesmo período, as roças constantes das matas para o pastoreio e,
posteriormente, a exploração mineira
operada pelos Romanos (ouro das minas de
Jales) bem como a implantação de novas
culturas e formas de arrotear a terra, iria vincar a destruição das
paisagens, continuando-se ainda a desarborizaçäo com a construção de
navios a partir do séc.
XV, destruição que só seria parada
com os primeiros serviços de protecção,
datando de 1824 (In: Orlando Ribeiro)
As formações
florestais do norte do país,
de influência atlântica, são as que de origem europeia mais a sul
se instalaram, delas
fazendo parte o carvalho roble, a aveleira e o vidoeiro
branco, matas de densa folhagem e
grandes copas que a pouco
e pouco foram cedendo lugar
ao Pinheiro bravo e, mais tarde, a outras resinosas de importação (artificial) europeia, sendo o mais
importante o Pinhal de Leiria mandado
plantar pelo Rei
agrónomo para segurar as dunas que iam
avançando e, prevendo talvez, a
futura construção das caravelas, já
que os carvalhos iam
desaparecendo
Mas,
paralelamente, o mesmo clima e solo atraíriam a Ordem Cisterciense - os monges agrónomos
- por alguma razäo sem ser exclusivamente de ordem religiosa
Quanto
às Associações florestais de influência
mediterrânica, as Querci
(sobreiro, azinheira, carrasco), o pinheiro
manso, medronheiro, urze branca, loureiro, aroeira,
rododendro, loendro, etc.,etc., são
algumas das muitas espécies que vão
desaparecendo das paisagens
devido a novas estradas,
urbanizações e turismos que não integram
os valores naturais e reais das
paisagens e as transformam em eucaliptais, em golfs ou
relvados regados, desertificados de sentido ecológico, de
desenvolvimento e de
sentido estético
Apesar de mediterrânica, a oliveira mesmo no Minho
encontra lugar para vegetar
até 500 m de altitude, indo a 700
m nos vales interiores mais secos
Mas já o
vidoeiro não desce abaixo do Gerês, como indicadora da sua casta europeia
Por toda
esta milenar humanização, as montanhas
atlânticas de Portugal, sendo embora das mais chuvosas da
Europa, são também as mais pobres
em bosques, podendo-se comparar aos despidos relêvos mediterrânicos
Porém, devastar a mata para do espaço retirar
proveito, näo tem de significar
forçosamente ir direito ao
deserto
Não
haverá melhor exemplo do que o da paisagem minhota que durante séculos, e desde os primórdios do povoamento com a
construção das Citânias, só
com árduo trabalho e
perseverança dos homens
foi possível fazer produzir tal
terra, que depois de devastada no seu
coberto florestal foi erosionada
por chuvadas copiosas,
obrigando a construir socalcos,
em pedra, drenar e fertilizar para fazer
nascer o Minho de que se fala orgulhosamente e tal que,
ao falar-se dele se pressupõe na memória indicadores que nos não
permitem confundí-lo com outra
qualquer paisagem, da
mesma forma que não se confunde a da Ilha da Madeira, já que cada uma
tem a sua identidade inconfundível, têm um B.I.
Grave e
sem sentido, é a destruição que nas décadas de 70/80
näo deu à terra
alternativas, repondo-lhe equilíbrio
bio-físico e beleza, mesmo com mudança de uso, já que é da terra
que se e onde tem de viver e que ao longo de milénios se
"deixou transformar" e
permitiu a vida
Como é
possível então, e mais uma vez o exemplo
do Minho, onde actualmente só escapa Caminha, destruir,
descaracterizar, desfertilizar, desertificar até paisagisticamente, aquela
paisagem do Minho central a que a romanizaçäo acrescentou a vinha nos seus múltiplos
sistemas culturais, impondo autoestradas a rasgá-lo sem escala, com fogo e expansões urbanas
medíocres no traço e na estrutura da implantação , seja nas franjas dos
aglomerados seja já nos velhos socalcos
agrícolas pejados de arranha-céus
(veja-se pelo menos Arcos de Val-de-Vez), comprometendo
irreversivelmente a harmonia e
inter-relaçäo das 3 componentes agro, do
Minho, a bouça-várzea-prado
levando consigo a identidade ecológica,
humana e cultural, ou retirando-lhe a continuidade espacial e social, bem como
a harmonia visual, já que é o
olhar o primeiro sentido que nos
pöe em contacto com o exterior, e o
real, a beleza ou o horror
Aos Romanos,
näo foi só difícil instalarem-se
contra a vontade daquele povo aguerrido, pois que
dessa ocupação vieram novas técnicas de
drenar e arrotear os vales e de instalar novas culturas, a par da construção de pontes e de estradas, bem como o desenvolvimento do comércio entre as distantes povoações,
cuja acção viria acentuar ainda mais as características singulares de ruralidade dos mais primitivos povos
das Citânias
No dizer
do Padre Miguel d'Oliveira (cit.Edgar Fontes - a vinha
na paisagem minhota),
"a villa romana foi o molde antigo
da freguesia moderna"
Se ainda
acrescentarmos a Casa do Emigrante,
pouco então restará de
genuíno, por mais que se
queira evoluir para o futuro, mas futuro
não existe fazendo tábua rasa do
passado
O que é paradoxal é que filhos de emigrantes ao
darem-se conta do lôgro do
desconforto climático da habitação de betão, começam
a forrar o exterior das paredes com lages de pedra, sem contudo nada recuperarem, nem sequer a imagem
exterior do que fora antes
Vai-se arrazando o Minho (ou o Algarve - ou a zona
saloia de Lisboa), que não
pode ficar reduzido a esparsas Quintas
votadas ao Turismo, elas próprias
já decepadas nas suas unidades
territoriais e paisagísticas com
arranha-céus e áreas expectantes - esperando mais Brandoas
- daí resultando o caos no anterior
ordenamento e inter-relação
do continuum naturale
/ continuun construído, dando
lugar ao feio e à circulaçäo anárquica e desprotegida, já que novas e velhas ruas de cidades e aldeias
se tornaram auto-estradas dentro das cidades com cães e crianças
à mistura e, da mesma forma, estradas nacionais viraram ruas urbanas
Os 27% do solo agrícola precioso vão diminuindo e com
ele as suas múltiplas funções que não são exclusivamente de produção agrícola
A
destruição das paisagens e de usos
tradicionais conduz inevitavelmente à
destruição e desaparecimento dos povoamentos históricos - património
arquitectónico de valor
mundial - desaparecendo com os habitantes os gestos
culturais ancestrais (nem a arqueologia os salva), bem como os
mais importantes aspectos do AMBIENTE já
que este, porque também construído pelo homem, uma vez trucidado ou abandonado entra em degradação
As Paisagens Históricas e
a Agricultura não podem ser olhadas
como mero produto que entra em menor ou maior competitividade nos mercados, já que a
história-paisagem-identidade nacional, bem
como o Ambiente e a sua Qualidade,
não são produtos de nenhum mercado,
porque
näo se vende a alma ao diabo, pois assim como a alma do homem habita o seu
corpo físico, também um Povo ou País tem a
alma manifestada nas paisagens que construíu, e só disso vive o turismo
de qualidade
A grande
emigraçäo portuguesa dos anos 60 é repetida nos
anos 80 de muitos lugares do interior que vai ficando
vazio e queimado mas desta vez sobrecarregando o litoral que já não tinha muita saúde com o
que o Turismo lhe fez e vai fazendo, desde o início dos anos 80
Interessante é constatar que nesse "vazio interior" já de
instalaram mais do que 2500 estrangeiros
como se o que uns não podem querer, outros pudessem aproveitar
Actualmente
a destruição dos ecossistemas florestais já não assenta na plantação
ou sementeira de
pinheiro bravo, mas
sim no fogo que nos últimos 10 anos se intensificou
devastando-o, numa área de 1 milhäo de ha, talvez até por já haver poucos
residentes próximos ou afastados, no
interior
O
Pinheiro bravo que já não permitia grande transferência de fertilidade para
zonas a juzante (já que seriam resinosas - ácidas - a tomar o lugar que pertencia
a folhosas), passou então a dar lugar
ao eucalipto desde o Algarve a Trás-os-Montes, desde
o interior da Malcata ao litoral, subindo em altitude à procura
de maior humidade, não
formando coberto vegetal e por
isso aumentando a possibilidade de
ainda maior erosão das encostas
de pequeno ou grande
declive, eucalipto que destrói ao limite o sentido de
mata climácica, muito embora, por
ser de produção, não seja essa a sua função mas, então, há que fazer um
sério ordenamento
florestal à escala do país de
modo a que o eucalipto possa co-habitar naqueles locais onde possa vegetar sem
destruir o pouco que falta
O
eucalipto acaba
irreversivelmente com a biodiversidade
e, com ela, acaba a
variabilidade de paisagens, já que
fica uma MONO-PAISAGEM
com uma MONOCULTURA e, mais uma vez, o país de carvalhos (ou
pinheiros), passa a eucaliptal, talvez também para que australianos ao serem turistas em Portugal, não estranhem o
ambiente, já que certo turismo saloio
tudo adulterou incluindo gestos
culturais, devido a uma equívoca forma de querer ser
hospitaleiro e moderno
Se o turismo
dos nórdicos teria sido "atraído"
pelas resinosas, agora Portugal
pode oferecer paisagens de outras
origens mas, quanto mais
eucaliptal . menos golfes e, só no Algarve, estão previstos 32, sendo que 1 golf
exige a água necessária a uma cidade e fala-se tanto da desertificação
algarvia
Nunca em tantos milhares de anos, o homem devastou, nem tanto nem
täo rapidamente como agora
(2ª metade do século, com ênfase na década de 80), e até à medula, os ainda existentes ecossistemas com a denominada agricultura
industrial e, desta vez, apoiado não no coup de poing, mas em todas as
formas que as ciências e tecnologias,
(mesmo das mais sofisticadas não sei se soft se hardware), que permitiram investir na mecanização, rega,
drenagem e enxugos, na adubação e consequente necessidade de usar e abusar de
pesticidas, passando pela construção de Assuöes, culminando nas
hortas industriais,
vulgarmente chamadas de culturas forçadas,
estufas ou ...
culturas de plástico
Esta foi a machadada
final na biodiversidade,
na complexidade genética e ecológica inicial, cuja iniciativa cabe às regiões
do mundo civilizado (a
que Portugal tem medo de não conseguir
pertencer), que tudo simplificou e
automatizou apoiando com
regras, normas e até decretos, altura a partir da qual se
abriu a grande porta à mais rápida e eficaz forma de
construir desertos
A Humanidade ameaçada de
autodestruiçäo, mas onde nunca täo poucos ameaçaram a vida de tantos
Assim,
matas de protecção ou produção, florestas naturais ou biótopos, bosquetes, bocages, compartimentação das
paisagens e até das leiras (com materiais naturais ou inertes), foram
impiedosamente arrazados com os modernos e potentes bull-dozer, daí
advindo, antes mesmo da poluição difusa, um enorme e imparável terramoto para os regimes
hidrológicos das bacias
hidrográficas, pois que era
a vegetaçäo permanente e homogeneamente distribuída nas
paisagens, näo só a responsável
pela biodiversidade e fixaçäo da
água no solo, como pela näo erosäo das
vertentes das montanhas e das terras
näo importa de onde (A
paisagem do Vale do Loire é dos melhores exemplos que conheço e que igualmente
permite a conservação e desenvolvimento da fauna selvagem)
Parece
assim poder-se resumir que após a destruição no
Neolítico dos grandes mamíferos daí resultando excesso de herbívoros, se seguiu a destruição das
grandes árvores para implantação da
agricultura, (habitaçäo, estradas
e exploraçäo mineira),
agricultura que hoje näo acresce nenhuma fertilidade às terras mas que, pelo contrário,
impede as terras do contacto
com a energia fundamental do Sol (e Portugal tem mais de 3000 horas de sol por ano), com as estufas,
destrói a estrutura das terras impermeabilizando-as em profundidade com excesso de
mecanização retirando
drenagem interna (calo do tractor) ou pulverizando
os aglomerados ficando as terras
com cada vez menos vazios devido
à rega automática que não é a
melhor em qualquer lugar, não
falando na destruição da matéria orgânica, cuja perda no mundo quadruplicou em
apenas 70 anos (1882-1952-Pavan/1977)
Tudo é
artificial - químico e de plástico -
inodoro - insípido - e muito menos belo
Ora a
vegetação permanente é igualmente responsável pela maximização da infiltração das chuvas e
alimento de nascentes, de rios e de freáticos superficiais ou profundos, (e respectivo
alimento e segurança para animais e
homens a poderem aí instalar-se, ou não), não esquecendo o fornecimento natural
de húmus, a protecção contra o fogo de que as matas mixtas são a melhor, mais eficaz e económica,
e mais natural segurança e defesa, incluindo dos climas
Mas,
hoje ... o homem já arrazou 90% da
Floresta intertropical (11 milhões de ha por ano) e os 15% de território
de desertos de há milhares de anos (e o
do Sahara só tem 7000 anos), já atingem hoje
45% do espaço terrestre,
sendo ainda que as
alteraçöes climáticas mundiais
provocadas pelos humanos, incluíndo
o Turismo,
já puseram em perigo
até as mais altas montanhas do mundo como
os Alpes e mesmo as Florestas dos Himalaias
Em
consequência de tudo isto desaparecem
hoje por mês 100
espécies animais e vegetais, de que Portugal (porque não avançou na era industrial
altamente degradante da fertilidade das terras), é ainda
depositário a ponto de a Europa lhe querer
impor conservação como parte integrante
da rede europeia de protecção da
natureza e ambiente, já que a Europa
empobrece na qualidade do
ambiente, empobrecimento que se manifesta sobretudo de sul para norte no seu inexorável avanço
desertificador
Os 100 biliöes de homens que já passaram pela Terra até aos nossos dias criaram o deserto e
alteraram o clima em metade das terras emersas e destruiram
mais de 2/3 das florestas mundiais (In: Pavan)
O Homo sapiens não soube interpretar a Terra
como um Planeta em Festa para o receber, como nós fazemos para receber um amigo
em "nossa casa"
O Homo
erectus - habilis e economicus - espalhou o deserto
e a FOME
-
populaçäo super-alimentada ..............
15%
-
populaçäo bem alimentada
............ 10
-
populaçäo suficientemente alimentada .... 15
-
populaçäo mal alimentada
............ 50
-
populaçäo com fome
............ 10
(valores
de out.1988 da FAO)
Compare-se
tais valores com os excedentes da CEE
- Vinho
..... - 45 milhöes de hl = lago de 618 m de diâm. e 15 de prof.- cabe o Queen
Mary
- Gräos
..... - 16,5 milhöes de ton. = 298 m de altura = Torre Eiffel 3oo m
- Leite
em pó - 0,9 milhöes de ton. = 127 m de
altura
-
Manteiga .. - 1,4 milhöes de ton. = 124
m = Catedral de Colónia 160 m
(Excerto
de artigo sobre Reuniäo dos Ministros da Agricultura dos países membros da
Comunidade - a confª. mais longa da história da CEE - 50 horas ininterruptas
- onde se afirma "ser mais barato
pagar aos agricultores a diferença resultante das quotas e das
garantias, do que viver comprando e armazenando
excedentes cada vez mais volumosos, postos nos mercados mundiais a
preços irrisórios e em detrimento dos exportadores de países näo
industrializados" - In: Jornal
Suddeutsche Zeitung Munique 16 Dez.1986)
A forma actual de ocupar o
solo e de cultivar a terra faz
expulsar dela a água da chuva
que sobre ela cai (com a ajuda das super-impermeabilizaçöes e drenagens
nos espaços urbanos, e também rurais, com drenos e super-drenos a
levarem a água directamente para o rio
ou para o Mar), como se se sangrasse a terra do
seu sangue que é a água, que só na terra (rural ou
urbana) se mantém à custa
da existência da vegetaçäo
permanente, seja ela de Parques
e Jardins, das margens dos rios, de matas ou matos, já que a
água é um bem finito e o primeiro
factor limitante da vida, pelo
que há que armazená-la na terra,
e näo fora dela, porque nem sequer
as barragens substituem a função de infiltração e de armazenamento exercida
pela Mata (e áreas agricolas), já que solo sem vegetaçäo só tem um
destino - a mineralização - sendo mais cedo
ou mais tarde arrastado pela água
ou pelo vento e
... no Alentejo ... "o vento é livre", como livre
será em qualquer outra paisagem onde a årvore
se deite abaixo, já que a mata foi sendo
abatida e reduzida só a mera sebe,
passando a "linha ou renque de árvores", essas também ameaçadas pela
serra mecânica, à beira das estradas e caminhos ou dentro da cidade, como se a
natureza estivesse a ser
expulsa do convívio do homem, näo
importa em que lugar
Se
afinal a vegetação permanente - e a mata - não é tão importante como se diz, porquê tanto barulho com a Amazónia? Só por causa do oxigénio e regularização macroclimática?
A Amazónia
é um deserto coberto de árvores que à medida que vão
sendo cortadas dão a grande lição da
resposta da natureza ao poder-se olhar os 300 Km de
água barrenta que do Rio Amazonas entra no mar que só se vê a verdadeira
dimensão de avião, como eu vi
Também, em
Cabo Verde, porque já desértico
(Sahel), milhões de toneladas
de terra são arrastados
anualmente para o mar, embora aqui
seja mais difícil de ver já que é
o vento que as leva, mas sente-se
... ao respirar aquele ar quando os Alíseos se
fazem sentir lá para os meados
de Novembro, carregados de areia
proveniente do Sahara, em vez de humidade do mar, como eu vivi
Igualmente
ao Mar Aaral para onde desaguavam rios possuidores de aluviöes fundos e férteis, ocupados durante séculos por belos e produtivos pomares, lhe bastou 30 anos de monocultura de algodão e químicos para que os rios secassem, os aluviões virassem areais soterrando casas e barcos, as
gentes morressem de fome e doença e, o mar,
de tal forma salinizado, evaporou fazendo
recuar 90 km do seu litoral
E se o Alentejo já perde por ano 100 toneladas de solo, o
Algarve e o Alentejo, até pela sua
pluviosidade natural já fazem parte, sem que se o diga, do Sahel, cuja pluviosidade
para que seja classificado como tal, é de 400-600 mm de
chuva (valor idêntico ao da área fronteira com espanha)
Se se
olhar bem para a Carta de desertificaçäo publicada pela FAO em
1958, para o Globo Terrestre, e
de acordo com os índices
de Thorntwaite, a Península Ibérica está na linha da frente na
classificaçãoo de zona árida, como extraordinária visão de antecipação
Os
macro-climas säo dependentes dos climas regionais e microclimas, numa cadeia
infinita de inter-relaçöes planetárias
Como se
poderá manter um país, como o nosso, de
solo por vezes extremamente rico ou agricultável, sem
a protecçäo dos seus relêvos com as suas matas naturais (e matos paraclimácicos) - as grandes
responsáveis nas regiöes
mediterrânicas pela infiltraçäo e
acumulaçäo da água, aí gerando os principais
caudais que abastecem barragens,
rios e nascentes (In: F.Pessoa - CNUAD 1992), sendo ainda
responsáveis pela transferência de fertilidade para as regiöes a juzante, onde afinal se situam as
áreas agrícolas näo importa de que dimensäo e grau natural de fertilidade das terras onde se
situa também a maioria das grandes e
pequenas cidades històricas, já que todo o relêvo jorra do centro e este para o litoral onde sempre existiu a maioria dos lugares
habitados e das cidades portuguesas
históricas e monumentais
No mundo
e de forma directa, depende das montanhas 20% das populaçöes e,
40%, delas dependem indirectamente (Dossier CNUAD)
Assim,
qualquer modelo de desenvolvimento terá
que integrar a economia de montanha,
permitindo a fixaçäo e evoluçäo
das populaçöes que aí nascem e residem
para que
näo se comprometa a conservaçäo das paisagens e do
ambiente, da água e do solo, de que depende o que fica a juzante
De facto, o ambiente näo é um problema
apenas do ministério do ambiente, nem
das obras públicas ou habitaçäo, mas é
de todos os responsáveis por elaboraçäo e aprovaçäo de projectos que pressuponham
intervençäo e alteraçäo dos usos das
terras, sendo que o Ministério da Agricultura será altamente
responsável por näo importa
que tipo de agricultura decidir
fazer já que agricultura näo é separável do ambiente
como näo o é o eucaliptal ou qualquer área de
produçäo e/ou construçäo, e
agricultura näo se
pode igualmente separar nem de
ecologia nem de desenvolvimento
Será
portanto uma questäo de ordenamento do
território integradamente e à escala e
natureza de cada local sem esmagar a
ossatura do seu relêvo natural
nem dizimar o manto
vegetal climácico e paraclimácico, onde caibam a floresta
natural, a mata de produçäo, a agricultura natural e ecológica que sempre foi a
nossa tradiçäo e, finalmente, a agricultura produtiva ou industrial,
já que
ninguém é apologista do típico que significa eterna pobreza e
atávico atrazo
Mas näo se
poderá pensar em agricultura e em economia agrícola sem se pensar no que se passa a
montante nas montanhas, onde tudo
começa, já que a
fertilidade e harmonia das paisagens e
dos climas começa de cima para baixo e sendo o clima que determina
o Habitat do Homem e a sua qualidade de
viver e se
por exemplo o Alentejo é pouco
montanhoso, também ele só poderá conservar
água no solo, e fertilidade, se for regenerado o montado de sobro e azinho
e, bem perto, existem Castelo de Vide
(a Sintra do Alentejo),
e a Serra de S.Mamede onde se
pode colher inspiraçäo para recuperaçao
paisagística mas que, por sua
vez, estaräo em perigo
com a vizinhança do deserto
alentejano, já que o deserto
só raramente admite oásis, embora näo sejam os "alquevas" em estilo de gigantesco
tanque que irá resolver a distribuiçäo
da água para que chegue onde deixou de chegar com tanto erro humano
As grandes
enxurradas a que se assiste há muito tempo, näo esquecendo as de
1967-1983-1987, säo cada vez mais catastróficas, tudo aterrando de
carrejos vindos de montante, porque os montes
e margens dos rios säo
desrborizados, assoreando-os, soterrando culturas e caminhos, trazendo
o que está em
cima para baixo, já que os grandes caudais dos rios näo se väo
infiltrando nas margens e leitos
de cheia e de máxima cheia, estes ocupados com estradas, indústria, habitaçäo, clandestinos, equipamentos de recreio, etc. retirando os
locais naturais onde a água tem de se
infiltrar
O continuum naturale foi
desfeito pelo contínuum construído substituindo-se-lhe näo importa como,
sem ordem; sem critério baseado nas
leis de comportamento das forças naturais e dos ritmos biológicos; foram interrompidos, ou desfeitos, os corredores ecológicos por onde
flui a VIDA,
e tais corredores näo foram reconstruídos ou
recuperados, nunca o säo, e há que fazê-lo para manter a terra viva já
que o número de homens vai crescendo e com ele as necessidades
e exigências, incluindo
a de ocupar mais espaços, razäo bastante para ocupar
(ou desocupar) com critérios de
ordenamento e näo de mero cumprimento de plano económico divorciado da realidade
socio-ecológica local, por muitos que sejam os milhöes a investir, mas
que investem ainda mais destruiçäo
Mais uma
vez citando valores encontrados
por investigadores do valor da terra
De acordo com Pavan - Rev.Natureza e Paisagem
jun.1977 - "Devido a desarborizaçäo,
a culturas irracionais, a pastoreio excessivo, apenas em 70 anos
(1882-1952), a superfície do território utilizável pela agricultura sofreu uma diminuiçäo de
50%, tendo quadruplicado a superfície
das terras que perderam total ou parcialmente o seu húmus"
Na ânsia
de aumentar a sua esperança
de vida, o homem esqueceu que deve ao
Planeta aumentar-lha também ou,
pelo menos, de näo a encurtar, permitindo a qualidade de vida minimamente digna
dos seres vivos terrestres
Paradoxalmente
o homem aos solos pobres de areia acrescentou fertilidade durante séculos e aos
solos ricos acrescentou químicos até os esterilizar em poucos anos
Após a
destruiçäo de 70 a 100% dos grandes mamíferos há 30/40 mil anos, o homem
tornou-se pastor e agricultor no Neolítico 6000 a.C., devastou 90% de ecosistemas
florestais intertropicais;
reduziu de 50% o território utilizável
pela agricultura e quadruplicou a superfície das terras que
perderam total ou parcialmente o húmus; destruíu a estrutura dos
aglomerados e a drenagem interna dos melhores solos agrícolas que cada vez têm
menos vazios onde o ar já näo
entra pelo que se
carregam com drenagens, verdadeiras obras de engenharia de preços
de custo
dos quais nunca mais se retira
rentabilidade nem a curto nem a longo prazo; continua a destruir a ossatura dos
relêvos arrastando deles toneladas de terra que se perdem em contínuas
enxurradas, ao mesmo tempo que
polui o solo, o ar, a água dos lagos, rios e do Mar, de onde também desaparecem
os grandes mamíferos; destrói o plancton com UV; faz desaparecer
mais de 100 espécies animais e vegetais por mês, näo falando na chuva
ácida que destrói näo importa que vegetaçäo (incluindo de golfes), corrói os edifícios de calcário, mata o húmus
onde o houver e a micro-fauna e
microflorado solo, näo ficando mais nada para destruir se se pensar
na terra apenas em termos de ter que produzir à força porque é essa a
funçäo das terras, como se houvesse
um verdadeiro desafio de
confronto
com a morte
A Alemanha,
por exemplo, país considerado
evoluído, tendo nos últimos
10 anos passado de 6% do seu território
impermeabilizado, para 19%, começou
a preocupar-se com as
consequências que tal situaçäo teria exercido na fertilidade das paisagens e alteraçöes de regimes hídricos e
climáticos
Portugal, sobretudo no litoral, e nas franjas das suas maiores
cidades e que foram na maioria áreas
de agricultura peri-urbana (como o foram por toda a Europa civilizada
que de forma específica fez ordenar esse espaço
no post-industrializaçäo no
início do séc. passado), mas, em vez
disso, Portugal está
construindo
gigantescas lages de betäo e
de betuminoso ,
cujas
perturbaçöes drásticas nos movimentos
dos fluxos do ar e da água nos
seus locais naturais que säo os vales, provocam pequenas e grandes enxurradas e concentraçöes atmosféricas
de nuvens permanentes de poluiçäo que väo dar origem a
chuvas ácidas conduzindo a
destruiçäo de solo, fauna e flora, e, finalmente,
a alteraçöes climáticas pontuais e gerais, como se quizesse recuperar
em dois dias mais de um século
de atrazo repetindo erros da Europa, agora escusados e inúteis, porque
"parece" ser demasiado tarde para aprender com erros de tal
tipo e
para os quais
já há hoje soluçäo, já que
data desse tempo
o conceito moderno de ordenamento das
paisagens havendo tanto saber nacional, e alheio, à disposiçäo
para que
a destruiçäo possa ser evitada e minimizada
Com
frequência se "ouve" falar de instituiçöes que reclamam à CEE, de grandes atrocidades ambientais que
há 5 anos se cometem contra o ambiente e as populaçöes, mas täo depressa tudo
está bem, a estrada do Infante é
inofensiva, os eucaliptais näo têm recusa
científica nem as agropecuárias säo esterilizadoras de solo e água, já
que os estudos de impacto logo säo
feitos e tudo acharam bem ou
minimizável, como se os estudos de papel
bastassem e/ou que tudo o que é problema de Ambiente se resolvesse com
Estaçöes de Tratamento, como se o local
onde säo implantadas näo importasse e nele
se pudesse construir näo importa
o quê e como e uma A.I.A. tudo pudesse avalizar
Será curioso relembrar que uma das primeiras ETARs
construídas em Portugal (anos 70), foi a
de Porto Covo e täo bem situada em plena
falésia destruíndo-a, além de ser a primeira coisa a
ser vista quando partindo
da Pracinha Pombalina e tomando a
rua principal perpendicular à
linha costeira, se dá de frente com a ETAR que, por mais que se queira, só ela se vê, e näo o Mar e a
lindíssima Ilha do Pessegueiro
Portugal também
tem (ou teve) o seu "Nilo" - O Tejo - ou a sua mesopotâmia - os
Vales do Tejo e do Sado - näo esquecendo
tantos grandes e pequenos mas férteis vales desde o Minho ao Lima,
com as suas ainda hoje famosas Quintas
que remontam do séc.XV ao XIX, umas tantas
votadas ao turismo de habitaçäo mas já grande parte
delas com as suas áreas iniciais reduzidas e invadidas
por expansöes urbanas de arranha
céus;
o vale
do Douro onde o Turismo tipo "algarve" e o falso desenvolvimento já
deitou o olhar de cobiça com projectos
duvidosos (Miranda do Douro),
fazendo pensar em que tipo de marcas de destruiçäo aí iräo ficar sendo
por outro lado
já visíveis marcas de assoreamentos motivados por obras gigantescas;
ou o
vale do Mondego, de Rio hoje encanado e de profundos aluviöes com aterros de
4/5 metros de altura de "tout
venant" para implantar Escolas, estradas e nós viários, mesmo à entrada de
Coimbra, onde se gera um verdadeiro caos
de objectos, trânsitos e poluiçöes incluindo a visual sem resolver nenhum dos conflitos iniciais
que até se agravaram e estrangularam a
cidade obrigando-a a expandir-se sem ordem, nos aluviöes mais a juzante;
ou o
Haff-delta de Aveiro, hoje destroçado com indústria improdutiva e
altamente poluente das terras, do ar e dos freáticos, näo falando no
visual de todos os dejectos industriais à vista e em qualquer
lugar, bem como com estradas de necessidade
duvidosa aí mesmo, podendo ser construídas noutro local ou,
sobretudo, desenhadas de outra forma
sem "acumular
destruiçäo", para de facto cumprirem o que se pretende de comunicabilidade entre
as povoaçöes; (entretanto, a Reserva Natural das Dunas de S.Jacinto -
ornitológica - é diariamente atravessada por
milhares de camiöes altamente ruidosos e
poluidores, transportando produtos industriais e lixos);
ou os apertados vales de Trás-os-Montes de
urbanizaçöes mais uma vez
tipo Brandoa ou os belos penhascos que entalam o rio e deveriam ficar como paisagem rude e
selvagem para contemplar identificando-a,
já que cada país tem também a sua Herança Geo-morfológica , a
serem igualmente cobiçados por
implantaçäo de que Turismo sem integraçäo num
plano de desenvolvimento de economia
regional de montanha
Ainda, o turismo
que nada produz nem nada protege,
pois como
actividade económica é um Serviço mas como resultante final é de facto
uma indústria demolidora do solo, de paisagens naturais e urbanas e
mesmo monumentais ou de actividades
culturais;
ou os
vales de socalcos onde habitaçäo e terraços de
pomares e hortas concorrem
em beleza e inteligência de
implantaçäo nessas Beiras
interiores que o fogo reduziu a terra queimada, e de que um escritor
português que näo recordo agora dizia - ver as Beiras
e depois morrer;
e, porque näo, o esplendoroso Algarve com a
Campina de Faro, hoje gigantesca
lixeira, Algarve que produzia frutos e hortícolas antes de qualquer outra regiäo do país
... quando
o "tempo" era também riqueza pela oportunidade
Em país com tal clima, e gentes, até as areias dunares
säo se calhar mais produtivas do
que um qualquer tchernozem (e os
produtos têm perfumes
e sabores) e, a atestá-lo, as
maceiras de Vila do Conde, as praias de
Afife e Carreço (Viana do Castelo) ou as "eis" areias da Costa da Caparica, passando pelas
Gafanhas de Aveiro, cujos PDM as integram nos perímetros urbanos para expansäo de habitaçäo
e equipamento, dando-se cada vez
mais razäo ao país de ... "näo ser viável agricolamente"
Quando
ainda há pouco tempo se falava nas Caldas da Raínha e da sua Praça no coraçäo
da cidade, vinha imediatamente à memória o perfume das flores e da fruta de Alcobaça que aí era espectáculo, também turístico, como é ainda hoje a Praça das Flores em
plena City de Bruxellas
onde näo há conflito entre ninguém. Porém, a
pequenina praça de Albufeira
situada no único parque, que de tudo
vendia - peixe - legumes - fruta
- e que era também atracçäo turística,
hoje é um espaço feio, escortanhado de
pequenos espaços inúteis, tendo no
centro um "escultura-padräo ao mau gosto e à incapacidade de se ser genuíno, realista e, sobretudo ... simples"
Quanto aos produtos importados (e mais baratos) e
que se adquirem nos super-supermercados, quanto a certa fruta parece fruta
do chäo, ou 50% já está pôdre
na parte inferior escondida nas
irrespiráveis embalagens de plástico, ou
só sabe a "verde", ou bem depressa apodrece nos
frigoríficos caseiros porque os químicos
näo säo conservantes e, quanto a certos legumes, têm de
ser reduzidos a 50% porque a
metade exterior é
dura, fibrosa, é acumuladora de nitritos e é incomestível
E quanto
ao Turismo se pode, e deve, referir ,
este näo pode limitar-se a viver do
hotel de 5 estrelas näo importa
se situado no CAMPO
ou na CIDADE, exibindo uma total
ausência de qualidade do risco e de real integraçäo em cada uma das
paisagens, hotel que näo sobrevive
só por si já que tem também de
viver das paisagens do interland
que, se näo forem belas, podem os
hotéis ter até
21 estrelas que continuaräo a estar vazios e, o algarve turístico que o
diga pois que para isso já lhe
basta a arquitectura ... sem
arquitecto ..., sendo que nem os grandes hotéis de
luxo estäo cheios nem no
mês de Agosto, porque as paisagens
onde chega o turismo
tornam-se a desordem
no interior ou exterior urbano, os nós viários estäo dentro das cidades
ou estrangularam-nas (Praia da Rocha,Portimäo,Albufeira); as torres de betâo säo feias, desconfortáveis e sem
segurança (Armaçäo de Pêra) , noutras
estäo inacabadas e
cheias de lixos
ou ocupadas por marginais
(Praia da Rocha); ainda outras falésias altamente
erosionáveis estäo destruídas com cortes
para improvisar passagens e estacionamentos para os areais (entre Faro e Portimäo); é um nunca mais parar de
fealdade e de destroços, província
que foi das mais belas do país e rica
agricolamente, cujo perfil costeiro perdeu identidade, tanto no
que era natural como agrícola ou urbano no litoral,
restando, quando muito, algumas
"ilhas", porque também as verdadeiras
Ilhas estäo em degradaçäo (Tavira) e sujeitas ao avanço do Mar (Faro)
Turismo é
hoje sinal de perigo iminente,
já que
onde o turismo chega só arraza,
näo se integra no
pré-existente urbano, agrícola ou natural, nem nada sabe acrescentar ou
redistribui mas, antes, tudo monopoliza, privatiza até o
espaço público, a tudo se substitui reduzindo espaço e actividades a
uma mono-situaçäo, apesar de tanto alarme e congressos sobre a
desertificaçäo e a recessäo económica algarvias. Também durante
muitos anos o turista portugês foi preterido, e maltratado,
mas como
o estrangeiro começou a virar costas, é de novo aliciado mas, como o "turista de qualidade", também ele demanda outras
paragens e näo demanda
mais nem Estoril nem Algarve, porque para caos lhe bastam as
cidades onde vive
Deveria
haver coragem de arrazar de novo tudo o
que lhe tirou o esplendor ... e recomeçar entäo, depois de repor o que destruíu, mas é quase tudo irremediavelmente
irreversível e, o que é curioso, é
que este país vive de há meia dúzia de anos a esta
parte de situaçöes irremediavelmente irreversíveis também para continuar a dar razäo ao velho fatalismo à portuguesa
O Algarve
sofreu uma Grande Guerra - O TURISMO, e
como turismo, agricultura e
litoral se sobrepöem, haverá que encontrar
o genuíno lugar de cada COISA
Portugal, e os
portugueses (e os turistas), tinham
de facto um clima e qualidade de ambiente, de paisagens e de alimentos (frescos, fruta, carne e leite), ao pé
da porta, que davam
prazer aos sentidos, e de os comprar,
que näo foram merecidos e, por
isso, as alfaces vieram em 1980 da China
? a 1200$/Kg quando aqui
faltaram, e paga sempre mais quem menos tem;
as laranjas
de Setúbal, de Sines e de Silves
já nem se sabe de onde
provêm porque o nome do local de origem também é alterado
(e qualquer comparaçäo com as portuguesas é coincidência já que säo de
3ª. escolha), sendo que os férteis
locais säo hoje inacreditáveis áreas urbanas e
viárias ou industriais ou
cemitérios de lixos de toda a ordem e,
dos pomares de
Alcobaça já näo se ouve falar, mas fala-se bastante
do vinho de Bucelas, outra área
agrícola em perigo mais uma vez por causa de autoestradas, ou dos vinhedos de
Torres Vedras, vítima de desenvolvimento
que só sabe destruir a direito a RÉGUA E ESQUADRO, cegamente, ... local onde exactamente hoje se arrancou mais de uma dúzia de
plátanos seculares para dar lugar a mais uma super estrada, já que vinho de
qualidade talvez só francês mesmo que de qualidade inferior , porque o que é fundamental num
país pobre, é abrir estradas
às "mercadorias, porque a
vegetaçäo secular em Portugal näo tem
lugar no conceito de
património nacional;
igualmente se
destruiram em 1992 dos já
raros pinheiros mansos existentes no país, dezenas deles, e bem velhos,
para alargamento de auto-estrada
de Montemor-O-Novo, podendo aí
ficar num largo separador central a dar sombra e beleza
à estrada, pois que a
10 metros existe um vasto
eucaliptal, como se já näo bastasse terem as estradas dos anos 70 destruindo campos e
caminhos rurais já com os
declives mais convenientes para maiores
velocidades, esquecendo-se a importância da actividade agrícola e a
sua natural situaçäo já que, logo que chove, mesmo pouco, säo as
primeiras estradas a sofrerem inundaçöes cujos estragos directos
e indirectos valeria a pena
contabilizar para que se
näo afirme sempre que este ou aquele
traçado previsto é anti-económico, porque o balanço final
da contínua destruiçäo de espaços e
actividades é que é realmente näo só anti-económico como desertrificador de espaços
que estavam ordenados, férteis e correctos nesse lugares usurpados pelas
estradas e que, quando muito, se näo
eram produtivos q.b. que näo fosse a estrada a rezar-lhe a sentença de morte
Talvez porque as paisagens atravessadas pelo mais
recente sistema viário sejam
cada vez mais feias, incaracterísticas e descaracterizadoras, além de cheias de lixos e de
clandestinos que sejam elas também a contribuir para que os automobilistas portugueses acelerem para chegar mais depressa ao
seu destino, pois
tais estradas näo säo construídas
com a preocupaçäo de nelas se
integrarem e até valorizarem perspectivas próximas e
longínquas - e a atestá-lo basta citar a
estrada que sobrevoa os tectos do
Mosteiro da Batalha de que näo há 2º exemplar no mundo
De
facto, as novas estradas dos anos 80 säo ainda mais graves nas consequências dos seus
traçados numa ininterrupta sucessäo de
aterros e de escavaçöes com cortes artificiais
e deficientes de TALUDES
que continuamente desabam - porque
nem sequer säo convenientemente
revestidos de vegetaçäo a qual seria importante como
"corredor ecológico e barreira anti-poluiçäo
e anti-ruídos" - estradas que passam verdadeiras tangentes a escolas ou
a bairros habitacionais, com
deficiente sistema de
drenagem pluvial, ou sempre em
obras, ou inacabadas, ou com
materiais sobrantes na
base dos taludes e nas bermas,
factos que acarretam desfear as paisagens e interromper os movimentos
naturais do ar - nevoeiros - e água -
ficando constantemente inundadas com um mínimo de pluviosidade, destruídas no pavimento e
drenagens e nas zonas marginais, estragos directos e
indirectos que valeria também apena contabilizar comparando com o "preço
de custo" de uma estrada planeada
e desenhada segundo as regras de ordenamento viário,
de protecçäo e conservaçäo dos valores da natureza e paisagísticos
Nunca se
contabiliza a destruiçäo e valeria bem a
pena para se poder
perceber porque é que se empobrece cada vez mais, em vez do contrário
A estrada, em vez de ser um
elemento humanizante da Paisagem
é um objecto
intruso, imposto à força cortando a direito o que está "na sua frente", como se fosse
a estrada que tivesse de passar, em vez da água e ar e
"os outros elementos e objectos
humanizadores", como se as
belas, e primeiras autoestradas do mundo - as alemäs - näo
fossem conhecidas - ou a autoestrada do Sol que é uma
verdadeira obra de
arte de engenharia ou, ainda, a
linda e recente autoestrada Londres-Brighton ou as
belíssimas autoestradas que correm
desde Miami a Nova York com magnífivas "obras de arte"
em áreas protegidas e por vezes com largos separadores centrais,
exactamente para que a vegetaçäo arbórea e climácica näo seja arrazada,
mas que sirva de sinalizaçäo verde para ajudar o condutor
a ter elementos que lhe tornem a conduçäo dinâmica e atractiva
Se
Portugal já teve honras de figurar em livros internacionais pela sua
reconhecida qualidade de desenhar
estradas a preceito, hoje só se for em livro negro, com a proliferaçäo
de IPs 5, que näo passam de meros exercícios de estirador, posteriormente impostos aos
locais
As estradas de Portugal dos anos 80, porque
acrescentam erros de implantaçäo às
das dos
anos 70, säo actualmente as maiores responsáveis pela destruiçäo
irreversível da ossatura do país
destruíndo a orografia dos vales e sua
funçäo natural e insubstituível, à escala regional e nacional (recorde-se as
inundaçöes de 1986 desde o Algarve à Foz da cidade do Porto e sem
que a
queda pluviométrica tanta inundaçäo
pudesse justificar) já que a água
näo se pode encanar ou
meter em sucessivas caixas de queda de betäo, nem se
pode retirar-lhe os naturais locais de infiltraçäo e de drenagem - já que é a água que tem que passar e näo a estrada - áreas
agrícolas ou mesmo quintas
reduzindo-as a mini-espaços inúteis, monumentos, árvores seculares ou climácicas, arquitectura
popular tradicional deixando à mostra clandestinos, barracas,
lixos, entulhos, cemitérios de sucatas,
ou seja, em vez de valorizar o que já
era belo, arraza-o e desvenda o que devia ser deitado
abaixo , como se com
elas o país estivesse a
revelar as suas mais escondidas
entranhas que meia dúzia de anos de improviso provocaram e
agora ficam à luz do dia
De facto, este país era täo rico em património
de toda a ordem - natural
- arquitectónico e monumental das várias épocas da história do homem - que se podem destruir e
arrazar a bulldozer estaçöes punico-fenícias em Silves ou a Ilha do Pessegueiro (Sines), que
além de possuir 2 importantes estaçöes arqueológicas, é ainda local
de vegetaçäo endémica e de nidificaçäo do Falcäo peregrino, além de ser
local de desova de pelo menos 12 espécies
de peixes ricos que no
alto mar se pescavam; ou deixa-se
arder o espólio barroco do interior de Igreja de
Vizeu (Mr.1992); ou deixa-se tapar o
monumento dos Jerónimos que näo
mais se pode admirar ao longe doirado
pelo por do sol, nem a Torre de Belém, os
dois únicos monuentos que
justificam denominar a área de monumental, que säo os mais significativos do
país e hoje divorciados um do outro,
divorciados visualmente dos percursos, já que se alguém
deles ouvir falar tem de
procurá-los ou perguntar a quem passa. Depois de estradas a sobrevoar o Mosteiro da Batalha há outras a
sobrevoar a área monumental de Belém
Resta
porém de genuíno, os bifes do gado mirandês, se entretanto a populaçäo
näo morrer ou emigrar, porque as
vacas das beiras, do ribatejo
e do alentejo doparam-se, mas
temos o consolo de poder beber
leite em pó de proveniência
de várias nacionalidades, de saborear anonas todo o ano, româs em
agosto, uvas em dezembro ou morangos com novas formas e volumes porque
talvez o mercado rejeite as que lhe eram próprias por origem genética (mas
temos a gastronomia turística que de
entre outros inventou a sardinha
assada com batata frita)
Näo tem importânciae ficar com a memória
sensorial toda baralhada porque isso das
4 estaçöes näo tem interêsse nenhum, porque
também há países que só
têm 2 estaçöes e Portugal näo
precisa de ter tantas,
como näo tem importância nenhuma confundir umas
estaçöes com as outras através dos produtos agrícolas,
já que
a memória celular - e a memória
colectiva sensorial e
cultural, já näo interesam, näo têm nada a ver com economia nem
desenvolvimento, nem
turismo, nem humanismo,
porque as crianças que hoje
habitam as cidades olharäo os
campos nos livros e ouviräo o canto dos pássaros no vídeo em cidades espaciais
Simplifica-se
com tudo a saber a todas as coisas e a coisa nenhuma, numa paisagem de estufas
de plástico, sem ordenamento e a diminuir áreas de infiltraçäo de água no solo, a retirar vegetaçäo arbórea
porque a estufa näo pode ter sombras;
tudo isto rodeado de paisagem de
eucaliptal
O nosso
quotidiano já é täo pesado e deixa-nos täo pouco tempo para descansar e pensar, que nem sequer damos pelas grandes
e pequenas alteraçöes desastrosas
que ele nos fornece e acordamos
todos os dias constatando sem
poder de análise ou crítica
De facto, näo é importante a genuinidade das
flores e dos frutos com
as suas cores, formas e perfumes naturais, mas sim que
sejam produtos de série, baratos e comerciáveis,
que tenham as dimensöes exigidas e as embalagens normalizadas, näo
esquecendo o verniz para pulir o que näo
luz, já que o importante é o exterior e o
embrulho porque é necessário cativar o olhar, distraí-lo, e näo pensar mais no que é qualidade intrínseca
a cada coisa e lugar, mas antes, aliciar-nos para o que está na moda
A O.M.S.
publicou valores interessantes quanto a
doenças e alteraçöes genéticas em
adultos e fetos humanos, por tipo de poluiçäo incluíndo a alimentar devido a
excesso de químicos, números que näo säo
de ficçäo, sendo impressionante ouvir (e ler) que até ao
ano 2000 morrerá 1 biliäo (somos 5 biliöes) de pessoas com doenças incuráveis incluindo as respiratórias
e alérgicas
Toda a nossa vida é
"aprisionada" de artificial desde o computador e os seus
jogos, do sabonete ao detergente para
lavar a molhado ou seco todo o tipo de
roupa, pavimentos e loiças que usamos todos os dias, aos químicos corantes e
conservantes de bebidas e de alimentos
já de si artificiais, passando pelos
produtos químicos da agro-pecuária ou os texteis do vestuário e calçado,
das embalagens de plástico de toda a ordem a embrulhar tudo, dentro e fora dos
frigoríficos, terminando nos materiais de construçäo dos locais de habitar,
trabalhar e divertir, como o betäo irrespirável, as alcatifas, as telhas argi-betäo, as fórmicas,
as läs de vidro, os PVC, os mesmo plástico de plástico, os
ares-condicionados e os verdadeiramente
poluídos, mas gastam-se milhöes em campanhas
anti-tabágicas como se o tabaco fosse o único alarme para prevenir
o cancro
Faz
pensar se os alimentos produzidos à moda
antiga com estrume e xurume, moliços e outros materiais naturais que a
natureza tanto dava de gratuito e täo bem biodegradava, näo ficariam
muito mais baratos do que todo
este enrêdo químico-plástico
longe do sol e do natural e, portanto do bios, mesmo que se justifique que o
homem recorra do "artificial" para compensar desvios de produtividade
pois que, comparando, quando está doente também recorre a medicamentos, mas näo
... toda a vida
Consola-nos
.... saber que a indústria
dos medicamentos tem remédio para tudo
Näo tardará
também o tempo em que irá nevar em agosto na Suissa e que o Sol passe
a nascer
à meia noite em Portugal - e que o Homem seja um mutante
Quanto a
Portugal, com täo poucos habitantes para a superfície que tem
relativamente a outros países do interior europeu, nunca será percebido, nem
talvez bem explicado, e näo será
só o analfabetismo dos rurais
porque razäo os 27% de território
de terra arável (1/4 do território
nacional), nunca chegaram para alimentar mais populaçäo e proporcionar
melhor qualidade de vida a quem nele
habita, já que nos anos 70 se importava à volta de 60% dos alimentos necessários e, hoje,
exactamente com a mesma populaçäo, a
importaçäo é já superior a 75% com tendência para aumentar se a agricultura continuar a ser o parente pobre
da economia e o seu "espaço" ser sempre o
preferido para "as outras" se instalarem, já que temos de ser evoluídos e ricos e,
veja-se, é sempre à custa da ocupaçäo e destruiçäo do
solo-espaço agrícola mas, a
Suissa, com menor área agrícola, produz mais, sendo
difícil de perceber que só o grau escolar esteja em
causa, já que Portugal tem
milhares de engºs agrónomos e
silvicultores (e engºs do ambiente), talvez sentados em secretárias
resolvendo problemas administrativos e
burocráticos, redigindo pareceres a propostas de corte de vegetaçäo
climácica ou outra arbórea para implantaçäo de
estradas, habitaçäo e estaçöes de serviço de venda de gasolina,
ou redigindo E.I.As, com muito saber,
mas que näo chega aos locais rurais e à
populaçao que querem trabalhar a terra,
já que o seu grau universitário os torna
incomunicáveis com os que usam outro tipo de
"linguagem, sendo porém täo
fácil impor-se-lhes estradas, corte de
propriedades e caminhos, instalaçäo
de indústrias e de aterros
sanitários ou apenas depósitos de
detriros além de turismo e invasäo, sem
licença, de desporto, além de de turismo, mas näo se consegue impor-se-lhe novas formas de cultivar as
terras
Näo será nem a área nem a sua natural
produtividade que estäo em causa, nem será também o número de "rurais" que nem
sequer esqueceram o que sabiam do como
cultivar a terra de seus avós, já que o
conhecimento agrário näo é de Hoje, é de
um Ontem muito longínquo de há milénios
e, o de hoje, só polui, destrói, inviabiliza,
incapacita terras e gentes, exactamente quando o
homem atingiu o máximo do seu
conhecimento técnico e científico para
poder criar muito mais riqueza, em vez de fome
Em vez
de se continuar a destruir a já pouca terra grícola do mundo (reduzida a 50%
nos anos 50) - e do País - ao menos que näo seja ocupada
impermeabilizando-se - mas, o saber e a inteligência do homem de hoje de séculos acumulada, também
näo interessam pois que se pode recorrer
à inteligência artificial, ou modelos estrangeiros de cultivar solos de situaçöes ecológicas e climáticas
täo diferentes e näo extrapoláveis de
imediato, como extrapoláveis näo säo e
se calhar näo devem ser, os aspectos socio-culturais,
já que também deve ser dada a liberdade de querer este ou aquele caminhoe näo
consta que o povo português urbano
ou rural seja estúpido e näo
queira evoluir ( a casa
do Emigrante é um índice desse querer - como o é
querer implantar turismo por mais
aberrantes que sejam ambas as situaçöes)
O Homem
da Cidade encontra sempre justificaçäo fora de si
mesmo para culpar näo importa que
situaçöes, quando afinal 'É A
CIDADE QUE HOJE TUDO DECIDE DENTRO E FORA DELA como
se a
cidade fosse única detentora do
saber - e do poder - mas cuja cultura urbana
se tivesse tornado completamente
inoperante perante a real realidade do
concreto de cada espaço. A
contradiçao do que se diz e faz é quase chocante, mas näo restam DûVIDAS de
que é sempre a cidade que destrói o campo, que o invade, que o usa como quer e,
por fim que o CULPA da sua própria inoperância, porque os rurais säo
analfabetos, como se a SABEDORIA só tivesse uma face e fosse MONOPƒLIO da
cidade
Por
falar em Suissa é curioso notar uma faceta da sua evoluçäo dos anos
60 para os 80 em que no Cantäo de
Genève, logo ao sair
da cidade, era nítida a "passagem" de uma situaçäo urbana para
a rural e, o Campo era um campo como outro qualquer
da europa evoluída, como os campos da Alemanha, e mesmo Inglaterra
Neste
país, por exemplo, de costa a costa ao sul de Londres,nesta é
impressionante o respeito pela terra, o
ordenamento das paisagens rurais, o
respeito pela compartimentaçäo, incluíndo os
aglomerados habitacionais e as
"franjas", resultando daí uma beleza incomparável
como se o
Campo Inglês fosse
a continuidade do JARDIM
æ INGLESA, belesa rural que mereceu dos
Serviços oficiais uma nova
clasificaçäo de áreas rurais
de "outstandig beauty",
áreas onde cabos de transporte de electricidade e todo o equipamento de
modernidade é enterrado para näo
violar o "sentido de rural",
da mesma forma que possuem as áreas denominadas "Coastal Heritage,
para que o litoral mais belo e
diferente seja uma herança a usufruir por todo o mundo
Se
Portugal já foi denominado
Jardim à beira Mar plantado
e as
suas paisagens mereceram ser cantadas por intelectuais
ingleses, hoje o canto só pode
ser um grito muito alto para que alguém faça parar a
"implantaçäo" do FEIO
Voltando à
Suissa, nos anos 80, ao visitar-se o campo, desde
os pavimentos impermeáveis de betäo em estradas e caminhos, até ao
equipamento de restaurantes e de recreio, automóveis privados
, etc., respirava-se um ar de riqueza e de urbanidade, como se já
näo fosse täo necessário ir ... à cidade, já que se tinha adquirido muito do "conforto,
equipamento e até gestos" de urbe
No
entanto, pareceu-nos demasiado betäo e betuminoso até pela imposiçäo de
tais cores e materiais que näo säo
"próprios" em área rural, como os desenhos de campos e
cultura a régua e esquadro däo à
paisagem um ar artificial que näo se vê no Campo inglês, ou mesmo francês, apesar
deste pela topografia, ser
diferente, e ter o
aspecto de um infinito mosaico de formas geométricas
como se
se tratasse de um Mondrian, ou näo fosse o sul de
França, berço de grandes
"impressionistas", que foi no
campo e näo na cidade que colheram inspiraçäo, vigor
e até eternidade
Mas falando
ainda de destruiçäo de terra agrícola,
é curioso relembrar que
quando Inglaterra atravessou a
II Grande Guerra, Churchill mandou os ingleses plantar batatas no Hyde
Park mas, se um dia formos nós, näo teremos sequer "hyde parques", dentro
ou fora das cidades já que
Portugal é considerado dos países da CEE que mais árvores abate dentro
e fora das cidades, já que os jardins públicos portugueses ou estäo ao total abandono, on
constrói-se-lhe equipamento de jogar a
bola, ou
säo estacionamento automóvel
e, quanto aos
privados, deita-se-fogo, ou däo lugar a torres de betäo sem estilo
nem integraçäo no velho tecido urbano ou, quando situados no interior
de quarteirôes (jardins de trazeiras), säo ocupados
por garagens, armazéns, lixeiras de materiais sobrantes de obras,
etc., de
que Lisboa é o melhor exemplo
No entanto,
Lisboa que nos anos 50/60 era
considerada das mais
verdes e limpas cidades europeias, decretou guerra aos espaços dos peös e à árvore, em favor do automóvel,
täo poluente, e näo encontrou espaços para plantar mais, já que a cidade
näo parece poder dar aos habitantes ... também ... os
espaços e o tempo de nela se recrearem e a admirarem - e conhecerem -
Os Parques
e Jardins, e a árvore,
introduzem a natureza viva dentro da cidade e, com ela, os
ritmos das 4 estaçöes, os perfumes
e cores
das flores e o canto das aves,
sendo locais de
evapo-transpiraçäo e portando reguladores climáticos, bem como filtros
de ruídos e poeiras
Talvez porque a natureza abandona a cidade ou é
rara, os
urbanos "odeiem" a chuva quando nela cai, mas abatendo a
árvore sem exitaçäo logo se queixam quando o veräo é impiedoso e
näo encontram a sua sombra, nem o seu tecto que dá escala
humana
A Cidade
desumanizou os espaços e os cidadäos que por isso
dela fogem logo que podem demandando espaços naturais de
beira mar e campo,
mas neles "deixando marcas
de urbanos" que já näo sabem, nesses
lugares, ter comportamento
adequado, levando consigo
os "barulhos" urbanos de rádios e automóveis porque já näo
apreciam o barulho do mar e do vento e
nelas deixam a violência e os lixos da
cidade
Embora menor do que essa já grande área agrícola
dentro e fora da RAN, as
åreas Protegidas (Parques e Reservas Naturais - 5,1%
do território nacional) também elas incluem espaços agrícolas produtivos
no seu interior, valiosos pela qualidade dos produtos e técnicas
agrícolas tradicionais e pela
manutençäo da fertilidade dos solos e paisagens, mas já algumas delas
exploradas por milionários em cultura de forçagem altamente poluentes de
terras, culturas e freáticos,
num país que dizima todos os dias vegetaçäo natural ou tradicional ... explorando "terra e
homens", sem riqueza para estes
Também é
interessante fazer a relaçäo entre a superfície total das áreas
protegidas (+- 1 milhäo de hectares),
exactamente a área de floresta
ardida nos últimos 10 anos em
área quase contínua, enquanto as áreas protegidas, pulverizadas de
norte a sul, säo pequenas, mas
ameaçadas pelo assalto do turismo ou
da habitaçäo de luxo ou, pior, por obras públicas faraónicas e altamente comprometedoras até do sentido do
que se entende por área protegida, sobretudo de
Parque e Reserva Natural, algumas das quais fazendo parte do
continuum naturale europeu
ou Rede europeia de conservaçäo da Natureza,
de que
Portugal é näo só subscritor
(Convençöes de Bona e de Ramsar), mas quase único possuidor de redutos
únicos de litoral europeu mas, por isso
se lhe constroem marinas
(estuário do Alvor - Reserva Natural), ou
pontes e autoestradas (Reserva
Natural de Castro Marim e do Tejo)
ou apenas autoestradas (Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros) ou também ainda Habitaçäo e Turismo (Paisagens
Protegidas de Sintra-Cascais e P.P. do Sudoeste Alentejano) ...
tudo isto nos únicos
5.1% de de áreas protegidas, como
se já näo houvesse mais
espaço "aberto"
para tais obras, nestes 89060 Km2
Quem
cuidadosamente visitar o país de norte a sul (näo esquecendo a visita aos
locais onde o fogo grassou), verá como o litoral é uma
paisagem em ruína e uma lixeira
quase contínua, incluíndo nesta
classificaçäo as expansöes industriais com arquitectura e materiais de barraca, ou
urbanas à brandoa que, na sua
totalidade, excedem em área de ocupaçäo,
a que é ocupada pelo casco urbano
histórico que chegou aos anos 50
incólume e näo parece que desde aí a populaçäo tenha aumentado para tal justificar, excepto a migraçäo
forçada dos que demandaram o litoral
Para observar
o que se afirma basta para tanto
tomar a estrada Lisboa-Braga ou o
combóio, ou percorrer a estrada
Faro-Ponta de Sagres, sem que
seja necessário sair do transporte utilizado
Quanto à
estrada algarvia, em vez de rematado o seu percurso pelos antigos muros caiados de branco, a habitaçäo
regional e as amendoeiras misturadas coms pinheiros mansos, säo
hoje rematadas por armazéns
de sucata ou de
quinquilharia ou electro-domésticos, estufas de plástico
abandonadas e/ou destruídas
Nem
ficaram as velhas e lindas estradas nacionais como turísticas, nem as novas acrescentaram
facilidade de acesso porque continuam a
ser "urbanas" e sem se
integraram no relêvo natural,
desfazendo-o como quem esmaga um
esqueleto desnecessário para caracterizar
um tipo de paisagem
Quanto
ao país mais ao norte, visite-se Arco de Val-de-Vez, Vila do Conde e
franjas de Valença, o cordäo dunar entre Espinho e Vila
Nova de Gaia, veja-se entretando a forma e arquitectura dos edifícios,
os materiais, cores e dimensöes, incluindo dos
"melhores" hotéis de Espinho e do centro de Braga, a sua integraçäo na arquitectura patrimonial,
näo deixando de ver as chapadas de betäo na Sé de Braga
A falta de sentido estético e de ordenamento näo é
um problema ligado apenas ao
sector agrícola mas a todo o tipo de
gesto e forma dos portugueses de hoje intervirem nas paisagens, como se a criatividade e ancestral habilidade de as ler, interpretar e humanizar,
se tivesse esgotado
Como pode um país täo rico na variabilidade de
paisagens, algumas verdadeiras liçöes
de
história da Arte
de
Cultivar a Terra,
e de a
urbanizar, rico em biodiversidade e produtividade primária, nos vales, nos estuários e cordöes
dunares , e no Mar, ter
independência nacional
com tanta dependência alimentar
do exterior, paisagens que
säo a sustentaçäo do clima e
que foram a razäo número um de ser milenário
de identidade política, geográfica e até de alta procura
Turística
Como se
as cidades tivessem levado milénios a nascer e crescer
para acabarem täo mal e täo depressa
Näo é
pois de estranhar que tendo sido o turismo, nos últimos 25 anos, o mais importante sector da economia
portuguesa (depois das remessas dos emigrantes e impostos), esteja hoje
em recessäo aflitiva, e confessada, querendo agora invadir, com
desespero, näo
só os espaços rurais
(Turismo em Espaço Rural -
T.E.R.), como as próprias e poucas åreas
Protegidas e que o näo säo mas säo belas, repetindo o mesmo tipo de programas de modelo algarvio
Nas escolas
de Portugal o ensino näo
contempla, para todos
os graus, matérias humanistas hoje fundamentais dada a grande velocidade
de evoluçäo das sociedades), em que
matérias de educaçäo estética e de ecologia ligadas ao ordenamento das
paisagens säo täo importantes como aprender a ler e a contar fazendo ter pena dos alunos do 9º ano
quando se lê o que lhes é ensinado de
ecologia e ordenamento que disso só tem o
nome, e de que nada restará, como substracto útil,
ou para
níveis de ensino mais avançado,
para que uma vez profissionais, näo se olhe a natureza e paisagens, como um
objecto sem reacçäo aos maus tratos
Com tal tipo de intervençäo nem o turismo nem os espaços poderäo sobreviver sem política de
ordenamento e de Protecçäo do Ambiente e das
Paisagens, do património natural e
arquitectónico, de acordo com a especificidade e genuinidade de
cada regiäo e local
A näo
ser assim, näo restará nada nem para
o espaço nem para o
turismo, já que o espaço físico interessante
parece ser täo limitado, que tem de invadir o pouco que
resta de belo e vagamente
equilibrado ecologicamente e quanto à ossatura identificadora e geradora
da beleza das paisagens e dos
centros de povoamento
, ficando apenas uma paisagem do IV MUNDO
Parece näo poder caber aqui falar no desporto
nacional e internacional no
espaço agrícola e natural,
ou áreas
protegidas, com invasöes e
alienaçöes
todo o
terreno,
nem mesmo do Rally Rampa da Arrábida (o único
reduto de floresta pré-glaciária da Europa, bosque de sombras e de perfumes,
cantado por Sebastiäo da Gama, seu primeiro
"vigilante") mas já que falamos de economia agrícola,
é forçoso falar na multiplicidade
de usos a que
o espaço agrícola e de protecçäo
está sujeito, incluindo estes novos usos
sem ordem nem regulamentaçäo, como se
näo bastasse a contínua reduçäo dos poucos espaços onde a vida ainda flui, mas
com certeza por pouco tempo, já que é
perturbada e violentada quase ao mm2 por
qualquer tipo de transporte público ou privado, colectivo ou individual,
de trabalho ou de desporto, que
permite acesso a todo o lugar, e por usos que naturalmente säo
imcompatíveis
A loucura
da procura e elogio
da natureza näo pressupöe
ir a correr usá-la com mais
intensidade e diversificaçäo de utilizaçöes, antes pelo contrário
Quanto ao litoral português, a zona mais rica do país, mas também a mais frágil, espécie de
bacia de recepçäo de tudo o que "escorrega"
do interior norte e leste, está atafulhado de caos , de excessos de gentes (80%), e
de tudo o que
às gentes diz respeito,
como se o país
se tivesse reduzido à faixa
costeira e, o que näo é, fosse para
deitar fogo
Näo se
podem desligar as paisagens
agrícolas das paisagens
naturais (e selvagens) - todos säo
continuum naturale - e, muito menos,
dos habitantes que delas foram os
obreiros e, portanto, da sua forma de habitar
os espaços, já que a Harmonia Terra-Homem sempre
existiu nos países fazendo-os belos e férteis, ou feios e desérticos,
sejam as pessoas novas ou velhas, com sabedoria colhida nos livros
ou fora deles, porque
o complexo de doutor näo pode
chegar nem à agricultura nem ao engraixador, porque uma
coisa é haver acesso ao grau escolar
a que todos têm direito só porque nasceram,
outra coisa é pretender que
qualquer cidadäo da populaçäo activa tenha grau universitário, desfazendo a
pirâmide de equilíbrio natural
dos vários níveis profissionais, semelhantemente à forma de uma cadeia alimentar, já que o
homem quanto mais força o natural,
maior desiquilíbrio encontra no
seu viver
No que a Portugal diz respeito, e ligado à sua
grandeza passada e presente, será interessante olhar para os pequenos
desenhos apresentados com a ocupaçäo do
coberto vegetal climácico, comparando-a
com a
distribuiçäo da ocupaçäo humana,
bem como
da circulaçäo (estradas), já que
säo fruto umas das outras
É
importante olhar para trás para a história da evoluçäo das paisagens do país para melhor entender que a evoluçäo
näo pára nem que páre o homem - a
evoluçäo é regulada por leis cósmicas e näo
humanas - näo parando também o envelhecimento mas, a degradaçäo, àparte
as catástrofes naturais de näo intervençäo humana, depende mais da acçäo directa do homem do que do seu
natural envelhecimento, muito
embora sempre tenha havido grandes catástrofes
radicadas na acçäo do homem, mas as de
agora säo mais visíveis e afectam a
humanidade em bloco
E, assim,
vou mais uma vez voltar atrás
Após
retrocesso das formaçöes glaciares, a partir do ano 4000 a.C., intensifica-se o
povoamento da Península Ibérica, eventualmente
na sequência da desertificaçäo do Sahara (In: Ilídio Arújo - Litoral
português)
Esta
situaçäo quase obriga a pensar nas actuais gigantescas deslocaçöes das populaçöes do continente
africano, que ora por causa de
enxurradas, ora por causa de grandes
secas repentinas, conduzindo ambas a täo
grandes catástrofes tal que nesta última meia dúzia de anos,
säo obrigadas a andar de país em país à procura
de como viver,
fugindo da desertificaçäo,
repetindo gestos de há milhares de anos, mas que se
processaram lentamente
Porém,
no passado, ainda havia para onde fugir e foi assim que a faixa costeira da Ibéria assistiu à maior concentraçäo populacional, como o demonstram as
inumeráveis estaçöes arqueológicas e as
povoaçöes que a partir do séc.XII foram crescendo, sendo
hoje pequenas e grandes cidades, como no caso português Porto e Lisboa, Viana do Castelo, Póvoa do Varzim,
Matosinhos, Espinho, Figueira da Foz,
Setúbal, Lagos, Portimäo, Faro,
Olhäo, Tavira ou, as
mais pequenas como Caminha, Åncora, Esposende, Nazaré, Peniche, Cascais,
Estoril, Sesimbra, Sines, Vila Nova de
Mil Fontes, Sagres e Albufeira e Vila
Real de Stº António (In: Ilídio Araújo)
Será também interessante olhar um desenho da
Revista do Centro Nacional de Cultura de Mr.1993, Herança do Infante, onde
consta
A
ossatura urbana
ou Casco
histórico dos povoamentos do
país que se mantiveram incólumes
até aos anos 50/60 - eram a beleza
urbanizada inserida
inteligentemente na paisagem natural, fazendo do país
dos mais belos e harmoniosos do mundo, mesmo dentro da
singeleza das suas construçöes e
materiais, já que o requinte
em Portugal é "interior", e porque o clima
também näo exigia que dele nos
defendessemos com grandes "muralhas de pedra"
Essa grande
herança chegou aos nossos dias e
serviu o Turismo, que como menino
filho de pai rico a quem tinha sido deixado
um tesouro, porque näo trabalhou arduamente para o conquistar, delapida-o em curto espaço de
tempo comprometendo até a sua natural esperança de vida
O desenvolvimento dos séc. XIX e XX, juntamente
com o
denominado turismo balnear, fez aumentar extraordinariamente a
necessidade de construçäo de
equipamentos daí advindo
descontrole dos núcleos urbanos e degradando o litoral, sendo no entanto
famosa a Riviera portuguesa - Estoril
1905 - täo procurada e que de novo fez
sair o nome do país para o exterior, mas
que hoje (como e com o Algarve), é uma
verdadeira MATA DE BETÄO e de
betuminoso, para um turismo que já näo
aspira a nenhuma qualidade porque
já näo a há, näo
havendo sequer conforto para os residentes naturais, já que
se tornou também dormitório de Lisboa
O que se insiste em chamar hoje turismo de
qualidade (e turistas) demandam o Egipto, a Turquia, as Ilhas Galápagos, as
Gregas ou as Maurícias e Amazónia,
países longínquos e exóticos para os
ocidentais e até aqui pouco
inacessíveis como a China, a India ou
mesmo Miami ou, entäo, os grandes centros urbanos onde reside
cultura universal ou local dos vários continentes, näo esquecendo o
Tibet e mesmo os altos cumes dos Himalaias mas näo os nossos täo degradados
e de já täo pobre oferta nos
equipamentos, paisagens e até serviços,
porque o melhor foi delapidado ou está a
sê-lo
O turista de "qualidade" quer o
genuíno, exige muito e até o
inesperadamente simples porque natural, näo quer plástico, näo quer o que de mau ou parecido tem no próprio
país, porque turismo significa exactamente ir à procura
com ou sem programa, embora o turismo mais actual seja TEMåTICO
Voltando de
novo ao novo litoral português,
e acrescentando-lhe as consequências de novas migraçöes do
interior e de intensificaçäo turística,
o reforço de sistema viário e do mais variado tipo
de novos equipamentos, é quase óbvio poder-se concluir que o litoral corre o
risco de desaparecer como entidade fértil e/ou atractiva para o
recreio e o
turismo tal é
a sua (IN)CAPACIDADE de carga que há muito foi excedida, como se
lhe näo
bastasse o caos urbanístico das praias mais procuradas, como as da
Linha, a Praia Branca, Ericeira, Sesimbra,
Foz do Arelho, Salir do Porto, Vila Nova de Mil Fontes, Sines
(com autoestrada construída sobre
o eis-extenso areal), acabando em Vila do Conde porque, de facto, todas enfermam de grandes pecados
O caos implantado no país urbano, viário e agrícola, interior ou litoral,
tem todo a mesma raíz e creio
que vale a pena pensar como
degradou o próprio ENSINO, por maior que seja o número
inflaccionário de escolas de todos os
níveis, incluíndo o
universitário, já que, infelizmente, há graus de ignorância, incultura e de
distracçäo desse "nível", que custa a acreditar, mais uma vez, que
sejam só os estudantes a serem culpados do seu próprio insucesso escolar
ou, entäo, há epidemia é nacional
Da mesma
forma, se por um lado parece difícil poder
imputar a tantos agrónomos e
silvicultores a culpa da situaçäo a que chegou o espaço agrícola, por outro, se
os agrónomos culpam o analfabetismo
dos rurais, pergunta-se
para que servem e o que servem
tantos milhares de universitários da classe agronómica, da mesma
forma que se pergunta como é que outros tantos milhares de arquitectos
só agora constatam e se manifestam sobre
o caos arquitectónico que já vem de täo longe, é täo visível e continuam a ser responsáveis por PDMs que enchem espaços mas näo os ordenam, como
se ser arquitecto, e urbanista fosse
apenas projectar para construir pois que, já
na Primeira Renascensa a unidade
de projecto incluía
simultâneamente o espaço construído
e o aberto , numa unidade indivisível e,
hoje, esse espaço aberto - ou
verde - é apenas o espaço que
"resta" e que näo é necessário
impermeabilizar para mais projecto urbano
Depois, dá-se ao paisagista (ou näo), uns
canteirinhos para por uns "alegretes", ou já vem uma proposta
de "área verde onde nada cabe porque até têm de caber os automóveis
cuja área e dese- nho, näo fazem sentido e para o que basta
visitar as áreas de expansäo urbana dsede os anos 60
Pelo que foi dito parece que se reduziu o país a
Lisboa e ao litoral (mas é mais do que
óbvio) da mesma forma que parece
que turismo e agricultura andam sempre de mäos dadas, embora com pouco amor pelo meio
Veja-se,
para terminar este capítulo, alguns valores respeitantes ao
calcanhar de Aquiles do País
- o
litoral - e às suas mais ricas
zonas agrícolas, constituídas
pelos aluviöes
-
Profundidade dos aluviöes dos grandes rios que no litoral desaguam e com
caudais superiores a
100 m3/s:
-
Douro 62 m -
Vouga 60 m -
Mondego 48 m -
Tejo 80 m
In: Ilídio de Araújo - Litoral português
3 -
AGRICULTURA - AMBIENTE
ECOLOGIA-DESENVOLVIMENTO
Já foi
dito anteriormente o que julgamos fundamental para que a
agricultura e a floresta, constitua
pedra basilar do desenvolvimento, entendendo este como o crescimento harmónico de todas
as actividades económicas, incluindo as artesanais, para
todas as classes
socio-económicas, nos locais onde as pessoas nascem, já que a elas deveria ser
dado o direito de aí continuarem a viver humanizando e conservando os espaços, tirando deles o que
deles se pode tirar, dando-lhes a beleza
que milenarmente se foi implantando por
suas mäos
As áreas
agrícolas contribuem para a grande variabilidade de paisagens de cada país, tornam-no belo, humano
e saudável, permitindo
ainda que seja visitável e só as populaçöes rurais, em seu
sítio, as podem guardar e delas seräo os melhores guias
turísticos
O homem
urbano expulsou a natureza de dentro das cidades, decretou o ódio à árvore
dentro e fora delas, seculares ou
recém-plantadas porque já näo sabe o
verdadeiro sentido nem do campo nem da árvore suporte do mundo, da
natureza nem da vida em si mesmo,
sabendo no entanto que a
sua vida, estando no fim da cadeia do
grande ecosistema planetário, näo persiste além da da Terra e
do seu amanho com carinho como se fora
um jardim, e näo com químicos e super mecanizaçöes e artificialismos sem limite
No
entanto, os engºs agrónomos parecem agora só querer envolver-se em gigantescas
obras civis ou na indústria química,
relegando o aspecto da agro-economia aplicado aos bens
agronómicos como se de bens
inertes se tratasse, esquecendo
a essência da
formaçäo científica e técnica original (e criativa), de cujo título profissional
säo possuidores
E, mais uma vez,
se o país é turístico no espaço
rural (T.E.R.) porque o restante
já está täo degradado e näo atractivo para nenhum turista, ao menos que o espaço agrícola a sujeitar ao
set aside que seja de utilidade
turística sem perder
a qualidade agronómica, ecológica
e socio-cultural ... e genuínamente rural
A
natureza é de tal forma generosa que mesmo depois de se oferecer ao Homem dando-se na totalidade dos
seus recursos renováveis e näo
renováveis (como a rosa se dá toda no
seu perfume), exploráveis até às entranhas ajudada pela detecçäo remota,
ainda é capaz de oferecer um surplus de poder ser o
espaço priveligiado
para alimentar
a sede do homem de beleza visível
As
cidades desumanizadas, foram elas também
que lançaram o turismo, transformaram a cultura rural e tradicional em folklore
de servir no Hotel à hora do
jantar, näo vá o turista perder tempo a
ir contactar directamente com os locais,
a populaçäo e seus costumes
AS åREAS
AGRïCOLAS
(e seus
habitantes)
SÄO
RESPONSåVEIS por:
1 -
Fixaçäo de forma concentrada ou dispersa das populaçöes
Säo Povoamento
conservando assim o património
arquitectónico rural e tradicional ligado à habitaçäo, aos assentos de lavoura,
ao património fundiário e bemfeitorias, bem como o que daí decorre de artefactos
e artesanato, de lendas e
religiäo, de Festas e de
Romarias e, ainda, de diversidade de gastronomia regional e de linguajares
Säo património histórico, geográfico,
arquitectónico e cultural
2 -
Produçäo de bens agro-pecuários e
florestais, sendo suporte da economia
nacional, diversificando-a, sendo ainda uma espécie de exército de rectaguarda na
ocupaçäo e protecçäo dos espaços e da
mais antiga forma de os fazer produzir,
sendo ao mesmo tempo guardiöes e fiscais
de actos indignos para com a natureza
Säo independência nacional - ou menor
dependência
3 -
Conservar a diversidade do património
genético agropecuário e florestal regional - banco de
genes natural no local próprio intervindo ainda na conservaçäo da dinâmica dos
ecosistemas naturais e cultivados e nos microclimas gerados
Säo património natural
4 -
Conservar o património faunístico autóctone e migratório dependente das
culturas agrícolas e da flora regional
Säo património mundial
5 -
Conservar os espaços agro-silvo-pastoris na
sua harmoniosa
interdependência cuja sabedoria secular
näo é universitária, com entendimento
ancestral do sentido de continuum
naturale e da sua inter-relaçäo agros-saltus-silva
Säo património mundial
6 -
Conservar a saúde e beleza das
paisagens que os rurais tratam ajardinando
e os urbanos tratam a régua e esquadro
7 -
Conservar os mais belos espaços de recreio e de silêncio
Säo património mundial
8 -
Diversificar paisagens e climas e
micro-climas regionais e locais
que säo o suporte primário da
identidade regional e nacional/
paisagística e até monumental, já que as
paisagens agrícolas säo também
património do mundo
9 -
Conservar viva a
história da paisagem e do país
10 -
Conservar a raíz do Homem ancestral e mítico
11 -
Conservar a qualidade do ambiente, do solo, da água, das fontes e das nascentes
12 -
Conservar os vales como vales e as montanhas como montanhas nas suas funçöes essenciais de geradores de caudais
de água,
de protecçäo contra o fogo e
contra a erosäo hídrica ou eólica,
mantendo incólume a drenagem natural do ar e água
que nos vales circulam
13 -
Conservar as áreas de infiltraçäo e drenagem através da escolha das culturas,
conservando ainda o seu grau natural de fertilidade
14 -
Conservar a cultura rural em su sítio
e a vida
na sua plenitude multifacetada
15 -
Conservar a biodiversidade natural e socio-cultural
16 -
Conservar o natural contra o artificial
ou pelo menos equilibrá-lo
17 -
Conservar a identidade regional e nacional já que säo a
História nacional na sua semente original em cada espaço
bio-climácico
Pensamos que
estas razöes deveriam ser mais
do que suficientes para encarar a economia agrícola em funçäo de
muitos mais parâmetros, e de igual ou
mesmo maior valor económico embora de difícil e directa mensuraçäo em cifrôes,
dando lugar aos rurais que sentem e amam
a terra como näo acontece na cidade, já
que näo säo nem podem ser exclusivamente
industriais de produçäo contínua e em série
os dos cash-crop, embora à funçäo das áreas agrícolas näo possam ser indiferentes nem as tecnologias nem a beleza
Assim como o cientista da engenharia genética sente
que já violou os limites da ética que a
vida exige, parece-nos que o homem urbano também violou o sentido do Campo e
recusa entender e relacionar as
consequências, apesar de em 1992 cientistas de mais de 180 países - e de tantos
ligados a mais do que 1500 NGOs, incluindo o Dalai-Lama e outros notáveis - se
terem, como nunca e ao mesmo tempo, debruçado
sobre os problemas da
Terra e da sua esperança de
vida -
apresentando resultados
comprovados científicamente, na Conferência mais importante do século, a
ponta de ter sido denominada Cimeira da
Verdade - cujo tema foi
ambiente-desenvolvimento
Apetece voltar
a citar Camöes como grande
renascentista do seu tempo, que tendo utilizado a mitologia
para figurar a realidade geográfica
e as forças da natureza, apesar
da sua má fortuna,
confiava no engenho e força do
homem para renovar
e ampliar o mundo
Citando
Vitorino Nemésio a propósito do poeta
"pelo
génio de Camöes participamos a fundo na
perpétua aventura do homem que se busca e justifica"
Estamos a necessitar de uma II Renascença
que traga
ao Homem ética planetária
sem o
que será inútil falar em direitos
universais do homem
E se a vida é uma eterna aventura de
serviço - que seja bem feito e
"sirva" O HOMEM
E se Portugal teve gestos
pioneiros na I Renascença, pode voltar a tê-los na II
4 -
COISAS PARA PENSAR antes que o
tempo ultrapasse o tempo ... ou ...
uma Agenda 21 e uma
Carta da Terra ...
com Eco em Portugal
Do meu
ponto de vista concluo:
- näo há
independência nacional com 75% de dependência alimentar
- näo há
agricultura com ausência de responsabilidade por parte da cidade
e técnicos cuja formaçäo é a mais
alta do ensino, incluíndo a investigaçäo que näo pode sentar-se em Lisboa porque näo
tem os "milhares de
microclimas do país", de modo a dar
resposta aos problemas nacionais
próprios à sua ecologia, incluindo a tradiçäo
-
näo há país com identidade nacional sem
identidade paisagística arrazando o
socio-económico tradicional milenar do homem lusitano agarrado à terra
-
haver países sem fronteiras e com
passaporte europeu, näo pode significar haver paisagens iguais pois
iguais só no deserto
-
näo há
turismo de qualidade sem a verdade
do território, dos espaços,
da história e da cultura
traduzidas nas paisagens e pelas
gentes que as construíram,
habitam e säo os
legítimos guardiôes e "fiscais por direito adquirido"
-
se o
homem da cidade já possui a 2ª
habitaçäo no campo ou à
beira-mar para fugir do stress da cidade e reencontrar-se com os ritmos da
natureza (as suas raízes), näo faz sentido acabar com os espaços e com quem sempre os entendeu
e preservou em su sítio
-
mesmo que "os produtos" näo
venham do Campo português, ele será
responsável por outro tipo de alimento que na cidade näo existe, e é nele que o
homem da cidade sempre procura, mas que
näo lhe dá o direito de invadir e violar, como se fosse casa sua, porque näo é - é rural dos
rurais - e o stress näo é monopólio da cidade
- näo se
vive de paisagens e áreas industriais e de eucaliptais. O que
daí resulta deverá apenas acrescentar dinamismo, riqueza e conforto à vida, em vez de a comprometer
para todos, à custa só de alguns
- mesmo
a Suissa que se diz näo ter espaço agrícola, näo tem 75% de dependência
alimentar do exterior territorial, nem devasta o que tem, sabendo conciliar o
espaço agro-pastoril com o de recreio,
de acordo com as estaçöes, conciliando
usos múltiplos sem investir
cegamente em betäo e em brandoas, por mais "mau
gosto" que tenham, já que aí preside pelo menos o sentido
de ordem rural e paisagística de
há milénios
- näo há
país se näo houver real ordenamento geral
das paisagens de protecçäo e de
produçäo e, destas, sem ordenamento cultural florestal e
agrícola
-
tanto se
pode desertificar por ausência de água como pela
sua acumulaçäo escessiva num local retirando a possibilidade da sua existência distribuída homogeneamente, já
que à partida a chuva cai em todo o lado
- até no "deserto"
-
näo säo milhares de milhöes de contos
que fazem parar o deserto e/ou a pobreza, mas sim onde e como se empregam já
que o tempo dos faraós näo só já terminou há muito, como
os seus
genuínos lugares säo já desertos de facto
- está
escrito algures que desde a sua integraçäo na CEE, Portugal foi o país que mais ambiente
destruíu, em nome do desenvolvimento
e que mais árvores abateu no mais
curto espaço de
tempo (1986-1992)
- da
CEE, Portugal é o único país que contempla na sua Constituiçäo o Direito ao
Ambiente e Qualidade de vida - Foi
pioneiro
-
hoje a responsabilidade de degradaçäo do
ambiente e das fontes alimentares (solos - húmus - água potável) näo é de um continente ou
país, mas de cada cidadäo, embora com diferente grau de responsabilidade de
acordo com a sua sensibilidade e grau cultural, sem contudo poder já haver espaço para a
ignoräncia porque é muito alto o preço a pagar
- o
Homem, como a Terra, säo entidades
Holísticas
5 -
Como se se
pudesse
concluir
Fazendo apenas citaçöes de homens de grande
pensamento, admirados pelo mundo, e que
defenderam utopias do seu tempo e realidades de hoje
Sakarov
Privado da sua História, o
Homem entra em degradaçäo
Agni
Yoga
A Nova Era só será construída
através da cultura
Por isso se proclama cultura
como a única defesa contra a
desintegraçäo
Hoje a luta é só esta
Mesmo que nos digam
fanáticos, as pessoas ouvem e habituam-se
Assim se inaugura o Padräo da
Inteligência
Hermano
Saraiva (In: Revista Forum Estudante - Mr.1993)
Temos de optar entre governos
catedráticos ou governos analfabetos; mas um governo de alguma coisa há-de ser:
ou é de patos bravos, ou é de
capitäes-mores, ou é de catedráticos
As opçöes num país sem elites
näo säo muitas e foi o caminho
C.K.Chesterton (In: "The
Thing" pág.35)
If you don't see the use of it, I certainly won't let
you clear it away
Go away and think
Then, if you can come back and tell me that you do see
the use of it, I may allow
you to
destroy it
Recomendaçäo
do Conselho da Europa
A
conservaçäo do património arquitectónico deve ser considerado näo como um
problema marginal mas como objectivo primordial da planificaçäo urbana e do
ordenamento do território
Recomendaçäo
da UNESCO
Cada um dos
bens do patrinónio cultural ou natural é único
e o
desaparecimento de um deles constitui uma perda definitiva e um empobrecimento
irreversível dos patrimónios
Lisboa, 10 de Março de
1993 - Maria Celeste d'Oliveira Ramos
A N E X
O S
- Legislaçäo sobre Protecçäo
do Ambiente
- Legislaçäo sobre protecçäo
do Património
construido
- Projecto Corine
- åreas Protegidas