A Cidade e o
Carnaval, festa de antecipação do Equinócio da Primavera
O homem vive dia a dia os
seus gestos quotidianos apercebendo-se de que são ritmados pelos ciclos do sol
e do dia, da lua e da noite e é também pelo sol que se apercebe do ritmo das
estações, o que o faz mudar os seus comportamentos nos períodos e ritmos de
trabalho mas também de férias, aproveitando o sol no pino de verão para
enxamear as praias um pouco por todo o mundo, podendo actualmente ir cada vez
mais longe com a profissionalização da organização da viagem, o desenvolvimento
dos transportes e das comunicações tornando o planeta cada vez mais pequeno e
mais perto.
Assim o homem atento aos
movimentos humanos aproveita-os para desenvolver economias algumas derivadas
das novas circunstância e regenerando outras que adormeceram ou mesmo se
extinguiram.
Focadas nas novas
"peregrinações" o turismo é sempre o maior provocador mas também o
responsável pela desmultiplicação de actividades económicas ligadas à cultura e
religião, ao desporto mais descomprometido ou de valor internacionalizado,
sendo que em paralelo nascem as indústrias do design e do vestuário específico
para as diferentes ofertas de férias, para além da promoção da agricultura e da
gastronomia locais e também renascimento de tradições.
Aproveitando o sol e as
praias ou as bancas montanhas da neve nos locais já consagrados ou nos que se
preparam, há uma imensa troca de usos e costumes pagãos e religiosos.
A distribuição do tempo de
férias passou a ser feita ao longo de todo o ano e ao longo do planeta
aproveitando-se também as festividades calendarizadas de cada país visitado
provocando no caminho reverso, o conhecimento de outras partes do mundo através
desses viajantes e ainda das mais modernas formas de comunicação e de
publicidade da "oferta aliciando o prazer de viajar para locais antes
exóticos" acordando lugares recônditos e esquecidos e que o "viajante
identifica" e passa a cartografar num espécie de outro mapa mundi do que de mais belo e interessante, e
diferente, o mundo oferece, tornando esses locais cada vez mais apetecíveis e
de que os mass media também se apropriam para divulgar,
para além de provocar também a publicação de livros de viagens, tornando tudo
mais fácil e acessível.
Quem diria assim que só a
partir dos meados do séc. XX estar queimado pelo sol deixou de ser sinal de
inferioridade social atribuída aos trabalhadores do campo e do mar passando
para o oposto como sinal de exibição das classes superiores "com o seu ar
de mais saúde no corpo e na bolsa" e que a partir daí também são agentes
de criação de novas economias de construção de transporte privado por terra ou
mar, passando o turismo de massas e de transporte colectivo a ser feito em meios
individuais de que os iates serão um exemplo notório, mas a que bem cedo a
indústria naval e turística respondeu com a oferta de verdadeiras cidades
flutuantes do mais luxuoso e inesperado, como se todos os ciclos da natureza
que provocam o movimento diário de cada homem se transmitisse aos seus actos
mais inesperados de criação contínua de riqueza e de bem-estar material a par
do bem-estar em tempo de descanso e de férias desbravando o planeta por terra e
pelo mar, movimento que não se confina nunca mais a um só país porque o homem
quer ir sempre mais longe ou ao mais fundo do mar.
No
solstício de verão o medo ocidental transformou-se em movimento económico,
cultural e lúdico a que mais tarde se seguiu em paralelo o desenvolvimento das
mais variadas indústrias ligadas ao solstício de Inverno com as Festas de Natal
e de férias na neve.
As festas cósmicas das 4
estações foram interpretadas pelos homens primeiro pelos ligados à exploração
da terra e do mar e posteriormente pelo homem urbano que acrescentou algo mais
para o seu desenvolvimento e mesmo aproximação humana de classes e de raças e
de linguajares, por sua vez redistribuindo mercados e saberes de que serão
"mensageiros" os homens de negócio.
No solstício de Verão a
terra culminou na sua oferta mais generosa de sol que tanto doira a nossa pele
como doira os frutos e lhe acrescenta perfumes, enquanto no solstício de
Inverno que culmina no Natal com nascimento de novo sol no coração do homem e
quando a terra está mais despojada porque também ela parece precisar de fazer o
seu descanso maior, mas continuando a formar o seu húmus para o período que se lhe
seguirá no equinócio da primavera, se também o homem "acumulou no verão
como a formiga bens para o Inverno", terá ainda a possibilidade de
usufruir da beleza da neve e da cultura dos lugares frios de oferta diferente
mas igualmente generosa, ciclos eternos do homem e da natureza cada vez
aproveitados de forma mais consciente, fechando ciclos, mas alargando-os a cada
vez mais homens e mais lugares, ao planeta inteiro que parece assim
"conquistado"
Mas entre estes grandes
ciclos equinociais e solsticiais, e os ciclos diários, há ciclos intermédios de
que o Carnaval é um deles e que constitui festa de antecipação do equinócio da
Primavera.
Calendarizado no mundo
ocidental, poder-se-ia dizer que são três dias de folia em que "nada
parece mal", espécie de limite de manifestação colectiva que fecha um
"ciclo de compromissos e de trabalho porque as férias também já ficaram
para trás" mas que imediatamente abre outro ciclo – o da Quaresma – , em
que outro tipo de recolhimento é pedido ao homem, diferente do que foi pedido
em tempo de Natal.
Do "excesso
carnavalesco" em que Carnaval significa despedir da carne (carne-aval),
passa-se ao oposto em que o homem religioso faz jejum e mesmo abstinência a
partir da quarta-feira-de-cinzas (redução a pó e nada), para se preparar
espiritualmente para a Páscoa da Ressurreição que se lhe seguirá, e se o corpo
físico foi preparado no verão e de energias renovadas, é agora a vez da
preparação espiritual durante 40 dias (os 40 dias que Cristo passou no Deserto
que segue à Epifania depois do natal e do Dia de Reis) até ao Domingo de Ramos
ou Domingo das Palmas em que cristãos e ortodoxos festejam a entrada de Jesus
em Jerusalém a anunciar a Paz no mundo se houver Paz em Jerusalém.
Os calendários mundiais das
festividades são os mais variados e focados na cultura e crenças locais havendo
porém alguns que são praticamente comuns a todos os homens essencialmente
ligados à religião como o Natal e Páscoa e o Carnaval, sobretudo no mundo
ocidental.
O Carnaval em Portugal tem
largas tradições por mais aculturado que tenha sido por outras culturas, e as
suas origens perdem-se nos tempos para além da nacionalidade pois que pode
remontar a milhares de anos, sobretudo em Trás-os-Montes, à cultura Celta,
parecendo actualmente revestir o "desígnio da alma e do prazer" tendo
no entanto por essência remota não apenas festejar o fim do Inverno mas também a morte (o pai
velho que se queima na fogueira para que possa nascer o Pai novo), como
antecipação do equinócio da Primavera de Abril.
O Carnaval é também
motivação de grandes fluxos turísticos internos e internacionais e também um
pico de dinâmica em vários sectores de actividade económica.
Ciclos e sub-ciclos do céu
e da terra, do homem e da cidade.
Lisboa e Bairro de Santo
Amaro
28 de Fevereiro de 2006
Maria.Celeste.d'Oliveira.Ramos
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