A partir de dados "sintetizados retirados do site www.sabor-livre" , acrescento o meu sentir sobre a condenação a que está há 10 anos sujeito o último rio que é ainda "paisagem fluvial" do país
Esta paisagem selvagem é uma área de vale que levou milhares de anos a desenvolver-se e encontrar estabilidade bio-dinâmica. A a ser construída a barragem tudo será destruído biótica e paisagisticamente.
É um santuário natural de plantas endémicas nas manchas calcárias e ultra-básicas e santuário ornitológico de que são exemplo a águia Bonelli, águia real, abutre do Egipto e cegonha preta, o que motivou a criação de Zona de Protecção Especial (ZPE) e de uma BIA (Important bird area, bird life international).
É ainda refúgio e corredor de espécies piscícolas cujas reservas de água serão contaminadas pela retenção de sedimentos e nutrientes, para além de ser área de grande diversidade de Habitats incluídos na Rede Natura e possuir os mais extensos e bem conservados azinhais e sobreirais de Trás-os-Montes
A ser construída a barragem o regolfo ocupará 50% da área de extensão do rio e fornecerá exclusivamente 0.6% de energia ao país, e sendo área habitada apenas por 43.682 pessoas (2004), à semelhança da vizinha barragem do Pocinho cuja população foi obrigada a sair ficando a povoação desertificada e a barragem em estado de abandono e deteriorada, suceder-lhe-á o mesmo
Não restarão áreas de exploração agrícola tradicional nem todos os bens culturais materiais e imateriais regionais que daí derivam.
Por mais económico que seja a construção da infraestrura não há equivalência na destruição da natureza e dos bens de exploração como o olival que produz, anualmente, 60 mil litros de azeite de alta qualidade.
Além disso provocará mais uma situação de imigração forçada das populações do Campo, desaparecendo, com eles, todas as manifestações milenares que foram assimilando e recriando gestos culturais de civilizações já desaparecidas, regionais, ligadas à música, aos artefactos e aos usos e costumes
As culturas agrícolas do Vale de Felgar serão irreversivelmente destruídas numa das zonas mais férteis de Trás-os-Montes
Enquanto os USA já iniciaram um programa de desmantelamento de barragens hidro-eléctricas, os decisores nacionais nada aprendem com o que se faz "lá fora" seja de novos projectos a implantar, seja a de renovação e restauro dos que já não fazem sentido ou deterioram o ambiente e as paisagens e a qualidade de vida das gentes
Desaparecerá igualmente a beleza natural já tão procurada pelo "Turismo de Natureza" e de SILÊNCIO e ar puro, desaparecendo assim mais um "bocado" de país e da grandeza dos habitantes que eventualmente demandarão as áreas litorais já super-habitadas, contra o interior que se despovoa e desertifica em nome de NADA
Perda regional, perda nacional e mundial porque todos os bens em perigo são património da humanidade e não apenas de um só país
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