16 julho 2018

Ordenamento, revitalização da memória e Prémio INH


Terça-feira, Setembro 27, 2005

Ordenamento, revitalização da memória e Prémio INH - um texto de Maria Celeste Ramos
Portugal premiado e que premeia - O ordenamento do território, a revitalização da memória das paisagens e dos homens e o Prémio INH

Premiar algo, ou alguém, sempre foi e será um estímulo, tanto para a criança como para o adulto, não importa em que manifestação da vida, porque se vive continuamente frente ao exterior do qual se precisa de receber uma "referência" – somos seres sociais. Qualquer prémio é um agradecimento, tal como são também as palmas de satisfação que irrompem de um teatro, ao ouvir-se um qualquer espectáculo que deliciou os presentes, num acto de pura e espontânea generosidade de quem não ficou indiferente, resposta colectiva a uma acção de quem serve o colectivo com qualidade.
Portugal e os portugueses lidam mal com a sua própria qualidade, mas é necessário premiar dando o melhor em cada fase importante da vida, para não se ficar no prémio póstumo. Como exemplo da pouca atenção que se dá à falta de qualidade do espaço doméstico, que tem de ser "casa para o homem ter conforto e ser feliz", refere-se que a actual forma de construir habitação revela, entre outras, uma tal irreverência intelectual que conduz a uma total ignorância do "lugar", da sua história ligada aos "habitantes" da natureza (entre os quais se incluem os rios e ribeiras, (e) as árvores, as ervas secas do verão mediterrânico, os pássaros e os grandes e pequenos relevos), e das tipologias e formas de povoamento milenares.

Assiste-se, assim, frequentemente, a uma pretensiosa modernidade de utilização, sem qualquer propósito, de materiais e cor "estrangeiros" aos locais, e mesmo à luz dos locais, como se fosse natural mudar de B.I. local e regional, assim do dia para a noite, e fazer desmoronar todo o passado e a memória portuguesa que fala do tempo de civilização e de consciência colectiva. E onde e em que estado está ele, o espírito de cada paisagem, que em cada local conta uma parte crucial da História dos Homens.
E note-se bem que até os pássaros constroem os seus ninhos, na terra, na água, ou no topo de uma árvore a sua casa para o encontro do casal e a nidificação. E ainda mais extraordinário são os pássaros jardineiros cujo ninho é uma obra de arte, construído no chão, feito de palhas e ramos e que não se esquecem, para encantar mais a fêmea, de enfeitar com o que se denomina "jóias", sejam ervas ou flores, ou pedrinhas todas iguais, para atapetar o chão – é a construção do maravilhoso, que outra designação posso dar ao que vi fazer?
A Natureza é mais forte do que a arte do Homem. A habitação do Homem tem de obedecer, pelo menos, a "dimensões" mínimas – é o território fundamental onde a vida privada se desenrola. Mas, actualmente, parece que a "nova" arquitectura está sequestrada, como se disse, pelos novos materiais e pela cor, para além de não ser criteriosa na escolha do local de implantação; e tal falta de critério leva à invasão do campo, porque o campo está a ser invadido, sem sequer haver objectiva e actualmente qualquer necessidade de tal acontecer, e embora tenha sido sempre à custa do "campo" que a cidade se desenvolveu, mas integrando valores naturais.


E sublinha-se que toda e qualquer espécie animal e vegetal não pode sobreviver sem a sua dimensão vital territorial; e, portanto, não é indiferente que uma dada utilização do território seja aqui ou acolá e feita desta ou daquela maneiras – têm de ser uma localização/implantação e uma caracterização realmente específicas e adequadas.
Ao falar dessa dimensão territorial importa salientar que a casa do homem é mais do que a habitação, é o primeiro espaço colectivo e espaço cultural, e que a arquitectura que não identifica – que desidentifica –, e que desqualifica, contribui para um suicídio urbano, social, cultural e ecológico.
Alienar os espaços, mesmo construindo belos objectos de arquitectura aqui e acolá, é alienar a vida dos homens, porque "objectos isolados" não constroem cidade, não são urbanismo, não são cidade, não são "habitar", mas apenas objectos singulares que orientam e paginam a rua ou um lugar, mas que não se substituem aos verdadeiros lugares nem fazem disfarçar a envolvente sem beleza, da mesma forma que uma árvore isolada na cidade pontua um local específico, mas não pode servir para tapar a ausência de qualidade.
E porque também não se dá importância à terra na sua força vital, e ao que os homens sabiam das forças da Natureza – e foram fazendo "lugares mágicos", – também a mesma força vital tudo pode fazer desmoronar de forma incontrolável, sendo o homem a maior e última vítima, não apenas materialmente, mas também psíquica e culturalmente.


Destruir as paisagens é destruir a História e, sem ela, um povo entra numa total degradação sem regeneração, pois resta apenas o deserto físico e cultural; porque é tão vital (aprender a) ler as paisagens como (aprender a) ler a língua-mãe. E, já agora, refere-se que o deserto físico natural que era com a formação da Terra apenas 20% do Globo, ultrapassa agora mais de 40%, e feito pela mão do homem.
Tem sido relegada para a indiferença a possibilidade de cada um, individualmente, conquistar algo para mostrar a si próprio e à sociedade. Instalou-se, de algum modo, a lei do menor esforço e da ausência de ambição intelectual e cultural sem o que o poder crítico não existe, mas sim a demente tolerância, espécie de adormecimento que se apropriou do inconsciente, que o guarda e torna rotineiro.
Não premiar, é decisão recente para que "ninguém" se sinta humilhado ao lado de alguém com melhores resultados quanto ao que e como aprendeu, como se distinguir e premiar qualidade e aptidões não fosse, exactamente, uma das melhores formas que o mundo sempre usou para saber quem é quem, e quem melhor sabe fazer para proveito individual e colectivo. Porque, afinal, premiar, é uma forma de magnificar.
Talvez por tudo isso, neste tempo de globalização da informação e comunicação se torne mais visível a evidência das características negativas, já tratadas a nível de estudos sociológicos, manifestadas também por grandes escritores e pensadores portugueses, das quais as mais citadas serão, à nossa escala nacional, a inveja, a falta de auto-estima, a depressão colectiva, e o "medo", entre outras. O que não parece, contudo, ser visível nas comunidades portuguesas que se encorajaram a largar as fronteiras de "casa"; já que, "lá fora", são consideradas como a "melhor mão-de-obra", até, por exemplo, de grandes e emblemáticas obras públicas.
Eu recuso "marcas" de fatalidade-fadista e incompetência. É necessário premiar, em Portugal, ou elogiar de qualquer forma, ainda em vida, mas fazer isso, sem cair no oposto da patética auto-promoção e narcisismo nacional.

É preciso, urgentemente, recomeçar e revitalizar o valor do que é nacional, o que passa pelo revitalizar do amor ao saber e às paisagens milenares que foram descaracterizadas mesmo adentro dos espaços históricos que, envelhecidos, merecem a sua urgente recuperação antes que desmoronem mais, mas também passa por uma moderna arquitectura que faça diálogo concertado com o passado; porque as cidades têm de evoluir, em vez de serem desmanteladas pela total ausência de valores de qualidade, da salvaguarda da memória, e do entendimento dos lugares como elevação cultural e mesmo espiritual.
A cidade geradora e incubadora de "ideias" envelheceu, e com ela os habitantes, que adormeceram. A cidade não é mais tida como o cadinho de cultura concentrada e sua difusora, mas apenas como o lugar "onde se mora".
Ora a cidade é, para além das "Áreas Protegidas", a ferramenta fundamental de ordenamento das paisagens e de valorização dos territórios e de todos os seus habitantes, os homens, os animais e as plantas; mas um ordenamento não é gestão física e zonamento administrativo, mas sim compreensão do complexo biofísico responsável pela manutenção da dinâmica de continuidade da biodiversidade e de crescente e coerente qualidade de vida, do ambiente natural e da cultura dos homens.
O nascer do sentido moderno de ordenamento no pós-industrial de há pouco mais de dois séculos, já se entornou contra o seu sentido de ordem, sendo agora o próprio tecido urbano, onde o ordenamento começou, que se rompe e vai desaguar, como efluente, no campo.


Ao moderno ordenamento da cidade seguiu-se o do campo, que já era belo e ordenado, segundo leis naturais, mas ao que se acrescentou modernidade fazendo-se nascer as mais belas paisagens como desenhadas por "arquitecto" num vaivém ordem da cidade/ordem do campo interligados e inter-dependentes.
Mas mais uma vez a cidade cresceu e se desorganizou, e o campo a seguir, num vaivém de ordem/desordem, culminando actualmente na desordem global acrescentada pela provocada pelo sistema viário de velocidade que em vez de humanizar os espaços como função inicial, ajudou a desmantelá-los destruindo a sua harmonia e os núcleos responsáveis pela dinâmica de geração da vida diferenciada em cada ecossistema; destruindo-se grandes e pequenos relevos, destruindo-se climas, retalhando-se territórios e ecossistemas e dando-se passos largos no sentido da desertificação biofísica, fruto último do subdesenvolvimento intelectual.
Sublinha-se, novamente, que premiar é distinguir pela qualidade, e é estímulo para o crescimento da qualidade. E lembremos que o País tem na sua História um Papa, um prémio Nobel de Medicina e outro de Literatura entre tantos ligados ao "pilar" nacional (o pensamento - a literatura - tornando o país único celebrante de um Dia Nacional que celebra A Língua). Isto entre tantos outros prémios internacionais, por exemplo, de cinema, de televisão, de arquitectura e de arquitectura-paisagista, de design e de desporto. Mas onde está a divulgação destas listagens para que sejam de todos conhecidas, e para que sirvam de estímulo natural? Substituindo-se uma atitude envergonhada, como se nunca se passasse nada?
Mesmo que de forma ainda tímida e com correcções que deveriam ser feitas para que tenha maior eficácia e visibilidade, o Prémio do Instituto nacional de Habitação, o Prémio INH, que já vai na sua 17ª. edição, pretende, como mais nenhum prémio deste tipo, distinguir, não o "objecto" de habitação, mas o conjunto e a forma como se insere nas paisagens salvaguardando a sua aptidão e inserção, onde quer que seja, sem desmantelar espaços e respeitando lugares e preexistências.
Vai para além da qualidade da fachada e do desenvolvimento interno dos fogos, procurando também a melhor apropriação do virtual morador sem mais estigma de "habitação social", para que haja, simplesmente, habitar.


Há muito que pensar sobre tudo isto, e, designadamente, sobre os factores associados à qualificação arquitectónica e paisagística do habitar, já que os novos materiais e cores não têm, frequentemente, critério que dê continuidade ao espírito regional e tradicional, independentemente da crescente qualidade de alguns espaços públicos, materiais naturais e jardins que, finalmente, fazem parte da "unidade" de apreciação do Júri do Prémio INH e que têm sido importantes aspectos associados à conquista anual do Prémio, que sempre pretendeu prestigiar as respectivas equipas promotoras, as autarquias em que as obras se inserem e as populações a que os conjuntos se destinam.
Portugal tem 33 regiões naturais – tão diferentes –, e quem faz arquitectura tem de saber ler a diferença e integrá-la, em vez de unificar desqualificando, por ignorar o lugar que tem forma e cor "naturais"; o país não pode "mudar de visual" e tornar-se "irreconhecível" pelas gerações que dele têm outras memórias.
Portugal situado num centro geométrico do mundo e na latitude da Ecúmena, tem todo o ano uma luz natural especial, transparente e clara, o que só por si é matéria de inspiração para desenhar com a luz, desenhar com a natureza, desenhar com o clima
Os conjuntos edificados, como as áreas protegidas, são ferramenta primordial de ordenamento e não de destroço da memória contida no mosaico paisagístico, cultural, e socio-económico. As paisagens, como as cidades, são espelho da inteligência e saúde do país e dos seus habitantes. O Prémio INH pode ser um importante responsável pelo renascer do sentido de cidade e do habitar e ser semente de novo ordenamento urbano.

Maria Celeste d’Oliveira Ramos, Arq.ª paisagista, Eng.ª silvicultora

As imagens são de António Baptista Coelho: fig. 01, praça em Arraiolos; fig. 02 natureza; fig. 03, Santuário do Cabo Espichel; fig. 04, natureza, S. Miguel, Açores; fig. 05, natureza humanizada, parque Gulbenkian, Lisboa (arq. pais. Gonçalo Ribeiro Telles, cerca de 1970); fig. 06, o muito humano pequeno bairro do Telheiro, promoção da C.M. de Matosinhos (arq. Manuel Correia Fernandes, 2002).

O Preconceito na apreensão da Cultura da Cidade e do Território - um artigo de Maria João Eloy

Terça-feira, Agosto 02, 2005

O Preconceito na apreensão da Cultura da Cidade e do Território - um artigo de Maria João Eloy
Breves notas de apresentação
O nosso Infohabitar, uma revista/blog que é de todos os que a fazem e lêem tem, mais uma vez, o grato prazer de apresentar uma nossa nova colaboradora, a Arq.ª Maria João Eloy, através da edição do seu artigo intitulado “O Preconceito na apreensão da Cultura da Cidade e do Território e da Paisagem Urbana”, cujo interesse ficará bem claro logo numa primeira leitura.

Maria João Eloy é Arquitecta e Mestre em Arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa (FA/UTL) e não sendo aqui o lugar de fazer a sua apresentação, refere-se, no entanto e de forma telegráfica, que desenvolveu uma carreira diversificada entre o sector privado e o sector público, nomeadamente no FFH, no GAS, na SCML e na DGOTDU, registando-se, ainda, as actividades como profissional liberal e no domínio da pintura.
Finalmente, salienta-se que o texto que se segue constitui a adaptação de um excerto da Dissertação de Mestrado desenvolvida por Maria João Eloy na FA/UTL em 1998 e intitulada "O Preconceito no Conteúdo da Cidade."

A.B.Coelho, Encarnação, 3 de Agosto de 2005


O Preconceito na apreensão da Cultura da Cidade e do Território
Maria João Eloy
1. Pretende-se, com este texto, contribuir para o entendimento das implicações que têm as renovadas gerações de preconceitos para a apreensão da cultura da cidade e do território e da paisagem urbana;
2. Os pre-conceitos ou pressupostos, assumidos como regularidades e crenças e traduzidos em atitudes, aparecem como instrumentos para lidar com a realidade e interferem na gestão dos conhecimentos que fundamentam todo o tipo de intervenções na cidade, ou no espaço urbano;
3. Isto significa que as intervenções de todos os que fazem o espaço urbano, estão inseridas numa situação hermenêutica que consiste em possuir um conjunto de preconceitos que permitem leituras interpretativas, ao desenvolver antecipações de sentido projectadas pela compreensão prévia (Gadamer)1. Compreensão prévia que pertence ao campo da investigação das tendências dominantes julgadas suficientemente significativas;
4. Situação que acontece, tanto aos profissionais e agentes políticos que concebem, desenham e gerem o território e o espaço urbano, como aos habitantes e turistas que os povoam. Que acontece, quer aos cidadãos e funcionários municipais que o protegem, quer aos terroristas que o destroem;
5. Parece-nos fundamental que, na actualidade, a gestão dos conhecimentos que fundamentam todo o tipo de intervenções no espaço urbano, não dissocie os elementos de um discurso da regularidade e da reprodução, dos elementos do discurso da descontinuidade e da rotura (Decouflé)2;
6. Através de imagens, procuraremos mostrar as crenças e os preconceitos, traduzidos em regras de jogo, que são utilizadas, tanto no discurso da regularidade e da reprodução, como no discurso da descontinuidade e da ruptura do urbanismo, na era da globalização;
7. Não poderemos definir essas regras, porque é um problema cuja resolução envolve uma intervenção colectiva e transdisciplinar e exige uma praxis pouco ensaiada em Portugal;
8. Pretendemos apenas suscitar indagações sobre os temas da civilização como cultura urbana e o das implicações do ordenamento do território na paisagem urbana. Estas indagações apoiar-se-ão em registos fotográficos que se pretende possam fornecer sugestões para comentários e debate;
9. Para falar da paisagem urbana, conceito que decorre dos nossos preconceitos em relação à cultura urbana e ao ordenamento do território, recorreremos a imagens fotográficas de diversos tipos de paisagem urbana;
10. Não questionaremos aqui a pertinência da utilização do termo paisagem para os registos da visão do fenómeno urbano como um contínuo uno e indissociável, porque, como afirma Ledrut 3, a cidade possui a sua própria metafísica e a sua particular poesia, não é só prosa e tecnicismo;
11. Admite-se, sim, que a metafísica e a poesia da cidade, assim como a assunção de crenças e de identidades, podem ser pressentidas de diversas formas e constituem, para cada observador, o seu mapa e a sua paisagem do espaço urbano;
12. Espaço urbano que, na actualidade, não é apreendido como um todo tridimensional e compacto, mas como uma rede de lugares múltiplos (Rémy e Voyé) 4, conectados entre si por sistemas de simulação, de programação e de informação, que se podem traduzir num desaparecimento de sentido que é a tonalidade fundamental desses sistemas funcionais;
13. Perguntar-se-á, então, que formas de identidade e de afeição poderão ocorrer nas civilizações das novas redes urbanas, se a melancolia é essa desafeição brutal resultado dos sistemas saturados que as povoam (Baudrillard) 5;
14. Bastará atender às imagens apresentadas para distinguir entre paisagens que traduzem um discurso urbano da regularidade e da reprodução e paisagens que traduzem um discurso da descontinuidade e da ruptura do urbanismo, resultantes de uma economia globalizada e de um universo cultural fragmentado, que fazem emergir conflitos marcados pela necessidade de uma defesa da identidade;
15. Se os primeiros exemplos, escolhidos em Portugal, Açores (Fig.1, Fig.2), em Luxemburgo (Fig. 3), na Dinamarca, Copenhaga (Fig. 4) e na área central de Nova Iorque (Fig.5, Fig.6), poderão obter unanimidade de aceitação, será improvável a mesma atitude nos segundos exemplos escolhidos também em Nova Iorque (Fig.7, Fig.8), em Caracas (Fig. 9) e em Grozny (Fig. 10), prevendo-se que nestes seja questionada, quer a legitimidade de um processo urbanístico dominado por uma racionalidade económica que instrumentaliza todas as outras mediações, com o fim de realizar os seus próprios interesses estratégicos, quer os incalculáveis danos a que foram sujeitadas as populações pela mediação da guerra;
16. No entanto, através dos exemplos seleccionados, pretende-se mostrar como cada núcleo urbano tem merecido uma atenção diferenciada dos agentes políticos, mesmo que tendencialmente se constate a padronização das cidades, motivada por uma globalização das redes que alimentam as identidades e solidariedades colectivas da vida urbana actual, as quais reflectem uma nova territorialidade, cada vez mais complexa e codificada;
17. Pretende-se ainda mostrar que, enquanto um espaço pode ser definido como uma forma da nossa relação com as coisas, forma pela qual identificamos um objecto ou o que representa a sua unidade para nós, uma espacialidade (Ledrut, 1968) entende-se como uma forma de espaço culturalmente construída, pela qual um sujeito apreende objectos em relação aos quais ele próprio se posiciona, razão pela qual uma espacialidade nos aparece como uma estrutura a priori em relação a um actor social;
18. Como referido no início deste texto, admitimos que a elucidação do conceito de paisagem urbana remete para os de cultura urbana e espacialidade, reclamando estes a exegese dos fenómenos urbanos e culturais e do que neles faz sobressair o filosófico e o histórico;
19. Esta exegese, só possível pelos preconceitos do intérprete sobre o fenómeno urbano, a filosofia e a história, implica, todavia, que esse preconceito, nas suas diversas formas, bloqueie constantemente a sociabilidade ou a erotização, provocadoras de comportamentos criativos, próprios da vida urbana;
20. Ao pretender demonstrar que o uso efectivo da cidadania, em todas as suas formas expressivas, traduz a gramática do urbanismo, reconhece-se a necessidade de uma aproximação ao urbanismo através de uma pragmática que investigue os graus de uma verdade instrumental; uma verdade que acontece a uma ideia que se torna verdadeira, ou melhor, que se faz verdade por meio dos acontecimentos.
Conclusão:
Convém reflectir na diversidade de intervenções de autores da actualidade no relato instantâneo dos acontecimentos, implícita em cada estremecimento quotidiano da civilização jornalística, que evidencia a destruição da experiência, onde os acontecimentos irrompem desprovidos de história e parecem não se converter em experiência ou ensinamento; esta a razão porque a predominância da descrição de paisagens em registo fotográfico, em planos desenhados e em relatos escritos é um reflexo da destruição da experiência e da sua autoridade, na construção da sociedade moderna. Autoridade que remete para o ‘contacto’ efectivo de que fala Virilio e do qual, hoje, nos distanciamos inexoravelmente.

Fig. 1: Açores, S. Miguel, Ponta Delgada, Museu Carlos Machado - fot. MJE, 2005

Fig. 2: Açores, S. Miguel, Ponta Delgada, Praça Vasco da Gama - fot. MJE, 2005

Fig. 3: Luxemburgo, Place d’Armes - fot. MJE, 2005


Fig. 4: Copenhaga, New Harbor - fot. MJE, 2004
Fig.5: Nova Iorque, “ Looking south on ParkAv from 93rd Street”,
NYSocial Diary, 05.2005, fot. JH

Fig.6: Nova Iorque, “Wollman Rink in Central Park Toward Sunset, Manhattan”

Fig.7: Nova Iorque, “View of Manhattan skyline from the Jersey Turnpike”
2004/12_21_04/socialdiary12_21_04.php

Fig.8: Nova Iorque, “NY blackout, August 14, 2003”


Fig. 9: Venezuela, bidonville em Caracas, 2005
Fig. 10: Exemplo da devastação da guerra em Grozny


Nota 1: Este artigo corresponde à adaptação e desenvolvimento de alguns capítulos da Dissertação intitulada “O Preconceito no Conteúdo da Cidade”, realizada por Maria João Eloy P. C. Rodrigues, para o Mestrado “Cultura Arquitectónica Contemporânea e Construção da Sociedade Moderna”, realizado de 1994 a 1996 na FA/UTL.
(1) Gadamer, Hans-Georg - Verité et Méthode (1969) – Seuil, 1996
(2) Decouflé (1972) - A Prospectiva, Bertrand, 1977
(3) Ledrut - Sociologia Urbana, 1968
(4) Rémy e Voyé (1992) - A cidade: Rumo a uma nova definição, Afrontamento, 1994
(5) Baudrillard, Simulacros e Simulações (1981) - Relógio D’água, 1996

Da minha janela vejo o mundo e reconheço o meu olhar


14 fevereito 2005
Maria Celeste d'Oliveira Ramos
Engªsilvicultora
Arquitecta-Paisagista
Universidade Técnica de Lisboa

Da minha janela vejo o mundo e reconheço o meu olhar

A RUA é a rainha do espaço urbanizado e é património do peão

Calcorrear a rua atravessando o espaço definido pela sucessão das fachadas que se exibem contando a sua arte, o tempo que trabalhou as pedras de que são feitas, o tipo de homem que as desenhou, permite desenrolar perante o olhar uma espécie de filme com uma história e um enredo de formas, de materiais, de funções, de objectos singulares sinalando posições específicas, de esquinas revelando outros caminhos, como uma carta geográfica enriquecida pela presença dos “habitantes” de pedra por vezes rendilhada, de azulejo, de ferro forjado, de vidros e de vitrais, de cores, trabalhando e desdobrando a luz, entretendo o nosso olhar obrigando-nos a ser expectadores activos, críticos, contentes ou descontentes, ao percorrer o museu dinâmico que é qualquer espaço habitacional onde se aprende geografia e história, ecologia e sociologia, e artes, e vida, estampada nos rostos que por nós se cruzam

Caminhar ou deambular por um espaço histórico e cultural a contar a história do tempo e da arte dos homens

Rua, fachadas, esquinas, formas, volumes, luz e escuridão, envolvendo o todo e as partes, nos passeios, nos largos e jardins, e na árvore de sombra bemfazeja, de copa volumosa com folhas e pássaros, inserindo a natureza viva dentro do habitar, ou sem folhas, escultura desnudada ainda dando a beleza, a escala da rua e do próprio homem e, ainda, o ritmo das estações do ano

Que bonita e fresca é a minha rua com árvores que dão flores e frutos, cores e perfumes, e me acordam para me obrigar a olhá-las mesmo que de relance porque vou com pressa a um qualquer lugar

Vou à minha vida atravessando este espaço de vida que a rua me obriga a compreender com todos os sentidos despertos, pelo que me deixa ver e consolar o meu próprio espírito, refrescando-me o corpo com a brisa que provoca, o ouvir dos pássaros que nela poisam, o excitar do olfacto com o perfume de suas flores, mesmo olhando para o chão que vou pisando desenhado e construído com as mãos inteligentes de carinho para embelezar o meu caminhar  diminuindo a percepção do meu cansaço

A CASA, a habitação, isolada ou integrada num conjunto, é o abrigo do sol e da chuva, do frio e do calor, do olhar dos outros, do nosso cansaço e desespero, é ABRIGO e refúgio do que somos, do corpo e da alma

É a nossa caverna, o nosso buraco onde não queremos partilhar-nos com mais ninguém, a não ser com aqueles que pertencem ao nosso não querer viver connosco sós

Sendo um espaço fechado é no entanto o primeiro espaço de aprendizagem de vida colectiva com a família (e/ou amigos), o primeiro espaço cultural porque casa é mais do que o lugar de habitar porque é espaço onde acontece cultura

É a segunda pele que nos separa e distingue dos outros grupos-família, dos outros moradores de cada casa e de cada rua

Opostamente, os “homeless” são os que ou nunca encontraram esse abrigo, ou os que  rejeitaram o que tiveram, ou até nunca tenham tido ou ainda, tendo tido, tudo lhes foi tirado e restou-lhes a rua da cidade

Da janela da minha casa vejo a RUA e as outras habitações e delas poderei pressupor parte do que se passa dentro

Vejo a chuva, vejo o céu e o sol que logo aparece, vejo a lua e as estrelas e os aviões a cruzarem os ares, e vejo as outras casas e também quem passa e se afadiga como se as janelas fossem os OLHOS da Casa

Da janela vejo o MUNDO, e à forma e dimensão desse espaço "vazio" de olhar o mundo, poderá ser acrescentada a qualidade que cada habitante, pessoalizando-a com as cortinas feitas por amor, ou vasos de flores, para que a natureza viva não se afaste do viver, e a minha janela poderá ser mais bonita do que a do vizinho

Não será a janela de uma Catedral, mas se o arquitecto que a desenhou tiver deixado espaço e forma, algo de pessoal se poderá acrescentar que diferencia e humaniza a rua que não será apenas uma sucessão de fachadas sem calor humano, algo que o arquitecto nunca poderá fazer, mas apenas sugerir, e permitir que aconteça, desenhando como quem desenha o sagrado, porque se trata de desenhar para a “vida” de cada um

Se a rua nas suas fachadas fala do tempo e do artífice que a desenhou e construiu prédio a prédio, a janela fala de quem lá vive, da sua alegria manifestada ou mesmo grau de pobreza

A janela que permite ver de dentro para fora tem igualmente essa dimensão de deixar ver o que ela reflecte

E até uma andorinha poderá ali poisar no parapeito na primavera e dar mais uma dimensão de vida do habitar

A janela separa do exterior mas não o elimina completamente – mostra vida de ambos os lados, comunica com a VIDA, dialoga com quem vive nele e por ela passa, e a olha

Abro a minha janela e deixo entrar o Sol e o vento, os perfumes da rua e os ruídos da vida dos homens acordados, quando a cidade se levanta

Esse diálogo da janela é também perceptido pela casa ou conjunto, relativamente ao local e forma como foi implantada, na natureza bruta, fazendo com ela um diálogo também de amor e inteligência ou, pelo contrário, desprezá-lo, ficando o local desmantelado sem ética ambiental, sem estética, desumanizado e destruído e a habitação desqualificada e o habitar penoso

A minha janela como o meu olhar
A minha RUA como a Vida do mundo dos Homens

Maria celeste d'oliveira ramos
Lisboa 12 março 2005

12 julho 2018

Inicio de análise de paisagens e das suas qualidades


I CONGRESSO NACIONAL DE ECONOMISTAS AGRÍCOLAS
(Lisboa, 27-28-29 Maio - 1993)


SECÇÄO I - Economia do Sector Agrícola - Condicionantes ambientais


TEMA - AMBIENTE - HABITATS - HABITANTES
       A G R I C U L T U R A - AMBIENTE
       ECOLOGIA    -    DESENVOLVIMENTO


Maria Celeste d'Oliveira Ramos    
engª.silvicultora - Arqtª-paisagista                                   Fev. 1993  I I CONGRESSO NACIONAL DE  ECONOMISTAS AGRïCOLAS

SECÇÄO I - Economia do  Sector  Agrícola
         - Condicionantes    ambientais

TEMA - AMBIENTE - HABITATS - HABITANTES
       A G R I C U L T U R A - AMBIENTE
       ECOLOGIA    -    DESENVOLVIMENTO


 Mª.Celeste d'Oliveira Ramos - DGHEA

      I   N   D   I   C   E
000  -  Dados    curriculares
00  -  Resumo da comunicaçäo
 0  -  Introduçäo
 1  -  Ambiente - Paisagens - Qualidade de Vida
      - O que foi  e o que é
         O espaço - o tempo - o modo
2  -  Habitats  -   Habitantes  -   Povoamento
3  -  Agricultura - Ambiente - Desenvolvimento
4  -  Coisas para pensar antes que o tempo ultrapasse o tempo  ...             
      ou, ...  uma AGENDA 21 e uma Carta da Terra com  Eco ... em      
      Portugal
5  -  Como se se pudesse concluir
000 - DADOS CURRICULARES

Licenciaturas  em engenharia silvícola e em arquitectura  paisagista pela Universidade Técnica de Lisboa
Assessora Principal da DGHEA, do Ministério da Agricultura

- Mais de 20 anos de prática profissional em planeamento e projecto de ordenamento geral das paisagens urbanas, rurais e de protecçäo, bem como de sistema viário

- Representante  dos  organismos onde trabalhou  (Min.do  Ultramar-C.M.L.  -  Gabinete da Área de Sines - D.G. Turismo  e  Min.  da Agricultura)  em grupos de trabalho interministeriais,  em  conferências e congressos nacionais e internacionais, com  apresentação  de  comunicações, nomeadamente em  confªs  internacionais sobre o ambiente

- Missäo  Especial  de trabalho em Cabo Verde durante 180  dias  em 1965/66 e em 1983

- Formaçäo técnica específica em planeamento urbano e em Turismo em Espaço Rural (T.E.R.)

- Representante da DG Turismo a confª. internacional sobre AMBIENTE E TURISMO sob patrocínio da CEE – em Itália – Bressanonne (Brixen-Tirol do Sul anexado por Italia)

- Representante da DGHEA à 1ª. Confª. do Grupo de Trabalho de Agricultura e Ambiente CEE/ONU - Genève 1991 e 1993

- Representante  da DGHEA na Delegaçäo Portuguesa do Grupo de  Trabalho  FAO/CEE - sobre as relaçöes entre Agricultura e  Ambiente (2ª Sessäo 24-28 Maio 1993)


- Membro  do  Grupo de Trabalho do Ministério da  Agricultura  para preparação do Dossier CNUAD - Temas de agricultura, desertificaçäo e perda de solo da Agenda XXI

- Membro da Delegaçäo Técnica Portuguesa à 4ª. Confª.  Preparatória da CNUAD - Nova York- fev 1992

- Representante  da  DGHEA no Grupo de Trabalho  do  Ministério  da Agricultura para Implementaçäo das conclusöes da CNUAD-RIO/92

- Membro de Grupos permanentes de Acompanhamento a PDMs (181)

- Participante de uma das equipes seleccionadas para o Projecto  de Urbanizaçäo do Martim Moniz – Lisboa (júri  formado pelo arqtº Távora e eng Lamas e prof C-Cabral)

- Membro do Comité Permanente "Historical Landscapes", da Federaçäo Internacional dos Arquitectos Paisagistas - IFLA  - Grupo e Trabalho criado por Hans Dorn e eu
Posterior convite para vice-presidente da I.F.L.A.

- Membro da Direcção do Instituto D.Dinis (IDD - Ecologia e Desenvolvimento) formado pelo prof Gonçalo Ribeiro Telles – e publicação de boletim

- Presidente do Conselho Fiscal da Associaçäo Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas – APAP e Fundadora com o prof Caldeira Cabral e colega Maria José Festas

- Foi  representante da APAP (Lisboa) e da Associaçäo de Protecçäo do Património Natural e Construído (Porto), quando da  Presidência Aberta do presidente Mário Soares  à Região Metropolitana de Lisboa – com atravessamento do Rio Tejo pelo percurso por onde seria construída a 2ª Ponte sobre o Tejo -  A  Ponte Vasco da Gama


00 - RESUMO DA COMUNICAÇÄO


É muito longa a história da humanizaçäo do espaço físico denominado Portugal e tal que, ainda hoje, nem a arqueologia conseguiu descobrir  todos os segredos que constantemente säo revelados  até  pelo simples gesto de abrir um buraco para implantar uma estrada ou mesmo  postos a descoberto por acidentes naturais

Como se este solo fosse constituído por horizontes de História que se foram acumulando e  soterrando  com  os tempos e que parecem, sem  que  se  procure, querer  revelar os milénios de vida que por aqui passou como que  a fechar um ciclo apesar de, para a maioria dos actuais habitantes, o país  ser  apenas o  que  é  visível acima da linha de terra

E exactamente porque é longínqua a sua humanizaçäo, nela assenta  e se explica o que hoje é, e, porque mais uma vez atravessa uma  fase extremamente  importante  de viragem na sua história  incluindo  da economia  e, nesta, a componente agrícola  de  origem milenar,  decidiu-se neste longo escrito ir procurar  as ORIGENS

Desta forma, e porque o tempo histórico que está em causa, já não é apenas o de uma Civilização, mas um tempo planetário, faz-se  um percurso - no espaço - no tempo - no  modo  - relatando  fases dessa humanizaçäo, relembrando situações  determinantes no seu processo evolutivo recorrendo, em paralelo, a  certas situaçöes  mundiais com que estará relacionado e baseadas,  também, na  informaçäo de documentos da CNUAD 1992, já que se trata  também do  I Congresso Nacional de
Economias   Agrárias   integrando condicionantes do Ambiente

Especificamente  quanto  ao  território  nacional,  faz-se  uma  viagem  pelas paisagens que entendemos  responsáveis  pela identidade  nacional, reforçando  certos indicadores  que  permitiram  ao país ser  possuidor  de  um  digno B.I.,  que  lhe  autentica uma personalidade  com  direito  a reivindicar a sua continuidade como unidade não apenas  geográfica, mas  também  bio-física,  socio-económica,  cultural,  religiosa  e paisagística, distinta e própria, assente no território físico -  a terra mãe - a sua estrutura óssea

Focam-se aspectos relevantes da Paisagem e do Ambiente   -     das Cidades  e  lugares Históricos - e das  paisagens agrícolas  -  sua importância no equilíbrio do binómio
continuum  naturale  -
continuum construído
e como as mais recentes formas de intervença nas paisagens conduzem a um processo de  deficiência de acumulaçäo de água no solo que é obrigada a correr directamente para o rio ou para o Mar, de destruiçao dos ecossistemas, da biodiversidade e da Qualidade do Ambiente, abrindo inexoravelmente a porta à desertificaçäo biofísica que  já alastra  pelo  menos por 28 concelhos,  em  ritmo avassalador comprometendo muito mais do que a própria  agricultura, indo mais fundo comprometendo as áreas responsáveis pela fixação da água  nos solos em todo o território -  água que é vida e  um  bem escasso - ao mesmo tempo que é índice de evolução civilizacional  e motor de desenvolvimento  

Termina-se  personalisando as  funçöes  socio-económicas, culturais e ambientais das áreas agrícolas incluindo  as de montanha, independentemente do seu peso económico
   

0 - INTRODUÇÄO


Tomando como valor fundamental da Identidade Nacional o  território na  sua  estrutura ÓSSEA, e em perigo de ser  esmagada,  säo focadas  situaçöes  de ordem ecológica, paisagística  e  histórico-culturais,  com  base  em princípios filosóficos e  de  técnica  de ordenamento sem os quais a real manutenção da identidade do  património  natural  (e construído), não pode subsistir por  muito  mais tempo,  como  o prova o deserto que está à porta  trazido  por  mão humana, também para Portugal e de forma já preocupante   (cartografia da FAO assim o  demonstra)

Considerando  que a economia do  país näo   pode assentar  na  explorabilidade do  património delapidado   ou   exausto,   foca-se concretamente de que património se trata,  onde  e  como  estão  as PAISAGENS   a  ser   descaracterizadas  e  tornadas FEIAS  anti-económicas, anti-cultura e
anti-identidade

Considerando que a Conservaçäo do Património Natural e Arquitectónico é já muito mais importante do que da própria língua como Identidade Nacional (já que tanta língua "universal" está à  disposição dos homens para poderem comunicar com todo o mundo), insiste-se que é  na procura da real qualidade das paisagens  e do  ambiente,  que  näo conhece  fronteiras, onde reside hoje o grande desafio ao
Homem Universal

Deste modo, nesta comunicação referem-se algumas das mais drásticas situações que conduziram à destruiçäo de áreas
agrícolas e naturais,
que em tão curto espaço de tempo aceleraram a  desertificação deste país situando-as, sobretudo, nas décadas de 70 e 80 (entrada na CEE e EU)

Em  face do exposto, considera-se que  a única fronteira  do Homem  está na diferença  de ser  capaz  de parar a destruição do  Planeta,  mesmo à porta de sua CASA, porque só há um Planeta Terra, sem fronteiras ambientais,
Só há uma casa e um Templo (Comuns)  - A TERRA onde vivemos, a qual, mesmo  destruída,  continuará a girar eternamente à volta do Sol, indiferente ao Homem e à forma como resolve os seus problemas economicistas e produtivistas, assemelhando-se  cada  vez mais a  uma  paisagem lunar

O Planeta Terra, incluindo o espaço nacional, parece estar  sujeito a uma espécie de
Terrorismo generalizado 
manifestado, obviamente, numa espécie de confronto e atracçäo  pela morte

Da guerra tradicional, o homem passou à forma de terrorismo que bem depressa  se  infiltrou  näo só no espaço físico  urbano,  como  no espaço político e social, internacionalizando-se

Näo  contente ainda com isso o homem levou o terrorismo  à  própria estrutura  dos  aglomerados  do solo, pulverizando-o,  como  que  a testar  o  conhecimento das partículas mais  ínfimas  ou  atómicas, desafiando a sobrevivência das terras na sua estrutura física específica (cartografia dos solos física e química e microbiológica)

As  áreas  físicas desertificadas, ou de outra  forma  destruídas, aumentaram nos continentes ricos e pobres, aumentando paralelamente o número de vítimas humanas e também dos reinos animal (terrestre e aérea) e vegetal
Como se não bastasse, o homem inventou o dopping para si mesmo e, a sida, chegou a todo o lado e gente, como se a célula mais íntima do ser humano sofresse o maior de todos os desafios de sobrevivência – sobressaltos na saúde da Terra e do Homem

Que um desportista queira atingir melhores marcas dopando-se, ou se alguém consiga o sonho, a ilusão e a fuga ao real através da droga, ainda  são  atitudes de foro individual, que  embora  com  reflexos sociais,  diz respeito essencialmente a cada um, por mais que  sejam fruto da sociedade em que se vive

Porém, o dopping chegou às plantas e animais selvagens e domésticos e dos quais nos alimentamos ainda, pelo que esta espécie de
terrorismo   alimentar,  vai  desde  a introduçäo directa de cianeto nos tanques transportadores de  leite (França),  ou  nos chocolates, à intoxicação dos solos  e  da  água (poluiçäo  difusa), pelos agrocidas, terminando na intoxicaçäo  dos animais que nos servem de alimento,  com substâncias dopantes

Tudo  isto  faz pensar que já näã somos livres de  nos  doparmos  e drogarmos individualmente, já que a  INDÚSTRIA UNIVERSAL se  encarrega de nos poluir o ar que respiramos, a água dos rios que bebemos e do Mar onde nos banhamos, como polui o solo que é produtivo ou  o destinado  a  áreas protegidas ou mesmo o que está  construído  com cidades,  e  todo  ele sujeito a chuvas  ácidas  como  se  agora  OU TUDO OU NADA -
OU TODOS OU NENHUNS ,   tivéssemos de estar  sujeitos a esta forma "civilizacional" de ter  Qualidade  de Vida e de Ambiente, em forma de morte "anunciada" ou "em directo"

Se  a  esta  forma de terrorismo das paisagens naturais  e  da  sua produtividade, adicionarmos a do terrorismo da construçäo urbana  bem como o da destruiçäo  do  património arquitectónico nas vilas , aldeias e cidades, ou o  património monumental, seja ele  de  estaçöes arqueológicas,  seja  de  monumentos  civis   ou religiosos  ,  resta  perguntar o que  fica das paisagens  que identificam  Portugal   como Portugal,  já que há províncias, ou  grandes  regiões, que  não são identificáveis senäo por documentos "históricos"  bastando  para  ilustrar o que se afirma,  citar o  litoral  algarvio e/ou a região metropolitana de Lisboa (de onde colheu  inspiraçäo), como se a "BRANDOA" fosse um estilo que se desenvolve como  as hifas de um fungo para o qual não há pesticida (fungicida)  eficaz  e, como  se  näo bastasse, este "estilo brandoa" está  no  litoral  de norte a sul e já conquistou o interior (por  mais que eu lamente mas compreenda e aceite o “estilo maison” – pois me merece pelo menos o carinho de perceber qie não tendo sido ajudados por quem devia, fizeram com orgulho a sua gabitaçao, sinal de ter progredido e mostrando “o direito á habitação” como é, aliás, contemplado Na constituição portuguesa

O caos do desenvolvimento celular manifestado pela  terrível  doença  que  é o cancro e que  a  arqueologia  encontrou  em ossaturas  humanas de milhares de  anos  de idade, como eventual "indicador" do caos original da Origem do Universo Cósmico,  manifestado no corpo humano - que também é Terra  - parece  querer  revelar e  desocultar as mais diversas  e  modernas formas  desse caos, atingindo desde a ossatura das paisagens,  dos seus  habitats e habitantes (e/ou das suas  "unidades  orgânicas"), até à mais ínfima  célula viva, animal,  vegetal ou humana,  que a engenharia genética  violou a ponto de já levar os cientistas  a por problemas de Ética relativamente à VIDA  


Há que encontrar uma Ética Planetária

Resta  saber  - e explicar - que contribuição  consciente  cabe  ao Homem  na  construção deste caos  e deste  vazio  e como redefenir ECONOMIA - AMBIENTE - QUALIDADE DE VIDA -  FRATERNIDADE  - IGUALDADE e, até, DEMOCRACIA e LIBERDADE para,  finalmente, ser  credível  como encontrar uma  II   Renascença  (chama-se-lhe NOVA ORDEM), onde caibam finalmente OS Homens, mas que seja difícil haver espaço para mais
teomaníacos

São necessárias  novas utopias para que o homem renove  o seu pensamento  humanista  e    h o l í s t i c o
a  ponto  de poder mudar o gesto porque  a  Terra,  essa mudará  com certeza indiferente ao homem, no seu  jogo  eternamente cósmico

Apetece dizer que temos de voltar  a ser Panteístas  


1 - AMBIENTE E PAISAGENS

O que foi   ...   e  o  que é
O espaço  - o tempo  - o modo


Uma  vez ouvi uma pessoa muito querida dizer com uma voz  cheia  de ternura: "tudo o que acaba de nascer é tão pequenino e tão  indefeso" – Disse-o minha sábia mãe

Como  ela, eu diria que Portugal é täo pequenino e está, hoje,  tão indefeso  e à mercê Deus sabe de quê, muito embora possamos  recuar até ao ano de 1095 para determinar a sua idade como unidade política independente, logo que o Conde D. Henrique de Borgonha  recebeu, como  presente  de  Afonso VI de Leäo e  Castela,  a  Portucalensis Terra,  que se alargaria e estabeleceria como definitiva (e como  é hoje),  nos 250 anos que se seguiriam, nascendo assim  uma  unidade territorial e política das mais estáveis da Europa e que é o meu pais de gente grande e inteligente e gentil que arregaçou as mangas e o construíu, que se matou para o defender dos invasores – para deixar inteiro o ser legado

Será que também se tornou indefesa por ser tão velha?
Citando o  Épico  do meu país – Luiz Vaz de Camöes

La na leal cidade, donde teve
Origem (como he fama) o nome eterno
de Portugal

Esta identidade política sugere ao mesmo tempo uma unidade política e  geográfica,  apesar da natureza das  fronteiras  terrestres  não serem  tão nítidas, e naturais, como o são a sul e a oeste já  que, considerando  o  aspecto da sua geo-morfologia, o  país  näo pode ser considerado como uma unidade geográfica fechada (In: Orlando Ribeiro)

Agarrado  assim à outra unidade peninsular e  dela  interdependente nos  mais variados fluxos tem, no entanto, um  litoral  sem equivalente  na  Península Ibérica, apesar de   lhe caber uma pequenina parte dos 7/8 de periferia de Mar que a abraça, correspondentes a 943 Km, dos quais 560 Km são de costa plana e arenosa

Esta  macro-unidade  geográfica peninsular, situada  na  zona  sub-tropical, personaliza uma passagem entre dois Continentes -  o da  Europa Húmida, existente no norte da Península, e o das  Paisagens norte-africanas, representadas no Sul

Portugal fica inteiramente situado na Zona da Ibéria de Veräo Seco

Como  outras  regiöes do Mediterrâneo, a Península  articula-se  em áreas alongadas no sentido E-W e estreitas no sentido N-S,  articulação que vai reflectir-se no clima e na paisagem natural e humana, que dele dependem

Também a Reconquista da Península, pelos Cristãos, se fez de  norte para sul, tendo sido breve a ocupação árabe no norte, enquanto  que no  sul  se  prolongaria por 5 séculos  pelo  que,   às   condiçõs  naturais, há que sobrepor as históricas para compreender as  paisagens e a evolução da sua humanização – tendo sido Silves, sede de Califado

Considerando  a  complexidade da geologia e do  relêvo,  o  pequeno continente  peninsular é formado por regiöes contrastando nos  mais variados  aspectos que se vão modificando da periferia para o  centro,  apresentando ainda o grande contraste derivado da  influência provocada  pelo Atlântico e o Mediterrâneo, (e ainda do vento polar ártico e continentalidade e mesmo a Meseta) dando à  Península  uma realidade  multiforme  e uma personalidade  geográfica  às  regiöes ibéricas,  de  que  Portugal   se destaca  fortemente ao analisarmos  o  seu relêvo  geral cujos declives se orientam aos 4 quadrantes  mas  com grande  predominância  para  oeste  e  sudoeste,  em  estilo   de miradouro todo virado para o Mar  ...   e para  sul

É portanto a partir daqui que paisagísticamente Portugal se  começa a personalizar e a destacar do  resto da Península, se considerarmos toda a multitude de  contrastes climáticos e microclimáticos, derivados directamente do seu  relêvo e da respectiva orientaçäo com a eleiçäo que fez ao Mar

E  porque  situado na ponta mais ocidental da Europa (aqui onde a terra acaba e o Mar começa) e  de  toda  a terra   habitada,   é  o  primeiro  país  a  fazer   frente   aos ventos  marítimos,  que embora impedindo a  instalaçäo  de vegetaçäo  que  noutros países do continente habita  maiores  altitudes,  é  por  outro lado  responsável  por  lugares  de    rudeza   selvagem  como   o  Barbaricum promontorium (Cabo Espichel)  e   o  Promontorium  sacrum (Ponta de Sagres), de beleza sem igual sem deixar  de ter a 2 mil metros e que o vento ainda permite – o “cervum” – ecossistema de montanha

A  Beleza  da Natureza Rude e Selvagem é tão apreciada  pelo  homem como  um  "monumento", pelo que há que não "poluir", como o  fez  o Turismo na Ponta de Sagres, parecendo uma "feira popular" sem povo ou a zona norte do cabo de Sines (sinus dos romanos-sines dos árabes)

Este  bocado  de Terra no fim do Continente e mais  perto  do  Mar, situado  do lado de onde sopra o vento, se por outro lado  tem   as "costas" abrigadas do que pode soprar de nordeste pela barreira das montanhas,  por outro, foram os Cantábricos a porta de  entrada  da vegetação do interior europeu

Pela sua situaçãoo num centro  geométrico do Mundo, pela influência dos polos climáticos  atlântico e mediterrânico, continental e alpino e pela exposiçäo da  sua tão multi-mini-facetada fisiografia, e embora de pequema  dimensäo, este país é
um grande
mosaico paisagístico

Apenas  numa área de 89 060 km2 abriga  as  mais belas e variadas paisagens, como se de um grande e verdadeiro Continente se tratasse

Este grande mosaico geográfico e  climático  foi  abençoado pelo  sopro  do  vento carregado  de sal mas também de humidade do Mar que ao embater  nas montanhas lhe provoca as chuvas, em certos locais de valores  muito superiores aos europeus e lhe  permitiu também que fossem  fertilizadas com as mais variadas Associações de plantas de grande riqueza florística,  com  representação  de  espécies europeias-centrais, europeias-ocidentais, mediterrânicas, ibéricas, ibero-marroquinas  e macarronésias, podendo-se dizer que 2/3 da flora portuguesa  deriva da europeia e que 1/3 é comum à flora da Península, África e  ilhas atlântidas (Açores, Madeira, Canárias), passando por espécies  como as  piteiras e figueiras da India, originárias dos planaltos  secos do  México, para aqui trazidas no séc.XVI, que ficaram por tão  bem se terem adaptado, atestando mais um índice climático indicador  da secura do Verâo mediterrânico, clima que lá para o norte, e nas “maceiras” há produção agrícola que os homens descobriram que nada há na terra que não seja riqueza desde que se olhe e veja

Assim, embora a composiçäo florística se diferencie também à medida que varia a qualidade e o tipo de solo, aliada à alteraçäo provocada  pelo próprio homem, aqui ocupando a terra de há milénios e  com alterações mais profundas do que as operadas na Europa Central,  (In: Orlando  Ribeiro), se por um lado é difícil reconstituir a  paisagem primitiva,   apesar  de estudos de polén fóssil que  demonstram ter aqui havido coberto vegetal mas já sem vestígios, por outro,  a paisagem  portuguesa está ainda cheia de  riqueza  com o que  ainda lhe  resta de indicadores demonstrativos da variabilidade dos  seus microclimas e dos seu genuínos habitantes vegetais, ou seja, da sua imensa  biodiversidade  de que   nenhum país do mundo,   de täo pequena dimensão, se pode orgulhar passando pelo Vale Glaciar da Serra  da Estrela que exibe uma espécie arbórea que da última glaciação resolveu descer e ali habitar – o Vidoeiro

E  porque  o extraordinário e variado clima o permitiu,  a  par  da vegetaçäo  mais primitiva, portugueses de todas as classes sociais que viajaram  pelo mundo,  para aqui trouxeram  a maior variedade de plantas que enchem Parques e  Jardins,  públicos  ou  privados, verdadeiros   Jardins   Botânicos  e  Arboretos,  como que a demonstrar  que também  aqui  cabem climas  e  plantas de todas as  latitudes  do  Globo Terrestre

Situado no local da cruz formada pelo eixo do Atlântico e do Mediterrâneo, Portugal é depositário dos  mais ricos valores  naturais, a par dos mais antigos vestígios arqueológicos  da Terra,  ao mesmo tempo que é ponto de encontro das mais  antigas Civilizaçöes do Norte e do Leste, sejam Celtas ou as do  Mediterrâneo, defensoras do pensamento e de técnicas que são hoje património europeu

Também  a longa relaçäo com o Mundo årabe permitiu  aos  habitantes deste  país  aprender a lidar melhor com o clima mais adverso  e  a água  (e  a rega por gravidade e  a Nora), e a abrir caminhos para que,  através  dos  seus imensos Oásis, se penetrasse na África Negra

País   humanista
universalista,  à unidade política e  geográfica, acrescentou a unidade religiosa, esta também de cunho mediterrânico e  simbolizada quer na paisagem agrícola pelos cereais e  vinha  (o päo  e  o  vinho), pela oliveira (os santos  óleos  para  ministrar sacramentos)  quer  por formas de ocupar a terra  com  o  pastoreio (Jesus  e  os pastores), apoiada na paisagem construída com  a  sua infinidade  de Igrejas e Sés, Capelas, Igrejinhas e  Conventos,  no ponto mais alto dos montes, assinalando-os, ou nos mais  recônditos  espaços  das paisagens, já que igualmente foi "invadido" pelas mais  variadas Ordens Religiosas

Dos povos pastores podemos considerar Viriato o nosso mais ilustre e directo Ascendente (a Cova de Viriato)

A PAISAGEM É UM TEXTO
LEGíVEL

Não é só nos livros de História pintados com palavras e iluminuras que se pode  ler a história de um país,  mas sim também
em cada "pedra" erguida
entendendo  pedra como cada gesto de humanizaçäo-transformaçäo  das paisagens que as souberam interpretar acrescentando-lhe fertilidade e Beleza, essa infinita fome do espírito

Olhar Portugal, e visitá-lo, é   aprender   Geografia   e História  integradamente.  É aprender   a   Cultura   das Civilizaçöes  que  por  aqui passaram,  misturadas  neste pequeno cadinho e que deu  a paisagem e o povo que  temos sido
Terra  de  contrastes onde todos os povos aportaram e  se  fundiram deixando conhecimento e onde todas as religiöes puderam exprimir-se como se o natural e o humano encontrassem   espaço   para desenvolver  vigor  híbrido,   é toda  ela sagrada, ou terá lugares tão especiais como  Sintra,  por exemplo,  que já possuíu dos Arboretos mais importantes  da  Europa pela variedade e riqueza das espécies, e agora em total degradação, local de que Richard Strauss escreveu um dia:

"Hoje é o dia mais feliz da minha vida
Conheço a Itália, a Sicília, a Grécia e o Egipto
e nunca vi nada que valha a PENA
É a cousa mais bela que tenho visto
Este é o verdadeiro Jardim de Klingsor e,
lá no alto,
está o Castelo do Santo Graal
  
Foi  deste  país, e neste Ambiente onde nasceu Camöes,  que  tratou este  povo como heróico e criador e por onde  todas  as grandes civilizações antigas passaram deixando
rasto de dinossauros,
que um dia outros partiram para os locais mais distantes do Planeta, para neles espalharem e integrarem o que sabiam (e até miscigenando-se como outrora o tinham feito na pátria), para novo conhecimento trazerem e aqui ser concentrado e renovado mas, desta vez, não como um local centro de  uma  cruz, mas como centro de irradiaçäo de Estrela  (Serra  da Estrela)   que  dá luz (Queluz = aquele que Luz), ao  Velho  Continente, tão escurecido por essa Idade Média

Talvez  que  devido a toda esta riqueza acumulada  em  milénios  de realidades  vividas e argamassadas em cultura e saber,  pelo  clima generoso e o céu azul transparente para deixar ver as estrelas  sem fim,  pelo povo generoso, tranquilo  e sábio, a Europa  que  sempre foi  e  ainda é fria e cinzenta, logo que livre das Guerras  e  das suas misérias e de novo enriquecida (materialmente), aqui mais  uma vez veio beber algo, descobrindo este espaço, dom amável do céu,  e dele fazendo local de
Turismo  privilegiado  na década  de  60,  como aliás já o fizera com a grande civilização agrária Celta ou, mais tarde, durante a Guerra Santa

Portugal  sempre foi um país de vai-vém, espécie de  Portus-(cale), mas  que  agora não é mais do que um disforme e  pobre  porto  de mercadorias  cuja  Qualidade  e  substância  socio-económica e cultural merecem ser reavaliadas, para recuperar a  sua antiga grandeza de eterno local
de  encontro  -  ou   grande Forum do Mundo
  
    
3 - HABITATS-HABITANTES                                                                  POVOAMENTO


Apesar de já ir longo o escrito, como paisagista - e porque   a beleza   das   paisagens   é "comestível"   e      também  rentável   económicamente,   näo resisto a continuar esta viagem lendo e recordando algumas das mais belas, e férteis (ou eis-férteis), paisagens do país, abandonadas à sua sorte e a muito improviso

A paisagem humanizada que se oferece aos nossos olhos teria começado há 6 000 anos  quando,  no Neolítico, aqui convergiram povos pastores vindos das bandas do Danúbio e do norte do continente africano, e outros


Vivia-se da caça e da pesca e do gratuito que a natureza  oferecia, não  sendo graves as alterações provocadas já que grande é a  força de regeneração natural (ou era)

Poder-se-á  assim  dizer que todo o território estaria  coberto  de carvalhos  caducifólios   no norte e marcescentes no  sul do  Tejo,  entrecalados  de matas  ripícolas  de  freixo negrilho, choupo e amieiro

Nas  margens  aluvionares  dos cursos de  água  haveria  certamente paisagens  de  grande riqueza e fáceis de explorar,  vivendo-se  da recolecçäo  mas,  algo obrigou o homem deste  espaço  geográfico  a subir  para as montanhas e aí fazer-se pastor, lá para o ano 4  000 antes de Cristo

Se por um lado a História e a Arqueologia falam da riqueza agrícola obtida da terra por grandes civilizações pré-industriais, tal  como a da Mesopotâmia de entre o Tigre e o Eufrates, região de tal  modo rica  e mítica que se diz ter por aí sido o Paraíso de Adäo e  Eva, por outro lado, a mesma história e arqueologia informam-nos de  que há 30-40 mil anos, antes do homem devastar a terra para a  agricultar, já tinha extinto 70 a 100% dos grandes mamíferos de cuja acção resultaria  um  excesso de herbívoros e  consequente  desequilíbrio ecológico para a vegetação (In: Jorge Paiva)

A este acto primitivo, mas ainda com o Planete Terra com toda a sua punjança e com número de habitantes extremamente reduzido comparado com o de hoje (5 biliöes),  seguir-se-ia a
revoluçäo-agrícola iniciando no Neolítico, e  para sempre, a  destruição  dos mais  complexos ecossistemas florestais

Em Portugal, e no mesmo período, as roças constantes das matas para o pastoreio e, posteriormente,  a exploração mineira operada  pelos Romanos (ouro das minas de Jales)  bem como a implantação de novas culturas e formas de arrotear a terra, iria vincar a destruição das paisagens,  continuando-se  ainda a desarborizaçäo com a construção de navios a  partir  do séc.  XV, destruição  que só seria parada com os primeiros  serviços de protecção, datando de 1824 (In: Orlando Ribeiro)

As  formações  florestais do norte do país,  de  influência atlântica,  são as que de origem europeia mais a sul se  instalaram,  delas  fazendo parte o carvalho roble, a aveleira e o  vidoeiro  branco,  matas de densa folhagem e grandes copas  que  a pouco  e pouco foram cedendo lugar  ao  Pinheiro bravo  e, mais tarde,  a outras resinosas de importação  (artificial) europeia, sendo o mais importante o Pinhal de Leiria  mandado plantar  pelo Rei agrónomo para segurar as dunas que iam  avançando e,  prevendo talvez, a futura construção das caravelas, já  que  os carvalhos iam desaparecendo

Mas, paralelamente, o mesmo clima e solo atraíriam a Ordem Cisterciense -  os monges agrónomos - por alguma razäo sem ser exclusivamente de ordem religiosa

Quanto às Associações florestais de influência  mediterrânica,  as  Querci (sobreiro, azinheira, carrasco),  o  pinheiro  manso,  medronheiro,  urze branca, loureiro,  aroeira,  rododendro, loendro,  etc.,etc., são algumas das muitas  espécies que  vão  desaparecendo das paisagens  devido  a novas estradas, urbanizações e turismos que  não integram os valores naturais e reais das  paisagens  e as transformam em eucaliptais, em  golfs ou  relvados regados, desertificados de sentido ecológico,  de  desenvolvimento  e  de   sentido estético
Apesar  de mediterrânica, a oliveira mesmo no Minho encontra  lugar para  vegetar  até 500 m  de altitude,  indo a 700  m  nos  vales interiores mais secos
Mas já o vidoeiro não desce abaixo do Gerês, como indicadora da sua casta europeia

Por toda esta milenar humanização, as montanhas  atlânticas de Portugal, sendo embora das mais  chuvosas da  Europa,  são também as mais pobres em  bosques,  podendo-se comparar  aos despidos relêvos mediterrânicos

Porém,  devastar a mata para do espaço retirar proveito, näo tem de significar  forçosamente  ir direito ao deserto

Não haverá melhor exemplo do que o da paisagem minhota que  durante séculos,  e desde os primórdios do povoamento com a construção  das Citânias,    com  árduo trabalho e perseverança  dos  homens  foi possível  fazer produzir tal terra, que depois de devastada no  seu coberto  florestal foi erosionada por  chuvadas  copiosas,  obrigando  a construir socalcos, em pedra, drenar e  fertilizar  para fazer  nascer o Minho de que se fala orgulhosamente  e tal que,  ao falar-se dele se pressupõe na memória indicadores que  nos não  permitem  confundí-lo com outra qualquer  paisagem,  da  mesma forma que não se confunde a da Ilha da Madeira, já que cada uma tem a sua identidade inconfundível, têm um B.I.

Grave e sem sentido, é a destruição que nas décadas de 70/80 
näo  deu à terra
alternativas, repondo-lhe equilíbrio bio-físico  e beleza,  mesmo com mudança de uso, já que é da terra que se e  onde tem  de viver e que ao longo de milénios se "deixou transformar"  e permitiu a vida

Como  é  possível então, e mais uma vez o exemplo  do  Minho,  onde actualmente só escapa Caminha, destruir, descaracterizar, desfertilizar, desertificar até paisagisticamente, aquela paisagem do Minho central a que a romanizaçäo  acrescentou a vinha nos  seus múltiplos sistemas culturais, impondo autoestradas a rasgá-lo  sem escala, com fogo e expansões urbanas medíocres no traço e na estrutura da implantação , seja nas franjas dos aglomerados seja já  nos velhos  socalcos  agrícolas pejados de arranha-céus  (veja-se  pelo menos Arcos  de Val-de-Vez),  comprometendo  irreversivelmente  a harmonia e inter-relaçäo das 3 componentes agro, do Minho, a bouça-várzea-prado  levando  consigo a identidade  ecológica,  humana  e cultural,  ou retirando-lhe a continuidade espacial e social,  bem como  a  harmonia visual, já que é   o  olhar  o primeiro sentido que nos pöe em contacto com o  exterior, e o real, a beleza ou o horror  

Aos  Romanos,  näo foi só difícil instalarem-se  contra  a  vontade daquele povo aguerrido, pois que dessa ocupação vieram novas técnicas  de drenar e arrotear os vales e de instalar novas culturas,  a par da construção de pontes  e de estradas, bem como o  desenvolvimento  do comércio entre as distantes povoações, cuja acção  viria acentuar  ainda mais as  características  singulares de ruralidade dos mais  primitivos povos das Citânias

No  dizer  do Padre Miguel d'Oliveira (cit.Edgar Fontes - a  vinha  na  paisagem minhota),  "a villa romana  foi  o molde antigo
da freguesia moderna"

Se  ainda  acrescentarmos a Casa  do  Emigrante,  pouco então restará de  genuíno,  por mais  que  se queira evoluir para o futuro, mas futuro  não  existe fazendo tábua rasa do passado
O  que é paradoxal é que filhos de emigrantes ao darem-se conta  do lôgro  do  desconforto climático da habitação de betão,  começam  a forrar o exterior das paredes com lages de pedra, sem contudo  nada recuperarem, nem sequer a imagem exterior do que fora antes

Vai-se  arrazando o Minho (ou o Algarve - ou a zona saloia de  Lisboa),  que  não pode ficar reduzido a esparsas Quintas  votadas  ao Turismo, elas próprias já decepadas nas suas unidades  territoriais e  paisagísticas com arranha-céus e áreas expectantes  -  esperando mais  Brandoas  - daí resultando o caos no anterior  ordenamento  e inter-relação  do  continuum  naturale  /  continuun construído,  dando  lugar ao feio e à circulaçäo  anárquica  e desprotegida,  já que novas e velhas ruas de cidades e  aldeias  se tornaram  auto-estradas  dentro das cidades com cães e  crianças  à mistura e, da mesma forma, estradas nacionais viraram ruas urbanas

Os 27% do solo agrícola precioso vão diminuindo e com ele as suas múltiplas funções que não são exclusivamente de produção agrícola

A destruição das paisagens e de usos  tradicionais  conduz  inevitavelmente  à  destruição   e  desaparecimento   dos  povoamentos históricos  - património  arquitectónico  de  valor  mundial   -  desaparecendo com os habitantes os gestos culturais ancestrais (nem a  arqueologia os salva), bem como os mais importantes aspectos  do AMBIENTE já que este, porque também construído pelo homem, uma  vez trucidado ou abandonado entra em degradação

As Paisagens Históricas e
a   Agricultura não podem ser olhadas como  mero produto  que  entra em menor ou maior  competitividade  nos mercados, já que a história-paisagem-identidade nacional, bem  como o  Ambiente e a sua Qualidade, não são produtos de nenhum  mercado, porque  näo se vende a alma  ao diabo,  pois assim como a alma do homem habita o  seu  corpo físico, também um Povo ou País tem a alma manifestada nas paisagens que construíu, e só disso  vive o turismo de  qualidade

A grande emigraçäo portuguesa dos anos 60  é  repetida nos  anos 80 de muitos lugares do interior que  vai ficando  vazio  e queimado mas desta vez  sobrecarregando  o litoral que já não tinha muita saúde com o que o Turismo lhe fez e vai fazendo, desde o início dos anos 80

Interessante é constatar que nesse "vazio interior" já de instalaram mais do que 2500  estrangeiros como se o que uns não podem querer, outros pudessem aproveitar

Actualmente a destruição dos ecossistemas florestais já não assenta na  plantação  ou  sementeira  de  pinheiro  bravo,  mas  sim  no fogo  que nos últimos 10 anos se  intensificou  devastando-o, numa  área de 1 milhäo de ha, talvez até por já haver poucos residentes  próximos ou afastados, no interior

O Pinheiro bravo que já não permitia grande transferência de fertilidade para zonas a juzante (já que seriam resinosas - ácidas - a tomar o lugar  que pertencia  a folhosas), passou então a dar lugar  ao   eucalipto desde  o Algarve a Trás-os-Montes,  desde  o interior da  Malcata  ao  litoral, subindo em altitude à  procura  de  maior humidade,  não  formando coberto vegetal e por  isso  aumentando  a possibilidade  de  ainda maior erosão das encostas  de  pequeno  ou grande  declive, eucalipto  que destrói ao limite o  sentido de  mata climácica, muito embora, por  ser de produção, não seja essa a sua função mas, então, há que fazer um sério ordenamento florestal à escala do país de modo a que o eucalipto possa co-habitar naqueles locais onde possa vegetar sem destruir o pouco que falta
O eucalipto acaba
irreversivelmente  com  a biodiversidade  e, com  ela, acaba  a  variabilidade   de paisagens,    que fica uma  MONO-PAISAGEM  com  uma MONOCULTURA  e, mais uma vez, o país de carvalhos  (ou  pinheiros), passa  a eucaliptal, talvez também para que  australianos ao  serem turistas em Portugal, não estranhem o ambiente, já que certo turismo  saloio  tudo adulterou incluindo  gestos culturais,  devido  a uma equívoca forma de querer ser hospitaleiro e moderno

Se o turismo dos nórdicos teria sido "atraído"  pelas  resinosas, agora  Portugal  pode  oferecer paisagens de  outras  origens  mas, quanto mais eucaliptal . menos golfes e, só no Algarve, estão previstos 32, sendo que 1 golf exige a água necessária a uma cidade e fala-se tanto da desertificação algarvia

Nunca em tantos  milhares de anos,  o homem devastou, nem tanto  nem  täo  rapidamente como  agora  (2ª  metade  do século, com ênfase na década de  80), e até à medula, os ainda existentes  ecossistemas com  a denominada agricultura industrial e, desta vez, apoiado não no coup de poing, mas em todas as formas que as ciências e tecnologias,  (mesmo das mais sofisticadas não sei se soft  se  hardware), que  permitiram investir na mecanização, rega, drenagem e enxugos, na adubação e consequente necessidade de usar e abusar de pesticidas,  passando  pela construção de Assuöes, culminando  nas  hortas industriais,  vulgarmente  chamadas de culturas  forçadas,  estufas ou ...
culturas de plástico
Esta  foi  a   machadada  final na biodiversidade,  na  complexidade  genética e ecológica inicial,  cuja iniciativa cabe às  regiões  do  mundo civilizado   (a  que  Portugal tem medo de não  conseguir  pertencer),  que  tudo simplificou  e  automatizou  apoiando  com  regras, normas e até decretos, altura a partir da qual se
abriu a grande porta  à mais rápida e eficaz forma de construir  desertos

A Humanidade ameaçada de autodestruiçäo, mas onde nunca täo poucos ameaçaram a vida de tantos

Assim, matas de protecção ou produção, florestas naturais ou biótopos,  bosquetes, bocages, compartimentação das paisagens e até  das leiras  (com materiais naturais ou inertes),  foram  impiedosamente arrazados com os modernos e potentes bull-dozer, daí advindo, antes mesmo da poluição difusa, um enorme e imparável  terramoto para  os regimes hidrológicos das bacias  hidrográficas,  pois que  era  a  vegetaçäo permanente e  homogeneamente distribuída  nas  paisagens, näo  só a  responsável  pela biodiversidade e fixaçäo  da água no solo, como pela  näo erosäo  das  vertentes   das montanhas  e das terras  näo importa de onde  (A paisagem do Vale do Loire é dos melhores exemplos que conheço e que igualmente permite a conservação e desenvolvimento da fauna selvagem)

Parece assim poder-se resumir que após a destruição no  Neolítico dos  grandes  mamíferos daí resultando excesso  de herbívoros, se seguiu a destruição das grandes árvores para implantação da  agricultura,  (habitaçäo, estradas e exploraçäo mineira),
agricultura  que hoje näo acresce nenhuma  fertilidade às terras mas que, pelo contrário, impede as  terras do  contacto  com a energia fundamental do Sol (e Portugal tem mais de 3000 horas de sol por ano), com as estufas, destrói a estrutura  das  terras impermeabilizando-as em  profundidade com excesso  de  mecanização retirando  drenagem  interna (calo do tractor) ou  pulverizando  os aglomerados  ficando as terras com cada vez menos vazios  devido  à rega  automática que não é a melhor em qualquer lugar, não  falando  na destruição da matéria orgânica, cuja perda no mundo quadruplicou em apenas 70 anos (1882-1952-Pavan/1977) 

Tudo é artificial - químico e de plástico  - inodoro - insípido - e muito menos belo

Ora a vegetação permanente é igualmente responsável pela  maximização da infiltração das chuvas e alimento de nascentes, de rios e de freáticos superficiais ou profundos, (e respectivo alimento e  segurança para animais e homens a poderem aí instalar-se, ou não), não esquecendo o fornecimento natural de húmus, a protecção contra o fogo de que as matas  mixtas são a melhor, mais eficaz e económica, e mais  natural segurança  e defesa, incluindo dos climas  

Mas, hoje ...  o homem já arrazou 90% da Floresta intertropical   (11 milhões de ha por ano) e os 15% de território de desertos  de há milhares de anos (e o do Sahara só tem 7000 anos), já atingem hoje  45% do  espaço  terrestre,  sendo ainda que  as alteraçöes  climáticas mundiais provocadas pelos humanos, incluíndo
o Turismo,
  puseram em perigo até as mais altas montanhas do mundo como  os Alpes e mesmo as Florestas dos Himalaias

Em consequência de tudo  isto  desaparecem hoje  por mês  100  espécies animais e vegetais, de que Portugal  (porque não avançou na era industrial altamente degradante da fertilidade das terras),  é  ainda depositário a ponto de a Europa lhe  querer impor conservação  como parte integrante da rede europeia de protecção da  natureza e ambiente, já que a Europa empobrece na qualidade  do ambiente,  empobrecimento  que se manifesta sobretudo de sul  para norte no seu inexorável avanço desertificador

Os 100 biliöes de homens que já passaram pela Terra até aos nossos dias criaram o deserto e alteraram o clima em metade das terras emersas e destruiram mais de 2/3 das florestas mundiais (In: Pavan)

O Homo sapiens não soube interpretar a Terra  como um Planeta em Festa para o receber, como nós fazemos para receber um amigo em "nossa casa"

O  Homo  erectus - habilis e economicus -  espalhou o deserto e a FOME

- populaçäo super-alimentada ..............        15%
- populaçäo bem alimentada     ............        10
- populaçäo suficientemente alimentada .... 15
- populaçäo mal alimentada     ............          50
- populaçäo com fome           ............        10

(valores de out.1988 da FAO)
  
Compare-se tais valores com os excedentes da CEE

- Vinho ..... - 45 milhöes de hl = lago de 618 m de diâm. e 15 de prof.- cabe o Queen Mary            
- Gräos ..... - 16,5 milhöes de ton. = 298 m de altura = Torre Eiffel 3oo m
- Leite em pó - 0,9  milhöes de ton. = 127 m de altura
- Manteiga .. - 1,4  milhöes de ton. = 124 m = Catedral de Colónia 160 m

(Excerto de artigo sobre Reuniäo dos Ministros da Agricultura dos países membros da Comunidade - a confª.  mais  longa da história da CEE - 50 horas ininterruptas - onde se  afirma  "ser  mais barato  pagar aos agricultores a diferença resultante das quotas e das garantias, do  que  viver comprando  e armazenando  excedentes cada vez mais volumosos, postos nos mercados mundiais a preços irrisórios e em detrimento dos exportadores de países näo industrializados" - In:  Jornal Suddeutsche Zeitung Munique 16 Dez.1986) 

A forma actual de ocupar o solo e de cultivar  a terra  faz  expulsar dela a água  da  chuva  que sobre  ela  cai (com a ajuda das super-impermeabilizaçöes e drenagens nos espaços urbanos, e também rurais, com drenos e super-drenos  a levarem a água directamente para o  rio ou para o Mar), como se se sangrasse a terra do seu sangue que é  a água, que só  na terra (rural ou urbana) se  mantém à  custa  da  existência  da vegetaçäo  permanente,  seja ela  de Parques  e  Jardins, das  margens dos rios, de matas ou matos, já  que  a água  é um bem finito e o  primeiro  factor limitante  da  vida, pelo  que há que armazená-la  na terra, e näo fora dela, porque  nem sequer as barragens substituem a função de infiltração e de armazenamento  exercida  pela Mata (e áreas agricolas), já que solo sem vegetaçäo só tem um destino - a mineralização - sendo  mais cedo  ou  mais tarde arrastado pela água ou  pelo vento  e  ...  no Alentejo  ... "o vento é livre", como livre será em qualquer outra paisagem onde a årvore se deite abaixo, já que a  mata foi sendo abatida e reduzida só a mera sebe, passando a "linha ou renque de árvores", essas também ameaçadas pela serra mecânica, à beira das estradas e caminhos ou dentro da cidade,  como se  a natureza  estivesse  a ser  expulsa do convívio  do homem, näo importa  em  que lugar

Se afinal a vegetação permanente - e a mata - não é tão  importante como se diz, porquê tanto  barulho com a Amazónia?  Só por causa do oxigénio  e regularização macroclimática?

A  Amazónia  é um deserto coberto de árvores que à medida  que  vão sendo  cortadas dão a grande lição da resposta da natureza ao poder-se olhar os 300 Km de água barrenta que do Rio Amazonas entra no mar que só se vê a verdadeira dimensão de avião, como eu vi

Também,  em  Cabo Verde, porque já desértico  (Sahel),  milhões  de toneladas  de  terra são arrastados anualmente para o  mar,  embora aqui  seja  mais difícil de ver já que é o vento que as  leva,  mas sente-se  ...  ao  respirar aquele ar quando os  Alíseos se  fazem sentir lá   para os meados de Novembro, carregados de areia  proveniente do Sahara, em vez de humidade do mar, como eu vivi

Igualmente ao Mar Aaral para onde desaguavam rios possuidores de aluviöes fundos  e férteis, ocupados durante séculos por  belos e produtivos pomares, lhe bastou 30 anos de monocultura de algodão e químicos para  que os rios secassem, os aluviões  virassem areais soterrando casas e barcos, as gentes morressem de fome e doença e, o mar,  de tal forma salinizado, evaporou fazendo recuar 90 km do seu litoral

E se o Alentejo já perde por ano 100 toneladas de solo,  o Algarve e o Alentejo, até  pela  sua  pluviosidade natural já fazem parte, sem que se o diga,  do Sahel, cuja  pluviosidade  para  que seja classificado  como tal, é de 400-600  mm  de chuva  (valor idêntico ao  da área fronteira com  espanha)

Se se olhar bem para a Carta de desertificaçäo publicada pela  FAO em  1958,  para o Globo Terrestre, e de acordo com  os  índices  de Thorntwaite, a Península Ibérica está na linha da frente na classificaçãoo de zona árida, como extraordinária visão de antecipação

Os macro-climas säo dependentes dos climas regionais e microclimas, numa cadeia infinita de inter-relaçöes planetárias

Como  se  poderá manter um país, como o nosso, de  solo  por  vezes extremamente rico ou agricultável, sem a protecçäo dos seus relêvos com as suas matas naturais (e matos  paraclimácicos) -   as grandes   responsáveis   nas regiöes mediterrânicas  pela infiltraçäo e acumulaçäo  da água, aí gerando os  principais  caudais que  abastecem barragens, rios e  nascentes (In:  F.Pessoa - CNUAD 1992), sendo  ainda  responsáveis  pela transferência  de fertilidade para as regiöes  a juzante, onde afinal se situam as áreas  agrícolas  näo importa de que dimensäo e grau  natural de fertilidade das terras onde se situa também a maioria  das grandes e pequenas cidades històricas, já que todo o relêvo jorra do centro e este para o litoral  onde sempre existiu a maioria dos lugares habitados  e das cidades portuguesas históricas e monumentais

No  mundo  e de forma directa, depende das montanhas 20% das populaçöes e, 40%,  delas  dependem indirectamente (Dossier CNUAD)

Assim, qualquer modelo de  desenvolvimento terá que integrar a economia de montanha,  permitindo  a fixaçäo e evoluçäo das populaçöes que aí nascem e  residem para  que  näo se comprometa a conservaçäo das paisagens e  do  ambiente, da água e do solo, de que depende o que fica a juzante

De  facto, o ambiente näo é um problema apenas   do ministério do ambiente, nem das obras públicas ou habitaçäo, mas  é de todos os responsáveis por elaboraçäo e aprovaçäo de    projectos que  pressuponham  intervençäo  e alteraçäo dos  usos  das  terras,   sendo  que o Ministério da Agricultura será  altamente  responsável por  näo  importa  que tipo de agricultura decidir  fazer    que  agricultura näo é separável do ambiente como näo o  é o eucaliptal ou qualquer área  de  produçäo e/ou  construçäo,  e  agricultura  näo  se  pode igualmente separar nem de ecologia nem de desenvolvimento

Será portanto uma questäo de ordenamento  do território integradamente  e à escala e natureza de  cada local sem esmagar a ossatura do  seu relêvo  natural  nem dizimar   o  manto   vegetal climácico  e  paraclimácico, onde caibam a floresta natural, a mata de produçäo, a agricultura natural e ecológica que sempre foi  a  nossa tradiçäo e, finalmente, a agricultura produtiva ou industrial, já  que  ninguém  é apologista do típico que significa eterna pobreza e atávico atrazo

Mas  näo  se poderá pensar em agricultura  e  em economia agrícola sem se pensar no que se  passa a  montante  nas montanhas, onde tudo começa,    que  a fertilidade  e harmonia das paisagens e dos climas começa  de  cima para baixo e sendo o clima que determina o  Habitat do Homem e a sua qualidade de viver e se por  exemplo o Alentejo é pouco montanhoso, também ele só poderá conservar  água no solo, e fertilidade, se for regenerado o montado de sobro e  azinho  e, bem perto, existem Castelo de Vide  (a  Sintra  do Alentejo),  e a Serra  de S.Mamede onde se pode  colher  inspiraçäo para  recuperaçao  paisagística mas que, por sua  vez,  estaräo  em perigo  com  a vizinhança do deserto alentejano, já  que  o deserto  só raramente admite oásis, embora näo sejam os  "alquevas" em  estilo de gigantesco tanque que irá resolver a distribuiçäo  da água para que chegue onde deixou de chegar com tanto erro humano

As grandes enxurradas a que se assiste há muito tempo, näo esquecendo as de 1967-1983-1987,  säo cada  vez mais catastróficas, tudo aterrando de carrejos vindos de montante, porque os montes  e margens  dos rios säo desrborizados, assoreando-os, soterrando culturas e caminhos,  trazendo  o que  está  em  cima para baixo, já que os grandes caudais dos rios näo se  väo  infiltrando  nas margens e leitos de cheia e de máxima cheia, estes ocupados com estradas, indústria,  habitaçäo, clandestinos,  equipamentos de recreio, etc. retirando os locais naturais onde a água tem de  se infiltrar

O continuum naturale foi desfeito pelo contínuum construído substituindo-se-lhe näo importa como, sem  ordem;  sem critério baseado  nas  leis  de comportamento  das forças naturais e dos  ritmos biológicos;  foram interrompidos, ou  desfeitos, os corredores ecológicos por onde flui a VIDA,
e  tais corredores näo foram reconstruídos ou recuperados, nunca  o säo,  e há que fazê-lo para manter a terra viva já que o número  de homens  vai crescendo e com ele as necessidades e  exigências,  incluindo  a de ocupar mais espaços, razäo bastante para  ocupar  (ou desocupar)  com critérios de ordenamento e näo de mero  cumprimento de  plano económico divorciado da realidade socio-ecológica  local, por  muitos que sejam os milhöes a investir, mas que  investem ainda mais destruiçäo

Mais  uma  vez citando valores encontrados  por  investigadores  do valor da terra

De  acordo com Pavan - Rev.Natureza e Paisagem jun.1977 - "Devido a desarborizaçäo,  a  culturas irracionais,  a pastoreio excessivo, apenas em 70 anos (1882-1952), a superfície  do  território utilizável  pela agricultura sofreu uma diminuiçäo de 50%, tendo quadruplicado a superfície  das terras que perderam total ou parcialmente o seu húmus"

Na  ânsia  de aumentar a sua  esperança  de vida,  o  homem esqueceu que deve  ao  Planeta  aumentar-lha também ou, pelo menos, de näo a encurtar, permitindo a qualidade de vida minimamente digna dos seres vivos terrestres

Paradoxalmente o homem aos solos pobres de areia acrescentou fertilidade durante séculos  e  aos solos ricos acrescentou químicos até os esterilizar em poucos anos

Após a destruiçäo de 70 a 100% dos grandes mamíferos há 30/40 mil anos, o homem tornou-se pastor e  agricultor  no Neolítico 6000 a.C., devastou 90% de  ecosistemas  florestais  intertropicais; reduziu  de 50% o território utilizável pela agricultura e quadruplicou a superfície das  terras que  perderam total ou parcialmente o húmus; destruíu a estrutura dos aglomerados e  a  drenagem interna  dos melhores solos agrícolas que cada vez têm menos vazios onde o ar já näo entra  pelo que  se  carregam com drenagens, verdadeiras obras de engenharia de preços de  custo  dos  quais nunca mais se retira rentabilidade nem a curto nem a longo prazo; continua a destruir a ossatura dos relêvos arrastando deles toneladas de terra que se perdem em contínuas enxurradas, ao  mesmo tempo  que  polui o solo, o ar, a água dos lagos, rios e do Mar, de onde também  desaparecem  os grandes  mamíferos;  destrói o plancton com UV; faz desaparecer mais de 100 espécies  animais  e vegetais por mês, näo falando na chuva ácida que destrói näo importa que vegetaçäo (incluindo de golfes),  corrói os edifícios de calcário, mata o húmus onde o houver e a micro-fauna  e  microflorado solo, näo ficando mais nada para destruir se se pensar na terra apenas em termos de  ter que produzir à força porque é essa a funçäo das terras, como se houvesse 
 um verdadeiro desafio de
confronto com a morte

A  Alemanha,  por exemplo, país considerado  evoluído,   tendo  nos últimos  10 anos passado de 6% do seu território  impermeabilizado, para  19%,  começou  a preocupar-se com as  consequências  que  tal situaçäo teria exercido  na fertilidade das paisagens e  alteraçöes de regimes hídricos e climáticos  

Portugal,  sobretudo no litoral, e nas franjas das  suas maiores  cidades e que foram na maioria áreas de agricultura  peri-urbana  (como o foram por toda a Europa civilizada que de forma específica fez  ordenar  esse espaço  no  post-industrializaçäo no início do séc. passado), mas,   em  vez  disso,    Portugal está construindo
gigantescas lages de betäo e de betuminoso ,
cujas perturbaçöes drásticas nos movimentos  dos fluxos do ar e  da água nos seus locais naturais que säo os vales, provocam pequenas e grandes  enxurradas e concentraçöes atmosféricas de  nuvens  permanentes de poluiçäo que väo dar origem a chuvas ácidas conduzindo  a destruiçäo  de  solo, fauna e flora, e,  finalmente,  a  alteraçöes climáticas  pontuais e gerais, como se quizesse recuperar em dois dias mais  de  um século  de atrazo repetindo erros da Europa, agora escusados e inúteis,  porque  "parece" ser demasiado tarde para aprender com erros de tal tipo  e  para  os  quais  já há hoje soluçäo, já que  data  desse  tempo  o conceito  moderno de ordenamento  das  paisagens havendo  tanto  saber nacional, e alheio, à disposiçäo para  que  a destruiçäo possa ser evitada e minimizada

Com frequência se "ouve" falar de instituiçöes que reclamam  à CEE, de grandes atrocidades ambientais que há 5 anos se cometem contra o ambiente e as populaçöes, mas täo depressa tudo está bem, a estrada do  Infante é inofensiva, os eucaliptais näo têm recusa  científica nem as agropecuárias säo esterilizadoras de solo e água, já que  os estudos de impacto logo säo feitos e tudo acharam  bem ou minimizável,  como se os estudos de papel bastassem e/ou que tudo o  que  é problema de Ambiente se resolvesse com Estaçöes de Tratamento, como se  o local onde säo implantadas näo importasse e nele  se  pudesse construir näo importa o quê e como e uma A.I.A. tudo pudesse avalizar

Será  curioso relembrar que uma das primeiras ETARs construídas  em Portugal (anos 70), foi a de Porto Covo e täo bem situada em  plena falésia  destruíndo-a,  além de ser a primeira coisa  a  ser  vista quando  partindo  da Pracinha Pombalina e tomando a  rua  principal perpendicular à linha costeira, se dá de frente com a ETAR que, por mais  que se queira, só ela se vê, e näo o Mar e a lindíssima  Ilha do Pessegueiro

Portugal  também  tem (ou teve) o seu "Nilo" - O Tejo -  ou  a  sua mesopotâmia  -  os Vales do Tejo e do Sado - näo esquecendo  tantos grandes e pequenos mas férteis vales desde o Minho ao Lima, com  as suas ainda hoje famosas Quintas que remontam do séc.XV ao XIX, umas tantas  votadas ao turismo de habitaçäo mas já grande  parte  delas com  as  suas áreas iniciais reduzidas e  invadidas  por  expansöes urbanas de arranha céus;
o vale do Douro onde o Turismo tipo "algarve" e o falso desenvolvimento já deitou o olhar de cobiça com projectos  duvidosos (Miranda do Douro),  fazendo pensar em que tipo de marcas de destruiçäo aí iräo ficar sendo por  outro  lado  já visíveis marcas de assoreamentos motivados por obras gigantescas;
ou o vale do Mondego, de Rio hoje encanado e de profundos aluviöes com aterros de 4/5 metros  de altura de "tout venant" para implantar Escolas, estradas e nós viários, mesmo à entrada de Coimbra,  onde se gera um verdadeiro caos de objectos, trânsitos e poluiçöes incluindo a visual  sem resolver nenhum dos conflitos iniciais que até se agravaram e  estrangularam a cidade obrigando-a a expandir-se sem ordem, nos aluviöes mais a juzante;
ou o Haff-delta de Aveiro, hoje destroçado com indústria improdutiva  e  altamente poluente das terras, do ar e dos freáticos, näo falando no visual de  todos  os dejectos industriais à vista e em qualquer lugar, bem como com estradas de necessidade  duvidosa aí  mesmo,  podendo ser construídas noutro local ou, sobretudo, desenhadas de  outra  forma  sem "acumular  destruiçäo", para de facto cumprirem o que se pretende de comunicabilidade  entre  as povoaçöes; (entretanto, a Reserva Natural das Dunas de S.Jacinto - ornitológica - é  diariamente atravessada  por  milhares de camiöes altamente ruidosos e  poluidores,  transportando  produtos industriais e lixos);
ou  os apertados vales de Trás-os-Montes de urbanizaçöes  mais  uma vez  tipo Brandoa ou os belos penhascos que entalam  o rio e deveriam ficar como paisagem rude e selvagem para contemplar identificando-a, já que cada país tem também a sua Herança Geo-morfológica  , a  serem  igualmente cobiçados por implantaçäo de que  Turismo  sem integraçäo  num  plano de desenvolvimento de economia  regional  de montanha

Ainda,  o turismo  que  nada produz nem nada protege,
pois  como  actividade económica é um Serviço mas como resultante final é de  facto  uma indústria demolidora do solo, de paisagens naturais e urbanas e mesmo monumentais ou de  actividades culturais;
ou  os  vales de socalcos onde habitaçäo e terraços  de  pomares  e hortas  concorrem  em beleza e inteligência de  implantaçäo  nessas Beiras interiores que o fogo reduziu a terra queimada, e de que  um escritor  português que näo recordo agora dizia - ver as  Beiras  e depois morrer;
e,  porque näo, o esplendoroso Algarve com a Campina de Faro,  hoje gigantesca lixeira, Algarve que produzia frutos e hortícolas  antes de qualquer outra regiäo do país

...  quando  o "tempo"  era  também riqueza pela oportunidade  

Em  país  com  tal clima, e gentes, até as areias  dunares  säo  se calhar mais produtivas do que um qualquer tchernozem (e os produtos   têm  perfumes   e sabores)  e, a atestá-lo, as maceiras de Vila do  Conde, as praias de Afife e Carreço (Viana do Castelo) ou as "eis"  areias da Costa da Caparica, passando pelas Gafanhas de Aveiro, cujos  PDM as  integram nos perímetros  urbanos para expansäo de  habitaçäo  e equipamento,  dando-se cada vez mais razäo ao país de ... "näo  ser viável agricolamente" 

Quando ainda há pouco tempo se falava nas Caldas da Raínha e da sua Praça no coraçäo da cidade, vinha imediatamente à memória o perfume das  flores e da fruta de Alcobaça que aí era  espectáculo,  também turístico,  como é ainda hoje a Praça das Flores em plena  City  de Bruxellas  onde näo há conflito entre ninguém. Porém,  a  pequenina praça  de Albufeira situada no único parque, que de tudo  vendia  - peixe - legumes - fruta - e que era também atracçäo turística, hoje é  um espaço feio, escortanhado de pequenos espaços inúteis,  tendo no centro um "escultura-padräo ao mau gosto e à incapacidade de  se ser genuíno,  realista e, sobretudo ... simples"

Quanto  aos produtos importados (e mais baratos) e que se  adquirem  nos super-supermercados,  quanto a certa  fruta  parece fruta  do  chäo, ou 50% já está  pôdre  na  parte inferior escondida nas irrespiráveis embalagens de plástico, ou  só sabe a "verde", ou bem depressa apodrece nos frigoríficos  caseiros porque os químicos näo säo conservantes e, quanto a certos legumes, têm  de  ser  reduzidos a 50% porque a metade  exterior  é  dura, fibrosa, é acumuladora de nitritos e é incomestível

E quanto ao Turismo se pode, e  deve, referir , este näo pode limitar-se  a viver  do  hotel de 5 estrelas näo  importa se  situado  no CAMPO  ou  na CIDADE, exibindo uma total ausência de  qualidade  do risco e de real integraçäo em cada uma das paisagens, hotel que näo sobrevive    por si já que tem também de viver das  paisagens  do interland  que,  se näo forem belas, podem os hotéis  ter  até   21 estrelas que continuaräo a estar vazios e, o algarve turístico  que o  diga  pois que para isso já lhe basta a  arquitectura  ...   sem arquitecto   ...,  sendo que nem os grandes hotéis  de  luxo  estäo cheios  nem  no mês de Agosto, porque as paisagens  onde   chega  o turismo   tornam-se   a  desordem   no interior ou exterior urbano, os nós viários estäo dentro das cidades ou estrangularam-nas   (Praia da  Rocha,Portimäo,Albufeira);  as torres de betâo säo feias,  desconfortáveis  e  sem segurança (Armaçäo de Pêra) , noutras  estäo  inacabadas  e  cheias  de  lixos  ou ocupadas por marginais   (Praia  da  Rocha); ainda outras falésias altamente erosionáveis estäo destruídas com  cortes para improvisar passagens e estacionamentos para os areais (entre  Faro e Portimäo); é um nunca mais parar de fealdade e de destroços, província  que  foi  das mais belas do país e  rica  agricolamente,  cujo perfil  costeiro perdeu identidade,  tanto no  que era natural como agrícola ou urbano no  litoral,  restando, quando  muito, algumas "ilhas", porque também as verdadeiras  Ilhas estäo em degradaçäo (Tavira) e sujeitas ao avanço do Mar (Faro)
Turismo  é  hoje   sinal  de perigo iminente,

  que  onde o turismo chega  só arraza, näo se  integra  no  pré-existente urbano, agrícola ou natural, nem nada sabe acrescentar ou redistribui  mas, antes, tudo  monopoliza, privatiza até  o  espaço público, a tudo se substitui reduzindo espaço e  actividades a  uma mono-situaçäo, apesar de tanto alarme e congressos sobre a desertificaçäo  e  a recessäo económica algarvias. Também  durante  muitos anos  o  turista portugês foi preterido, e maltratado, mas  como  o estrangeiro começou a virar costas, é de novo aliciado mas, como  o "turista  de qualidade", também ele demanda outras paragens  e  näo demanda  mais nem Estoril nem Algarve, porque para caos lhe  bastam as  cidades  onde vive

Deveria haver coragem de arrazar de novo tudo o que lhe tirou o esplendor ... e recomeçar entäo, depois de repor o que  destruíu, mas é quase tudo irremediavelmente irreversível e, o que é curioso, é  que  este  país vive de há meia dúzia de anos a  esta  parte  de situaçöes  irremediavelmente irreversíveis  também para continuar a dar  razäo ao velho fatalismo à portuguesa

O  Algarve  sofreu uma Grande Guerra - O TURISMO, e  como  turismo, agricultura e litoral se sobrepöem, haverá que encontrar o  genuíno lugar de cada COISA
Portugal,  e  os portugueses (e os turistas), tinham  de  facto  um clima e qualidade de ambiente, de paisagens  e de alimentos  (frescos, fruta, carne e leite), ao pé da  porta, que  davam  prazer aos sentidos, e de os comprar,   que  näo  foram merecidos  e,  por isso, as alfaces vieram em 1980  da  China  ?  a 1200$/Kg quando aqui faltaram, e paga sempre mais quem menos tem;
as  laranjas  de Setúbal, de Sines e de Silves  já nem se  sabe  de onde  provêm porque o nome do local de origem também é  alterado   (e qualquer comparaçäo com as portuguesas é coincidência já que säo de 3ª. escolha), sendo que os  férteis locais säo hoje inacreditáveis áreas urbanas e  viárias ou  industriais ou cemitérios de lixos de toda a ordem e,  dos  pomares  de  Alcobaça já näo se ouve falar, mas fala-se  bastante  do vinho  de Bucelas, outra área agrícola em perigo mais uma  vez  por causa de autoestradas, ou dos vinhedos de Torres Vedras, vítima  de desenvolvimento que só sabe destruir a direito a RÉGUA E ESQUADRO, cegamente, ... local onde  exactamente hoje  se arrancou mais de uma dúzia de plátanos  seculares para dar lugar a  mais uma super estrada, já que vinho de qualidade talvez só francês mesmo que de qualidade inferior , porque o que  é fundamental   num  país pobre, é abrir estradas  às   "mercadorias, porque  a vegetaçäo secular  em Portugal  näo tem  lugar  no conceito    de    património nacional;
igualmente  se  destruiram em 1992 dos já  raros  pinheiros  mansos existentes  no país, dezenas deles, e bem velhos, para  alargamento de  auto-estrada  de Montemor-O-Novo, podendo aí  ficar  num  largo separador central a dar sombra e beleza à estrada, pois  que  a  10  metros existe um vasto eucaliptal, como se já  näo  bastasse terem  as estradas dos anos 70 destruindo campos e caminhos  rurais já  com  os declives mais convenientes  para  maiores  velocidades, esquecendo-se a importância da actividade agrícola e a sua  natural situaçäo  já que, logo que chove, mesmo pouco, säo as primeiras  estradas  a sofrerem inundaçöes cujos estragos directos e indirectos valeria a pena  contabilizar  para  que  se näo afirme sempre que este  ou  aquele  traçado  previsto é anti-económico, porque o balanço final da contínua destruiçäo de espaços  e actividades é que é realmente näo só anti-económico como desertrificador  de  espaços que estavam ordenados, férteis e correctos nesse lugares usurpados pelas estradas e que,  quando muito, se näo eram produtivos q.b. que näo fosse a estrada a rezar-lhe a sentença de morte
Talvez  porque as paisagens atravessadas pelo mais recente  sistema viário    sejam  cada   vez mais feias,  incaracterísticas  e descaracterizadoras, além de cheias  de lixos e de  clandestinos que sejam elas também a contribuir para que  os automobilistas portugueses acelerem para chegar mais depressa ao seu  destino,  pois  tais  estradas näo säo construídas com a preocupaçäo de nelas se  integrarem   e  até valorizarem perspectivas próximas e longínquas - e a atestá-lo basta citar a  estrada que  sobrevoa os tectos do Mosteiro da  Batalha  de que näo há 2º exemplar no mundo 

De facto, as novas estradas dos anos 80 säo  ainda mais graves nas consequências dos seus traçados numa  ininterrupta sucessäo de aterros e de escavaçöes com cortes artificiais  e deficientes  de  TALUDES  que continuamente desabam  -  porque  nem sequer  säo convenientemente revestidos de vegetaçäo a  qual  seria importante  como  "corredor ecológico e  barreira  anti-poluiçäo  e anti-ruídos" - estradas que passam verdadeiras tangentes a  escolas ou  a  bairros habitacionais, com deficiente  sistema  de  drenagem pluvial,  ou sempre em obras, ou inacabadas, ou com  materiais  sobrantes  na  base dos taludes e nas bermas,  factos  que  acarretam desfear  as paisagens e interromper os movimentos naturais do ar  - nevoeiros - e água - ficando constantemente inundadas com um mínimo de  pluviosidade, destruídas no pavimento e drenagens e  nas  zonas marginais, estragos directos e indirectos que valeria também apena contabilizar comparando com o "preço de custo" de uma  estrada planeada  e desenhada segundo as regras de ordenamento  viário,  de protecçäo e conservaçäo dos valores da natureza e paisagísticos
Nunca  se  contabiliza a destruiçäo e valeria bem a  pena  para  se poder  perceber porque é que se empobrece cada vez mais, em vez  do contrário

  A estrada, em vez de ser  um  elemento humanizante   da   Paisagem   é   um    objecto  intruso,  imposto à força cortando a direito o que  está "na sua frente", como se fosse a estrada que  tivesse de passar, em vez da água e ar e "os outros elementos e objectos  humanizadores", como  se as belas, e primeiras autoestradas do mundo - as alemäs  - näo  fossem conhecidas - ou a autoestrada do Sol que é  uma  verdadeira  obra  de  arte de engenharia ou, ainda, a  linda  e  recente autoestrada  Londres-Brighton  ou as  belíssimas  autoestradas  que correm  desde Miami a Nova York com magnífivas "obras de  arte"  em áreas protegidas e por vezes com largos separadores centrais, exactamente para que a vegetaçäo arbórea e climácica näo seja  arrazada,  mas que  sirva  de  sinalizaçäo verde para ajudar o condutor a ter elementos que lhe tornem a conduçäo dinâmica e atractiva

Se Portugal já teve honras de figurar em livros internacionais pela sua reconhecida qualidade de desenhar  estradas a preceito, hoje só se for em livro negro, com a proliferaçäo de IPs  5,  que näo passam de meros exercícios de estirador, posteriormente impostos aos locais

As  estradas de Portugal dos anos 80, porque acrescentam  erros de implantaçäo às das  dos  anos 70, säo actualmente as maiores responsáveis pela destruiçäo irreversível da ossatura  do país destruíndo a orografia dos  vales  e sua  funçäo natural e insubstituível, à escala regional e  nacional (recorde-se  as  inundaçöes de 1986 desde o Algarve à Foz da cidade do Porto e sem que  a  queda pluviométrica  tanta  inundaçäo  pudesse justificar)  já que a  água  näo  se pode encanar  ou  meter em sucessivas caixas de queda de betäo,  nem  se pode retirar-lhe os naturais locais de infiltraçäo e de drenagem  - já que é a água que tem que passar e  näo a estrada -   áreas  agrícolas   ou mesmo  quintas     reduzindo-as   a  mini-espaços inúteis, monumentos,  árvores seculares ou climácicas, arquitectura popular  tradicional  deixando à mostra clandestinos, barracas, lixos,  entulhos, cemitérios de sucatas, ou seja, em vez de  valorizar o que já era belo,  arraza-o e  desvenda o que devia  ser deitado  abaixo  ,  como se com  elas  o  país estivesse  a  revelar as suas mais escondidas  entranhas  que  meia dúzia de anos de improviso provocaram e agora ficam à luz do dia

De  facto, este país era täo rico em património de toda a  ordem  - natural  - arquitectónico  e monumental  das várias épocas da  história do homem - que se podem destruir e arrazar a bulldozer  estaçöes  punico-fenícias em Silves ou  a Ilha do Pessegueiro  (Sines), que  além de possuir 2 importantes estaçöes arqueológicas, é  ainda local  de vegetaçäo endémica e de nidificaçäo do Falcäo  peregrino, além  de  ser local de desova de pelo menos 12 espécies  de  peixes ricos  que  no alto mar se pescavam; ou deixa-se  arder  o  espólio barroco do interior de Igreja de Vizeu (Mr.1992); ou deixa-se tapar o  monumento  dos Jerónimos que näo mais se pode admirar  ao  longe doirado  pelo  por  do sol, nem a Torre de Belém,  os  dois  únicos monuentos que justificam denominar a área de monumental, que säo os mais significativos do país e hoje divorciados um do outro,  divorciados  visualmente  dos percursos, já que se  alguém  deles  ouvir falar tem de procurá-los ou perguntar a quem passa. Depois de estradas  a sobrevoar o Mosteiro da Batalha há outras a sobrevoar a área monumental de Belém  

Resta porém de genuíno, os bifes do gado mirandês, se entretanto  a populaçäo  näo  morrer ou emigrar, porque as vacas das  beiras,  do ribatejo  e  do alentejo doparam-se, mas temos o consolo  de  poder beber  leite  em pó de proveniência de  várias  nacionalidades,  de saborear anonas todo o ano, româs em agosto, uvas em   dezembro  ou morangos com novas formas e volumes porque talvez o mercado rejeite as que lhe eram próprias por origem genética (mas temos a gastronomia  turística que de entre outros inventou a sardinha  assada  com batata frita)

Näo  tem importânciae ficar com a memória sensorial toda  baralhada porque isso das 4 estaçöes näo tem interêsse nenhum, porque  também há  países  que  só têm 2 estaçöes e Portugal näo  precisa  de  ter tantas,  como näo tem importância nenhuma confundir  umas  estaçöes com  as  outras através dos produtos agrícolas, já  que  a  memória celular  - e a memória  colectiva  sensorial   e  cultural,       näo interesam,   näo têm nada a ver com economia  nem  desenvolvimento, nem  turismo,  nem humanismo, porque   as crianças que  hoje  habitam  as cidades olharäo os campos nos livros e ouviräo o canto dos pássaros no vídeo  em cidades espaciais

Simplifica-se com tudo a saber a todas as coisas e a coisa nenhuma, numa paisagem de estufas de plástico, sem ordenamento e a diminuir áreas de infiltraçäo de  água no solo, a retirar vegetaçäo arbórea porque a estufa näo pode ter sombras; tudo isto rodeado  de paisagem de eucaliptal

O nosso quotidiano já é täo pesado e deixa-nos täo pouco tempo para descansar  e pensar, que nem sequer damos pelas grandes e  pequenas alteraçöes  desastrosas  que ele nos fornece e acordamos  todos  os dias constatando sem poder de análise ou crítica

De  facto, näo é importante a genuinidade das flores e  dos  frutos com  as suas cores, formas e perfumes naturais, mas sim  que  sejam produtos    de  série, baratos e  comerciáveis,  que  tenham as dimensöes  exigidas e as embalagens normalizadas, näo esquecendo  o verniz para pulir o que näo luz, já que o importante é o exterior e o  embrulho porque é necessário cativar o olhar, distraí-lo, e  näo pensar mais no que é qualidade intrínseca a cada coisa e lugar, mas antes, aliciar-nos para  o que está na moda

A  O.M.S.  publicou   valores   interessantes quanto  a  doenças  e alteraçöes genéticas em adultos e fetos humanos, por tipo de poluiçäo incluíndo a alimentar devido a excesso de químicos, números que näo  säo de ficçäo, sendo impressionante ouvir (e ler) que  até  ao ano 2000 morrerá 1 biliäo (somos 5 biliöes) de pessoas com  doenças incuráveis incluindo as respiratórias e alérgicas


Toda a nossa vida é "aprisionada" de  artificial desde o computador e os seus jogos, do sabonete ao detergente  para lavar  a molhado ou seco todo o tipo de roupa, pavimentos e  loiças que  usamos todos os dias, aos químicos corantes e conservantes  de bebidas e de alimentos já de si artificiais, passando pelos  produtos químicos da agro-pecuária ou os texteis do vestuário e calçado, das embalagens de plástico de toda a ordem a embrulhar tudo, dentro e fora dos frigoríficos, terminando nos materiais de construçäo dos locais de habitar, trabalhar e divertir, como o betäo irrespirável, as  alcatifas, as telhas argi-betäo, as fórmicas, as läs de  vidro, os  PVC, os mesmo plástico de plástico, os ares-condicionados e  os verdadeiramente poluídos, mas gastam-se milhöes em campanhas  anti-tabágicas  como  se o tabaco fosse o único alarme para  prevenir  o cancro

Faz pensar se os alimentos produzidos à moda  antiga com  estrume  e xurume, moliços e outros materiais naturais  que  a natureza tanto dava de gratuito e täo bem biodegradava, näo  ficariam  muito mais baratos do que todo  este  enrêdo químico-plástico longe do sol e do natural e, portanto do bios, mesmo que se justifique que o homem recorra do "artificial" para compensar desvios de produtividade pois que, comparando, quando está doente também recorre a medicamentos, mas näo ...  toda a vida
Consola-nos ....  saber que a indústria
dos medicamentos tem remédio para tudo

Näo  tardará  também o tempo em que irá nevar em agosto na Suissa e que o Sol passe a  nascer  à meia noite em Portugal - e que o Homem seja um mutante

Quanto a Portugal, com täo poucos habitantes para a superfície  que tem  relativamente a outros países do interior europeu, nunca  será percebido,  nem  talvez  bem explicado, e näo  será    o analfabetismo dos rurais porque razäo os  27%  de território  de  terra arável (1/4 do território nacional), nunca  chegaram  para alimentar mais populaçäo e proporcionar melhor qualidade de vida  a quem nele habita, já que nos anos 70 se importava à volta de  60% dos alimentos necessários e, hoje, exactamente com a mesma  populaçäo, a importaçäo é já superior a 75% com tendência para aumentar se  a agricultura continuar a ser o parente pobre da economia  e  o seu "espaço" ser sempre o preferido para "as outras" se instalarem, já  que temos de ser evoluídos e ricos e, veja-se, é sempre  à custa  da ocupaçäo e destruiçäo  do  solo-espaço agrícola  mas, a Suissa, com menor área agrícola,  produz  mais, sendo  difícil de perceber que só o grau escolar esteja  em  causa, já que Portugal tem milhares de engºs  agrónomos e silvicultores (e engºs do ambiente), talvez sentados em secretárias resolvendo problemas administrativos e  burocráticos, redigindo pareceres a propostas de corte de vegetaçäo climácica  ou  outra arbórea para implantaçäo de estradas,  habitaçäo  e estaçöes de serviço de venda de gasolina, ou redigindo E.I.As,  com muito saber, mas que näo chega aos locais rurais e à populaçao  que querem trabalhar a terra, já que o seu grau universitário os  torna incomunicáveis  com  os que usam outro tipo  de  "linguagem,  sendo porém  täo  fácil impor-se-lhes estradas, corte de  propriedades  e caminhos,  instalaçäo  de  indústrias e de  aterros  sanitários  ou apenas depósitos de detriros além de turismo e invasäo, sem  licença, de desporto, além de de turismo, mas näo se consegue  impor-se-lhe novas formas de cultivar as terras

Näo  será nem a área nem a sua natural produtividade que  estäo  em causa, nem será também  o número de "rurais" que nem sequer  esqueceram o que sabiam do como cultivar a terra de seus avós, já que  o conhecimento  agrário näo é de Hoje, é de um Ontem muito  longínquo de há milénios e, o de hoje, só polui, destrói, inviabiliza,  incapacita  terras  e gentes, exactamente quando  o  homem atingiu  o máximo do seu conhecimento técnico  e científico para poder criar muito mais riqueza, em vez de fome

Em vez de se continuar a destruir a já pouca terra grícola do mundo (reduzida a 50% nos anos 50)   - e do País - ao menos que näo seja ocupada impermeabilizando-se - mas, o saber e a inteligência do  homem de hoje de séculos acumulada, também näo interessam pois que se pode recorrer  à inteligência artificial, ou modelos estrangeiros de cultivar  solos de situaçöes ecológicas e climáticas täo diferentes e näo  extrapoláveis  de  imediato, como extrapoláveis näo säo e  se  calhar  näo devem ser, os aspectos socio-culturais, já que também deve ser dada a liberdade de querer este ou aquele caminhoe näo consta que o povo português urbano  ou  rural seja estúpido e näo queira evoluir (  a  casa  do Emigrante  é  um índice desse querer - como o  é  querer  implantar turismo por mais aberrantes que sejam ambas as situaçöes)

O  Homem  da Cidade encontra sempre justificaçäo fora de  si  mesmo para  culpar näo importa que situaçöes, quando afinal   A  CIDADE QUE  HOJE  TUDO DECIDE DENTRO E FORA DELA como se  a  cidade  fosse única detentora do saber - e do poder - mas cuja cultura urbana  se tivesse  tornado completamente inoperante perante a real  realidade  do  concreto  de cada espaço. A contradiçao do que se diz e  faz  é quase chocante, mas näo restam DûVIDAS de que é sempre a cidade que destrói o campo, que o invade, que o usa como quer e, por fim que o CULPA da sua própria inoperância, porque os rurais säo analfabetos, como se a SABEDORIA só tivesse uma face e fosse MONOPƒLIO da cidade

Por falar em Suissa é curioso notar uma faceta da sua evoluçäo  dos anos  60  para os 80 em que no Cantäo de Genève, logo  ao  sair  da cidade, era nítida a "passagem" de uma situaçäo urbana para a rural e,  o  Campo era um campo como outro qualquer da  europa  evoluída, como  os campos da Alemanha, e mesmo Inglaterra

Neste país, por exemplo, de costa a costa ao sul de Londres,nesta é impressionante  o respeito pela terra, o ordenamento das  paisagens rurais, o respeito pela compartimentaçäo, incluíndo os  aglomerados habitacionais  e as "franjas", resultando daí uma beleza  incomparável   como  se  o  Campo  Inglês  fosse  a  continuidade   do JARDIM æ INGLESA,  belesa rural que  mereceu dos  Serviços  oficiais uma nova clasificaçäo de  áreas  rurais  de "outstandig beauty", áreas onde cabos de transporte de electricidade e todo o equipamento de modernidade é enterrado para  näo violar  o "sentido de rural", da mesma forma que possuem  as  áreas denominadas  "Coastal  Heritage,  para que o litoral  mais  belo  e diferente seja uma herança a usufruir por todo o mundo

Se Portugal já foi denominado
Jardim à beira Mar plantado
e  as  suas paisagens mereceram ser cantadas por  intelectuais  ingleses,  hoje o canto só pode ser um grito muito  alto  para que alguém faça parar a "implantaçäo" do FEIO     

Voltando  à  Suissa, nos anos 80, ao visitar-se o campo,  desde  os pavimentos  impermeáveis  de betäo em estradas e caminhos,  até  ao equipamento  de  restaurantes e de recreio, automóveis  privados  , etc.,  respirava-se  um ar de riqueza e de urbanidade, como  se  já näo fosse täo necessário ir ... à cidade, já que se tinha adquirido muito do "conforto, equipamento e até gestos" de urbe
No entanto, pareceu-nos demasiado betäo e betuminoso até pela imposiçäo  de  tais cores e materiais que näo säo  "próprios"  em  área rural, como os desenhos de campos e cultura a régua e esquadro  däo à paisagem um ar artificial que näo se vê no Campo inglês, ou mesmo francês,  apesar  deste pela topografia,  ser diferente,  e  ter  o aspecto  de  um infinito mosaico de formas geométricas como  se  se tratasse  de  um Mondrian, ou näo fosse o sul de França,  berço  de grandes  "impressionistas", que foi no  campo  e näo  na cidade que colheram inspiraçäo,  vigor  e até eternidade

Mas  falando  ainda  de destruiçäo de terra  agrícola,   é  curioso relembrar  que  quando Inglaterra atravessou a  II  Grande  Guerra, Churchill  mandou os ingleses plantar batatas no Hyde Park mas,  se um  dia formos nós, näo teremos  sequer "hyde parques",  dentro  ou fora das cidades  já que Portugal é  considerado dos países  da CEE que mais árvores abate  dentro  e fora das cidades, já que os jardins públicos portugueses  ou estäo ao total abandono, on constrói-se-lhe equipamento de jogar  a bola,  ou  säo  estacionamento automóvel e,  quanto  aos  privados, deita-se-fogo, ou däo lugar a torres de betäo sem estilo nem  integraçäo  no velho tecido urbano ou, quando situados no  interior  de quarteirôes  (jardins  de trazeiras), säo  ocupados  por  garagens, armazéns,  lixeiras de materiais sobrantes de obras, etc.,  de  que Lisboa é o melhor exemplo

No  entanto,  Lisboa que nos anos 50/60  era considerada  das  mais verdes e limpas cidades europeias, decretou guerra aos espaços  dos peös e à árvore, em favor do automóvel, täo poluente, e näo  encontrou  espaços para plantar mais, já que a cidade näo  parece  poder dar aos habitantes ... também  ...  os espaços e o tempo de nela se recrearem e a admirarem - e conhecerem -

Os  Parques  e  Jardins, e a árvore, introduzem  a   natureza  viva dentro da cidade e, com ela, os ritmos das 4 estaçöes, os  perfumes e  cores  das  flores e o canto das aves, sendo  locais  de  evapo-transpiraçäo e portando reguladores climáticos, bem como filtros de ruídos e poeiras
Talvez  porque a natureza abandona a cidade ou é rara,  os  urbanos "odeiem" a chuva quando nela cai, mas abatendo a árvore sem  exitaçäo  logo se queixam quando o veräo é impiedoso e näo  encontram  a sua sombra, nem o seu tecto que dá escala humana
  
A  Cidade  desumanizou os espaços e os cidadäos que por  isso  dela fogem  logo  que podem demandando espaços naturais de beira  mar  e campo,  mas  neles "deixando marcas de urbanos" que já  näo  sabem, nesses  lugares,  ter comportamento adequado,  levando  consigo  os "barulhos" urbanos de rádios e automóveis porque já näo apreciam  o barulho do mar e do vento e nelas  deixam a violência e os lixos da cidade
 
Embora  menor do que essa já grande área agrícola dentro e fora  da RAN,  as  åreas Protegidas (Parques e Reservas Naturais -  5,1%  do território nacional) também elas incluem espaços agrícolas produtivos no seu interior, valiosos pela qualidade dos produtos e  técnicas  agrícolas  tradicionais e pela manutençäo da  fertilidade  dos solos e paisagens, mas já algumas delas exploradas por  milionários em  cultura de forçagem altamente poluentes de terras,  culturas  e freáticos,  num país que dizima todos os dias vegetaçäo natural  ou tradicional ... explorando "terra e homens", sem riqueza para estes  

Também é interessante fazer a relaçäo entre a superfície total  das áreas  protegidas (+- 1 milhäo de hectares),    exactamente a  área de  floresta  ardida nos últimos 10  anos  em  área quase contínua, enquanto as áreas protegidas, pulverizadas de norte  a sul, säo pequenas, mas ameaçadas  pelo assalto do  turismo ou  da habitaçäo de luxo ou, pior, por obras públicas faraónicas  e altamente comprometedoras até do sentido do que se entende por área protegida, sobretudo de  Parque e Reserva Natural, algumas das quais fazendo parte do
continuum naturale europeu
ou  Rede europeia de conservaçäo da Natureza, de   que  Portugal  é näo só subscritor (Convençöes de Bona e de Ramsar), mas quase único possuidor de  redutos  únicos   de litoral  europeu mas, por   isso   se  lhe constroem marinas (estuário do Alvor - Reserva Natural), ou  pontes e  autoestradas  (Reserva  Natural de Castro Marim e  do  Tejo)  ou apenas autoestradas (Parque Natural da Serra de Aire e  Candeeiros) ou  também ainda Habitaçäo e Turismo (Paisagens Protegidas de  Sintra-Cascais  e P.P. do Sudoeste Alentejano)   ...   tudo  isto  nos únicos  5.1% de  de áreas protegidas, como se já näo  houvesse  mais  espaço "aberto"  para  tais  obras, nestes 89060 Km2

Quem cuidadosamente visitar o país de norte a sul (näo esquecendo a visita aos locais onde o fogo grassou), verá como o litoral é  uma  paisagem em ruína e  uma  lixeira  quase contínua,    incluíndo   nesta   classificaçäo   as   expansöes industriais  com arquitectura e materiais de barraca, ou urbanas  à brandoa que, na sua totalidade, excedem em área  de ocupaçäo, a que é ocupada pelo  casco urbano histórico que chegou aos anos 50  incólume e näo parece que desde aí a populaçäo tenha  aumentado para tal justificar, excepto a migraçäo forçada dos que  demandaram o litoral

Para  observar  o que se afirma basta para tanto  tomar  a  estrada Lisboa-Braga  ou  o combóio, ou percorrer a estrada  Faro-Ponta  de Sagres, sem que seja necessário sair do transporte utilizado

Quanto à estrada algarvia, em vez de rematado o seu percurso  pelos antigos   muros caiados de branco, a habitaçäo regional e as  amendoeiras  misturadas coms pinheiros mansos, säo hoje  rematadas  por armazéns  de  sucata  ou de  quinquilharia  ou  electro-domésticos, estufas de plástico abandonadas e/ou destruídas

Nem ficaram as velhas e lindas estradas nacionais como  turísticas, nem as novas acrescentaram facilidade de acesso porque continuam  a ser  "urbanas" e sem se integraram no relêvo natural,  desfazendo-o como  quem esmaga um esqueleto desnecessário para caracterizar   um tipo de paisagem 

Quanto ao país mais ao norte, visite-se Arco de Val-de-Vez, Vila do Conde  e  franjas de Valença, o cordäo dunar entre Espinho  e  Vila Nova de Gaia, veja-se entretando a forma e arquitectura dos  edifícios,  os materiais, cores e dimensöes, incluindo   dos  "melhores" hotéis de Espinho e do centro de Braga,  a sua integraçäo na arquitectura patrimonial, näo deixando de ver as chapadas de betäo na Sé de Braga

A  falta  de sentido estético e de ordenamento näo  é  um  problema ligado apenas ao sector agrícola mas a todo  o tipo de gesto e forma dos portugueses de hoje intervirem nas paisagens,  como se a criatividade e ancestral  habilidade de as ler, interpretar e humanizar, se tivesse esgotado

Como  pode um país täo rico na variabilidade de paisagens,  algumas verdadeiras  liçöes
de história da Arte
de Cultivar a Terra,
e de a urbanizar, rico em biodiversidade e produtividade  primária, nos vales, nos estuários e cordöes dunares , e no Mar, ter
independência  nacional   com tanta  dependência  alimentar  do exterior,  paisagens  que  säo  a sustentaçäo do clima e que  foram a   razäo número um de ser  milenário  de  identidade   política, geográfica  e até de alta procura
Turística


Como se as cidades  tivessem levado  milénios a nascer  e crescer  para  acabarem  täo mal e täo depressa

Näo é pois de estranhar que tendo sido o turismo, nos últimos  25 anos, o mais importante sector da  economia  portuguesa (depois das remessas dos emigrantes e impostos), esteja hoje em recessäo  aflitiva,  e confessada, querendo agora invadir,  com
desespero,  näo    os espaços  rurais  (Turismo  em Espaço Rural - T.E.R.), como as próprias e poucas åreas  Protegidas e que o näo säo mas säo belas, repetindo o mesmo tipo de  programas de modelo algarvio 

Nas  escolas  de  Portugal o ensino näo contempla,  para  todos  os graus, matérias humanistas hoje fundamentais dada a grande velocidade de evoluçäo das  sociedades), em que matérias de educaçäo estética e de ecologia ligadas ao ordenamento das paisagens säo täo importantes como aprender a ler e a  contar fazendo ter pena dos alunos do 9º ano quando se lê o  que lhes é ensinado de ecologia e ordenamento que disso só tem o  nome, e  de  que nada restará, como substracto útil, ou  para  níveis  de ensino mais avançado, para que uma vez profissionais, näo se olhe a natureza e paisagens, como um objecto sem reacçäo aos maus tratos

Com  tal tipo de intervençäo nem  o turismo nem os espaços  poderäo sobreviver sem política de ordenamento e de Protecçäo do Ambiente e das  Paisagens, do património natural e arquitectónico,  de  acordo com a especificidade e genuinidade de cada regiäo e local

A näo ser assim, näo restará nada nem para  o  espaço nem  para  o turismo,    que  o  espaço físico   interessante  parece  ser   täo limitado, que tem de invadir o pouco que resta de belo e  vagamente equilibrado  ecologicamente  e quanto à ossatura  identificadora  e geradora  da  beleza das paisagens e dos centros  de  povoamento  , ficando apenas uma paisagem do IV MUNDO

Parece  näo poder caber aqui falar no desporto nacional e  internacional  no  espaço  agrícola e natural, ou  áreas  protegidas,  com invasöes e alienaçöes
todo o terreno,
nem  mesmo do Rally Rampa da Arrábida (o único reduto de floresta  pré-glaciária da  Europa, bosque de sombras e de perfumes, cantado por Sebastiäo da Gama, seu primeiro  "vigilante") mas já que falamos de economia  agrícola,  é  forçoso falar na multiplicidade de usos  a  que  o  espaço agrícola e de protecçäo está sujeito, incluindo estes  novos usos sem ordem nem regulamentaçäo,  como se näo bastasse a contínua reduçäo dos poucos espaços onde a vida ainda flui, mas com  certeza por pouco tempo, já que é perturbada e violentada quase ao mm2  por qualquer tipo de transporte público ou privado, colectivo ou  individual,  de  trabalho ou de desporto, que permite acesso a  todo  o lugar, e por usos que naturalmente säo imcompatíveis

A   loucura  da  procura   e elogio  da  natureza näo  pressupöe  ir  a correr usá-la com mais intensidade e diversificaçäo de utilizaçöes, antes pelo contrário

Quanto  ao litoral português, a zona mais rica  do país, mas também a mais frágil, espécie de bacia de recepçäo  de tudo o que  "escorrega" do interior norte e leste, está atafulhado de caos , de excessos  de gentes (80%),  e  de  tudo  o  que às gentes  diz respeito,
como  se o país  se  tivesse reduzido à faixa costeira e, o  que näo é, fosse para deitar fogo
Näo  se  podem  desligar  as paisagens   agrícolas    das paisagens naturais (e selvagens)  - todos säo continuum naturale - e, muito menos,  dos  habitantes que delas foram os obreiros e, portanto, da sua forma de habitar  os espaços, já que a Harmonia Terra-Homem  sempre  existiu nos países fazendo-os belos e férteis, ou feios e desérticos, sejam as  pessoas  novas ou velhas, com sabedoria colhida nos  livros  ou fora  deles,  porque  o complexo de doutor näo pode  chegar  nem  à agricultura nem ao engraixador, porque uma coisa é haver acesso  ao grau  escolar  a que todos têm direito só  porque  nasceram,  outra coisa  é pretender que qualquer cidadäo da populaçäo  activa  tenha grau universitário, desfazendo a pirâmide de  equilíbrio  natural dos vários  níveis  profissionais, semelhantemente à forma de uma cadeia alimentar, já  que  o homem quanto mais força o natural,  maior  desiquilíbrio encontra no seu viver  

No  que a Portugal diz respeito, e ligado à sua grandeza passada  e presente,  será interessante olhar para os pequenos desenhos  apresentados com a ocupaçäo do coberto vegetal climácico,  comparando-a com  a  distribuiçäo  da ocupaçäo humana, bem  como  da  circulaçäo (estradas), já que säo fruto umas das outras

É importante olhar para trás para a história da evoluçäo das paisagens  do país para melhor entender que a evoluçäo näo pára nem  que páre o homem - a evoluçäo é regulada por leis cósmicas e näo  humanas - näo parando também o envelhecimento mas, a degradaçäo, àparte as catástrofes naturais de näo intervençäo humana, depende mais  da acçäo directa do homem do que do seu natural envelhecimento,  muito embora  sempre tenha havido grandes catástrofes radicadas na  acçäo do homem, mas as de agora säo mais visíveis e afectam a  humanidade em bloco

E, assim, vou mais uma vez voltar atrás

Após retrocesso das formaçöes glaciares, a partir do ano 4000 a.C., intensifica-se o povoamento da Península Ibérica, eventualmente  na sequência da desertificaçäo do Sahara (In: Ilídio Arújo - Litoral português)

Esta situaçäo quase obriga a pensar nas actuais gigantescas  deslocaçöes das populaçöes do continente africano, que ora por causa  de enxurradas,  ora por causa de grandes secas repentinas,  conduzindo ambas a täo grandes catástrofes tal que nesta última meia dúzia  de anos,  säo  obrigadas  a andar de país em país à  procura  de  como viver,  fugindo  da desertificaçäo, repetindo gestos de  há milhares  de anos, mas que  se  processaram lentamente

Porém, no passado, ainda havia para onde fugir e foi assim que a faixa costeira da Ibéria assistiu à maior concentraçäo  populacional, como o demonstram as inumeráveis estaçöes arqueológicas e as  povoaçöes que a partir do séc.XII foram crescendo,  sendo  hoje pequenas e grandes cidades, como no caso português Porto e  Lisboa, Viana do Castelo, Póvoa do Varzim, Matosinhos, Espinho, Figueira da Foz,  Setúbal,  Lagos, Portimäo, Faro, Olhäo, Tavira  ou,  as  mais pequenas como Caminha, Åncora, Esposende, Nazaré, Peniche, Cascais, Estoril,  Sesimbra, Sines, Vila Nova de Mil Fontes, Sagres e  Albufeira e Vila Real de Stº António (In: Ilídio Araújo)

Será  também interessante olhar um desenho da Revista do Centro  Nacional  de Cultura de Mr.1993,   Herança do Infante,  onde    consta
A ossatura urbana
ou   Casco   histórico   dos povoamentos  do  país que se  mantiveram  incólumes  até  aos anos 50/60 -  eram a beleza  urbanizada  inserida inteligentemente  na  paisagem natural, fazendo do  país  dos  mais belos  e harmoniosos do mundo, mesmo dentro da singeleza  das  suas construçöes   e  materiais,    que  o  requinte  em  Portugal   é "interior", e porque o clima também näo exigia que dele nos  defendessemos com grandes "muralhas de pedra"

Essa  grande  herança chegou aos nossos dias e  serviu  o Turismo, que como menino filho de pai rico a quem tinha sido deixado  um tesouro, porque näo trabalhou arduamente para o  conquistar, delapida-o em curto espaço de tempo comprometendo até a sua natural esperança de vida

O  desenvolvimento dos séc. XIX e XX, juntamente com  o  denominado turismo balnear, fez aumentar extraordinariamente a necessidade  de construçäo  de  equipamentos daí advindo  descontrole  dos  núcleos urbanos  e degradando o litoral, sendo no entanto famosa a  Riviera portuguesa - Estoril 1905 -  täo procurada e que de novo fez sair o nome  do país para o exterior, mas que hoje (como e com o Algarve), é  uma verdadeira  MATA DE BETÄO e de betuminoso, para um turismo  que  já näo  aspira  a nenhuma qualidade porque já näo a  há,  näo  havendo sequer  conforto  para  os residentes naturais, já  que  se  tornou   também dormitório de Lisboa

O  que se insiste em chamar hoje turismo de qualidade (e  turistas) demandam  o Egipto, a Turquia, as Ilhas Galápagos, as Gregas ou  as Maurícias e Amazónia, países longínquos e exóticos para os  ocidentais  e até aqui pouco inacessíveis como a China, a India ou  mesmo Miami  ou,  entäo, os grandes centros urbanos onde  reside  cultura universal ou local dos vários continentes, näo esquecendo o Tibet e mesmo os altos cumes dos Himalaias mas näo os nossos täo degradados e  de já täo pobre oferta nos equipamentos, paisagens e até  serviços, porque o melhor foi delapidado ou está a sê-lo


O  turista de "qualidade" quer o genuíno, exige muito e até  o inesperadamente simples porque natural, näo quer plástico, näo quer o  que de mau ou parecido tem no próprio país,   porque     turismo significa exactamente ir à procura com ou sem programa, embora o turismo mais actual seja TEMåTICO

Voltando  de  novo ao novo litoral português,  e  acrescentando-lhe       as consequências de novas migraçöes do interior e de intensificaçäo turística,  o reforço de sistema viário e do mais variado  tipo  de novos equipamentos, é quase óbvio poder-se concluir que   o litoral corre  o  risco de  desaparecer   como  entidade fértil e/ou atractiva para o recreio   e  o  turismo  tal  é  a   sua (IN)CAPACIDADE  de carga que há muito foi excedida, como se lhe  näo  bastasse o caos urbanístico das praias mais procuradas, como as da Linha, a Praia Branca, Ericeira, Sesimbra,   Foz  do Arelho,  Salir do Porto,  Vila Nova de Mil Fontes,  Sines  (com  autoestrada construída sobre o eis-extenso areal), acabando em Vila do Conde porque, de facto, todas  enfermam de grandes pecados

O  caos implantado no país  urbano, viário e agrícola, interior  ou litoral,  tem todo a mesma raíz e creio que vale a pena pensar como  degradou  o próprio  ENSINO, por maior que seja o número inflaccionário de escolas de todos os  níveis,  incluíndo o universitário, já que, infelizmente, há graus de ignorância, incultura e de distracçäo desse "nível", que custa a acreditar, mais uma vez, que sejam só os estudantes a serem  culpados do seu próprio insucesso escolar ou, entäo, há epidemia é nacional 

Da  mesma  forma,  se por um lado parece difícil  poder  imputar  a tantos agrónomos e silvicultores a culpa da situaçäo a que chegou o espaço agrícola, por outro, se os agrónomos culpam o  analfabetismo dos  rurais,  pergunta-se  para que servem e o  que  servem  tantos milhares  de universitários  da classe agronómica, da  mesma  forma que se pergunta como é que outros tantos milhares de arquitectos só agora constatam e se manifestam  sobre o caos arquitectónico que já vem de täo longe, é täo visível  e continuam a ser responsáveis por PDMs que enchem espaços mas näo os ordenam, como se ser arquitecto, e  urbanista fosse apenas projectar para construir pois que, já  na Primeira  Renascensa a unidade de  projecto  incluía   simultâneamente o espaço construído  e o  aberto  , numa unidade indivisível  e,  hoje,  esse espaço aberto - ou verde - é apenas o espaço que "resta" e que  näo é necessário impermeabilizar para mais projecto urbano

Depois,  dá-se ao paisagista (ou näo), uns canteirinhos para por uns "alegretes", ou já vem  uma proposta  de "área verde onde nada cabe porque até têm de caber os automóveis cuja área e  dese-   nho, näo fazem sentido e para o que basta visitar as áreas de expansäo urbana dsede os anos 60
 
Pelo  que foi dito parece que se reduziu o país a Lisboa e ao litoral (mas é mais do que  óbvio) da  mesma forma que parece que turismo e agricultura andam sempre de mäos dadas,  embora com pouco amor pelo meio


Veja-se, para terminar este capítulo, alguns valores respeitantes ao
calcanhar de Aquiles do País -   o  litoral   - e às suas mais  ricas  zonas  agrícolas, constituídas pelos aluviöes

- Profundidade dos aluviöes dos grandes rios que no litoral desaguam e com caudais superiores  a  
  100 m3/s:

- Douro  62 m   -   Vouga  60 m   -   Mondego  48 m   -   Tejo  80 m
  In: Ilídio de Araújo - Litoral português


3 - AGRICULTURA  -  AMBIENTE
    ECOLOGIA-DESENVOLVIMENTO


  foi  dito anteriormente o que julgamos fundamental para  que  a agricultura   e a floresta, constitua pedra basilar do  desenvolvimento,  entendendo  este como o crescimento harmónico de  todas  as actividades  económicas,  incluindo as artesanais,  para  todas  as classes socio-económicas, nos locais onde as pessoas nascem, já que a elas deveria ser dado o direito de aí continuarem a viver humanizando  e conservando os espaços, tirando deles o que deles se  pode tirar, dando-lhes a beleza que milenarmente se foi implantando  por suas mäos

As áreas agrícolas contribuem para a grande variabilidade de paisagens  de cada país,   tornam-no  belo, humano  e saudável, permitindo  ainda  que seja  visitável e só as populaçöes rurais, em seu sítio,  as  podem guardar e delas seräo os melhores guias turísticos

O homem urbano expulsou a natureza de dentro das cidades, decretou o ódio à árvore dentro e  fora delas, seculares ou recém-plantadas porque já näo sabe o  verdadeiro sentido nem do campo nem da árvore suporte do mundo,  da  natureza  nem da vida em si  mesmo,  sabendo  no entanto  que  a sua vida, estando no fim da cadeia do  grande  ecosistema  planetário, näo persiste além da da Terra e do seu  amanho com carinho como se fora um jardim, e näo com químicos e super mecanizaçöes e artificialismos sem limite

No entanto, os engºs agrónomos parecem agora só querer  envolver-se em  gigantescas  obras civis ou na indústria química,  relegando  o aspecto  da agro-economia aplicado aos bens agronómicos como se  de  bens  inertes  se tratasse, esquecendo a  essência  da  formaçäo científica e técnica original (e criativa), de cujo título  profissional   säo possuidores

E,  mais uma vez,  se o país é turístico no espaço  rural  (T.E.R.) porque o restante já está täo degradado e näo atractivo para nenhum turista,  ao menos que o  espaço agrícola  a sujeitar ao  set aside que seja de  utilidade turística   sem   perder   a qualidade agronómica, ecológica  e socio-cultural   ...   e genuínamente rural

A natureza é de tal forma generosa que mesmo depois de se  oferecer ao Homem dando-se na totalidade dos seus recursos renováveis e  näo renováveis    (como a rosa se dá toda no seu perfume), exploráveis  até  às entranhas ajudada pela detecçäo remota, ainda é capaz de oferecer  um surplus  de poder ser o
espaço   priveligiado
para  alimentar  a  sede  do homem de beleza visível

As cidades desumanizadas, foram elas também  que lançaram o  turismo,   transformaram  a cultura rural e tradicional em  folklore  de servir  no Hotel à hora do jantar, näo vá o turista perder tempo  a ir  contactar directamente com os locais, a populaçäo e  seus  costumes

AS åREAS AGRïCOLAS
(e seus habitantes)

SÄO RESPONSåVEIS por:


1 - Fixaçäo de forma concentrada ou dispersa das populaçöes
    Säo Povoamento
    conservando assim o património arquitectónico rural e tradicional ligado à habitaçäo, aos assentos de lavoura, ao património fundiário e bemfeitorias, bem como o que daí decorre de  artefactos  e  artesanato, de lendas e religiäo, de  Festas  e  de Romarias e, ainda, de diversidade de gastronomia regional e de linguajares
    Säo património histórico, geográfico, arquitectónico e cultural

2 - Produçäo de bens  agro-pecuários e florestais, sendo suporte da economia  nacional, diversificando-a, sendo ainda uma  espécie de exército de rectaguarda na ocupaçäo e protecçäo dos espaços e  da mais antiga forma de  os fazer produzir, sendo ao  mesmo tempo guardiöes e fiscais de actos indignos para com a natureza
    Säo independência nacional - ou menor dependência

3 - Conservar  a diversidade do património genético agropecuário  e florestal  regional - banco  de  genes natural  no local  próprio intervindo  ainda na conservaçäo da dinâmica  dos  ecosistemas naturais e cultivados e nos microclimas gerados
    Säo património natural

4 - Conservar o património faunístico autóctone e migratório dependente das culturas agrícolas e da flora regional
    Säo património mundial
5 - Conservar  os  espaços agro-silvo-pastoris  na  sua  harmoniosa interdependência  cuja sabedoria secular näo é  universitária, com entendimento ancestral do sentido de continuum naturale  e da sua inter-relaçäo agros-saltus-silva
     Säo património mundial

6 - Conservar  a saúde e beleza  das  paisagens que os rurais tratam ajardinando e os urbanos tratam a régua e esquadro

7 - Conservar  os mais belos  espaços de recreio e de silêncio
    Säo património mundial

8 - Diversificar  paisagens  e climas e  micro-climas  regionais  e locais  que  säo o suporte primário da identidade  regional  e nacional/  paisagística e até monumental, já que as  paisagens agrícolas säo também 
  património do mundo

9 - Conservar  viva  a  história  da paisagem e do país

10 - Conservar a raíz do Homem ancestral e mítico

11 - Conservar a qualidade do ambiente, do solo, da água, das fontes e das nascentes

12 - Conservar os vales como vales e as montanhas como montanhas nas suas  funçöes essenciais de geradores de caudais de  água,  de protecçäo  contra o fogo e contra a erosäo hídrica ou  eólica, mantendo  incólume  a drenagem natural do ar e  água  que  nos vales circulam

13 - Conservar as áreas de infiltraçäo e drenagem através da escolha das culturas, conservando ainda o seu grau natural de fertilidade

14 - Conservar  a cultura rural em  su sítio  e  a  vida  na  sua plenitude multifacetada

15 - Conservar    a     biodiversidade   natural e socio-cultural

16 - Conservar  o natural contra o artificial ou pelo menos  equilibrá-lo

17 - Conservar a identidade regional e nacional já que säo   a  História  nacional  na sua semente original em cada  espaço  bio-climácico


Pensamos  que  estas razöes  deveriam ser mais do  que  suficientes para  encarar a economia agrícola em funçäo de muitos mais  parâmetros, e de igual ou mesmo maior valor económico embora de difícil e directa mensuraçäo em cifrôes, dando lugar aos rurais que sentem  e amam a terra como näo acontece  na cidade, já que näo säo nem podem ser  exclusivamente industriais de produçäo contínua e em série  os dos  cash-crop, embora  à funçäo das áreas  agrícolas näo possam ser  indiferentes nem as  tecnologias nem a beleza

Assim  como o cientista da engenharia genética sente que já  violou os limites da ética que a vida exige, parece-nos que o homem urbano também violou o sentido do Campo e recusa entender e relacionar  as consequências, apesar de em 1992 cientistas de mais de 180 países - e de tantos ligados a mais do que 1500 NGOs, incluindo o Dalai-Lama e outros notáveis - se terem, como nunca e ao mesmo tempo, debruçado  sobre  os  problemas da  Terra e da sua esperança  de vida  -  apresentando resultados  comprovados  científicamente,  na Conferência mais importante do século, a ponta de ter sido  denominada Cimeira da Verdade  - cujo tema foi ambiente-desenvolvimento

Apetece  voltar  a citar Camöes como grande  renascentista  do  seu tempo, que tendo utilizado a mitologia para figurar a realidade geográfica  e  as forças da natureza,       apesar  da  sua má  fortuna,  confiava  no engenho e força do homem  para  renovar  e ampliar  o mundo

Citando Vitorino Nemésio a propósito do poeta

"pelo génio de Camöes participamos a fundo  na perpétua aventura do homem que se busca e justifica"


Estamos a necessitar de  uma II Renascença

que  traga  ao  Homem  ética planetária

sem o que será inútil falar em direitos  universais do homem

E  se a vida é uma eterna aventura de serviço  - que seja bem feito e "sirva" O HOMEM

E se Portugal teve gestos pioneiros na I Renascença, pode voltar a tê-los na II

4 - COISAS PARA PENSAR antes que o
            tempo ultrapasse o tempo ... ou ... uma Agenda 21 e uma
            Carta da Terra   ...  com Eco  em Portugal


Do meu ponto de vista concluo:


- näo há independência nacional com 75% de dependência alimentar
- näo há agricultura com ausência de responsabilidade por parte  da cidade  e  técnicos cuja formaçäo é a mais alta do  ensino,  incluíndo a investigaçäo que näo  pode sentar-se em Lisboa  porque näo  tem  os "milhares de microclimas do país", de  modo  a  dar resposta  aos problemas nacionais próprios à sua  ecologia,  incluindo a tradiçäo
- näo  há país com identidade nacional sem identidade  paisagística arrazando o socio-económico tradicional milenar do homem lusitano agarrado à terra
- haver  países sem fronteiras e com passaporte europeu,  näo  pode significar haver paisagens iguais pois iguais só no deserto 
- näo    turismo de qualidade sem a verdade  do  território,  dos espaços,  da  história e da cultura traduzidas nas  paisagens  e pelas  gentes  que as construíram, habitam e  säo  os  legítimos guardiôes e "fiscais por direito adquirido"
- se  o  homem  da cidade já possui a 2ª habitaçäo no  campo  ou  à beira-mar para fugir do stress da cidade e reencontrar-se com os ritmos da natureza (as suas raízes), näo faz sentido acabar  com os espaços e com quem sempre os entendeu e preservou em su sítio
- mesmo  que "os produtos" näo venham do Campo português, ele  será responsável por outro tipo de alimento que na cidade näo existe, e é nele que o homem da cidade sempre procura, mas que  näo lhe dá o direito de invadir e violar, como  se fosse casa sua, porque näo é - é rural dos rurais - e o stress näo é monopólio da cidade
- näo se vive de paisagens e áreas industriais e de eucaliptais.  O que  daí resulta deverá apenas acrescentar dinamismo, riqueza  e conforto à vida, em vez de a comprometer para todos, à custa  só de alguns
- mesmo a Suissa que se diz näo ter espaço agrícola, näo tem 75% de dependência alimentar do exterior territorial, nem devasta o que tem, sabendo conciliar o espaço agro-pastoril com o de  recreio, de  acordo com as estaçöes, conciliando usos múltiplos  sem  investir  cegamente em betäo e em brandoas, por mais  "mau  gosto" que  tenham,  já que aí preside pelo menos o  sentido  de  ordem rural e paisagística de há milénios
- näo há país se näo houver real ordenamento geral  das paisagens  de protecçäo e de produçäo  e,  destas, sem ordenamento cultural florestal e agrícola
- tanto  se  pode desertificar por ausência de água como  pela  sua acumulaçäo escessiva num local retirando a possibilidade da  sua existência distribuída homogeneamente, já que à partida a  chuva cai em todo o lado - até no "deserto"
- näo  säo milhares de milhöes de contos que fazem parar o  deserto e/ou  a pobreza, mas sim onde e como se empregam já que o  tempo dos  faraós näo só já terminou há muito, como os  seus  genuínos lugares säo já desertos de facto
- está escrito algures que desde a sua integraçäo na CEE,  Portugal foi o país que mais ambiente destruíu, em nome do desenvolvimento   e  que mais árvores abateu no mais curto  espaço  de  tempo (1986-1992)
- da CEE, Portugal é o único país que contempla na sua Constituiçäo o Direito ao Ambiente e Qualidade de vida - Foi pioneiro
- hoje  a responsabilidade de degradaçäo do ambiente e das fontes alimentares (solos - húmus  - água potável) näo é de um continente ou país, mas de cada cidadäo, embora com diferente grau de responsabilidade de acordo com a sua sensibilidade e grau cultural, sem  contudo poder já haver espaço para a ignoräncia porque é muito alto o preço a pagar
- o Homem, como a Terra,  säo entidades Holísticas

5 - Como   se   se   pudesse       
  concluir
  

Fazendo  apenas citaçöes de homens de grande pensamento, admirados pelo mundo, e que  defenderam utopias do seu tempo e realidades de hoje

Sakarov
Privado da sua História, o Homem entra em degradaçäo


Agni Yoga
A Nova Era só será construída através da cultura
Por isso se proclama cultura como a única defesa contra a  desintegraçäo
Hoje a luta é só esta
Mesmo que nos digam fanáticos, as pessoas ouvem e habituam-se
Assim se inaugura o Padräo da Inteligência

Hermano Saraiva (In: Revista Forum Estudante - Mr.1993)
Temos de optar entre governos catedráticos ou governos analfabetos; mas um governo de alguma coisa há-de ser: ou é de patos bravos,  ou é de capitäes-mores, ou é de catedráticos
As opçöes num país sem elites näo säo muitas e foi o caminho

C.K.Chesterton (In: "The Thing" pág.35)


If you don't see the use  of it, I certainly won't let
you clear it away

Go away and think

Then,  if you can come  back and tell me that you do see
the  use of it, I may  allow
you to destroy it

Recomendaçäo do Conselho da Europa

A conservaçäo do património arquitectónico deve ser considerado näo como um problema marginal mas como objectivo primordial da planificaçäo urbana e do ordenamento do território

Recomendaçäo da UNESCO

Cada  um  dos bens do patrinónio  cultural  ou natural é único
e o desaparecimento de um deles constitui uma perda definitiva e um empobrecimento irreversível dos patrimónios

Lisboa, 10 de Março de 1993      -   Maria Celeste d'Oliveira Ramos

 A N E X O S  
- Legislaçäo sobre Protecçäo do Ambiente
- Legislaçäo sobre protecçäo do Património
construido
- Projecto Corine
- åreas Protegidas